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Bolsonaro provoca guerra entre Trump e Lula com ‘Xandão’ pelo meio

Além do julgamento de Bolsonaro, a regulação sobre tecnológicas americanas ou os BRICS são os irritantes entre Brasília e Washington.
21 Julho 2025, 07h00

O nível de tensão entre Brasília e Washington está no seu nível máximo depois de o Governo de Trump ter proibido a entrada do juiz Alexandre de Moraes e família nos EUA, e também outros sete dos 11 juízes do poderoso Supremo Tribunal Federal (STF).

Lula da Silva considera a interferência de Trump na vida interna do Brasil como”inaceitável”.

“Nenhum gringo vai dar ordens a este presidente”, afirmou Lula em discurso esta semana.

A decisão de Washington de proibir as viagens foi uma represália por o presidente do STF, também conhecido como ‘Xandão’, ter decidido levar Jair Bolsonaro a julgamento acusado de ter conspirado para derrubar Lula em janeiro de 2023. Bolsonaro foi inclusivamente colocado em prisão domiciliária esta semana, usando uma pulseira no tornozelo, para evitar fugas.

Trump considera que existe uma “caça às bruxas” em curso contra Bolsonaro e tem defendido o fim das acusações.

Recentemente, anunciou tarifas de 50% contra bens brasileiros (conhecidas por ‘tarifaço’ no Brasil) a partir de 1 de agosto, tendo criticado o julgamento.

Lula da Silva respondeu no sábado à proibição do Ministério dos Negócios Estrangeiros dos EUA: “nenhuma forma de intimidação ou ameaça, de ninguém, vai comprometer a missão mais importante dos poderes e instituições do Brasil, que é a defesa permanente das regras democráticas e da lei”, afirmou, citado pela “Reuters”.

O Nobel da Economia Paul Krugman considerou as tarifas sobre o Brasil “ilegais”, defendendo que deviam ser disputadas em tribunal, por não se enquadrarem em nenhuma situação especificada na lei.

Um “fator complicado no confronto Brasil-EUA é a singularidade do STF. Não há nenhum igual no mundo: pode abrir investigações, ser um tribunal e julgar políticos e os juízes individualmente tem muitos poderes”, comentou Brian Winter, especialista na América Latina.

“O tribunal não está acima da política, mas opera independentemente – quase como uma fortaleza. Não vai responder a pressões externas, quer sejam executivas ou uma potência estrangeira. Isto torna tudo mais imprevisível. Não vejo uma redução [da tensão] no curto prazo”, acrescentou.

Brasília tem estado em conversações com os setores industriais e empresas que serão afetados pela medida. Também prepara medidas retaliatórias se as conversações falharem.

Além de Bolsonaro, a regulação e taxação das tecnológicas norte-americanas também é um dos irritantes entre os dois países.

O Governo Lula defende medidas para travar a onda de ‘fake news’ e de violência nas redes sociais.

Na mira do STF também está a ação do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, que agora vive nos EUA.

O STF considera que o envio de 2 milhões de reais do pai para o filho serviram para fomentar a interferência na ação do STF.

As postagens realizadas e a vultosa contribuição financeira encaminhada a Eduardo Bolsonaro são fortes indícios do alinhamento do réu Jair Messias Bolsonaro com o seu filho, com o claro objetivo de interferir na atividade judiciária e na função jurisdicional desta Suprema Corte”, segundo o documento do tribunal citado pelo “G1”.

Alexandre Moraes considera que as “graves condutas ilícitas” de Jair Bolsonaro comprovam que está a atuar em “conjunto” com o filho nos “atentados à soberania nacional”.

A casa de Jair Bolsonaro foi alvo de buscas na sexta-feira depois de ter dito no dia anterior que o “tarifaço” de Trump terminaria se fosse alvo de uma amnistia. O STF considerou que esta é uma tentativa de atrapalhar o julgamento do golpe de janeiro de 2023.

O ministro dos Negócios Estrangeiros dos EUA disse que o “presidente Trump deixou claro que o seu Governo responsabilizará estrangeiros responsáveis pela censura da liberdade de expressão protegida nos Estados Unidos”.

“A caça às bruxas política do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, contra Jair Bolsonaro criou um complexo de perseguição e censura tão abrangente que não apenas viola direitos básicos dos brasileiros, mas também estende.se além das fronteiras do Brasil, atingindo os americanos”, disse Marco Rubio.

Outro dos motivos apontados pela guerra contra Lula, foi a recente reunião dos países BRICS (que reúne vários países do Sul Global, como o Brasil, Índia ou África do Sul, mas também a Rússia e a China) no Rio de Janeiro, mas onde não estiveram presentes os líderes russo e chinês, Vladimir Putin e Xi Jinping, respetivamente.

Lula da Silva tem defendido uma moeda alternativa ao dólar para o comércio internacional, uma ideia que Trump abomina, defendendo a liderança global do dólar, contra a desdolarização do mundo.

“Qualquer país que fizer parte dos BRICS vai receber uma tarifa de 10%, apenas por esse motivo”, ameaçou Trump recentemente.

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