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BPF aprovou “mecanismo de ajustamento de capital nas SGM que permitirá recompra célere de ações”, diz CEO

As empresas que beneficiam de créditos com garantia mútua têm de se tornar acionistas da Norgarante até ao fim do empréstimo, altura em que é chamada a recomprar as ações próprias. O problema é que os limites legais à compra de ações próprias (10%) impediam a celeridade no processo. Gonçalo Regalado, CEO do BPF, revela que já há solução para as empresas reverem o dinheiro.
26 Fevereiro 2025, 07h00

Gonçalo Regalado é o novo presidente da Comissão Executiva do Banco Português de Fomento e apresentou, na semana passada, o Plano de Ação cuja finalidade é transformar o Banco Soberano de Portugal no melhor banco de empresas do sistema. Este foi o pretexto para o Jornal Económico falar com o novo CEO do banco promocional, para a rubrica semanal “Decisor da semana”.

O novo CEO, escolhido pelo Ministro da Economia, Pedro Reis, quer fazer do Banco Português de Fomento a nova avenida do investimento económico em Portugal. O que, em resumo, quer dizer um Banco de Fomento que seja um instrumento nas garantias com 14,6 mil milhões de euros, o que representa 5% do PIB, mas também que tenha as parcerias certas com o FEI e com o BEI e mobilize os 6,5 mil milhões de euros, um instrumento para que toda a banca comercial tenha acesso e não só os cinco maiores bancos.

Quer que o BPF seja o banco da capitalização, com 2 mil milhões de euros de instrumentos de capital ao serviço das empresas, que seja o braço dos fundos europeus, no PRR e no PT 2030, para ajudar a economia a acelerar o investimento. Por outro lado, quer que o BPF seja o banco do investimento, permitindo o acesso ao investimento estrangeiro em Portugal e ao investimento português no estrangeiro. “Para que se consiga, com o programa Global Gateway da UE e com as parcerias bilaterais, com os diferentes Estados, construir capacidade em termos de investimento internacional em Portugal e investimento português no mercado global”, as palavras são suas.

Gonçalo Regalado quer, em resumo, que o BPF se torne num banco de fomento para as garantias, para o capital, para os seguros de crédito, para o financiamento e para os fundos imobiliários.

Promete ainda apresentar os resultados do banco trimestre a trimestre, como um banco comercial. A ambição é muita e a vontade transparece no entusiasmo da sua apresentação.

O CEO do banco promocional conta com uma experiência importante na banca comercial; era antes Diretor de Marketing para empresas e PME do Millennium BCP, sendo responsável pela segmentação de clientes, gestão de produtos, financiamento da cadeia de fornecimento, programas de fundos europeus e soluções bancárias à medida para clientes empresariais.

Acredita que vai conseguir moldar o BPF aos desígnios que descreveu até 2027? Ou, por outras palavras, quanto tempo demora até transformar o BPF na nova avenida do investimento económico?

O Banco de Fomento vai ter uma velocidade de resposta e uma capacidade de serviço compatível com as exigências das empresas e com as ambições dos empresários. O Banco de Fomento tem a multiplicidade de soluções comerciais que podem apoiar as empresas a viabilizar os seus projetos de investimento com capital de investimento, financiamento e garantias financeiras. É nosso desígnio que o Banco de Fomento seja o motor financeiro do investimento das empresas, ao serviço da economia e em estreita parceria com os empresários. O Banco de Fomento é o colateral financeiro da economia portuguesa.

Ouvimos na apresentação do plano de ação do BPF que “o apetite pelo investimento em Portugal é muito positivo” e “somos o país da Ibéria mais seguro para investir”. Mas e a burocracia, as entropias diversas que sempre foram motivos de queixa, deixaram de existir? Não tem medo que continuem a ser obstáculos ao desígnio do Banco de Fomento?

O desígnio do Banco de Fomento é servir as empresas e apoiar a economia portuguesa. Apontamos um Banco de Fomento que seja um Banco Soberano por Portugal, com impacto real no investimento, na formação bruta de capital fixo, nas exportações, no emprego e na criação de valor na economia. Portugal tem empresários de excelência e empresas de qualidade top of the edge mundial e merece ter um Banco Soberano à dimensão da performance dos empresários e da economia. Esse é o nosso desígnio: construir um Banco de Fomento das empresas à qualidade dos empresários do nosso país. Foram os empresários e as empresas, com competência, com resiliência, com inteligência e com muito trabalho, que retiraram Portugal de 4 crises nos últimos 15 anos (crise das dívidas soberanas, crise do COVID, crise da inflação e crise da guerra). O Banco de Fomento é um banco parceiro das empresas!

No passado, foi dito que a oferta do Banco de Fomento é cara para as empresas e que o modelo retalhista está atolado em requisitos burocráticos. Chegou a haver queixas de PME com dificuldades de acesso às Linhas de Garantia BPF InvestEU. Essa página vai ser definitivamente virada?

O Banco de Fomento está a simplificar os seus processos com uma capacidade de digitalização que permita simplificar as candidaturas das empresas. Está construída uma parceria estratégica com a AMA – Agência para a Modernização Administrativa, para que os documentos que já estão na esfera do Estado não sejam requisitados, repetidamente, aos empresários nos seus processos de candidatura. Além disso, estamos a rever o preço das garantias financeiras do Programa BPF InvestEU, de forma a que as comissões de garantia sejam mais competitivas para as empresas. O Banco de Fomento será um banco ágil e competitivo!

As empresas que beneficiam de créditos com garantia mútua têm de se tornar acionistas da Norgarante até ao fim do empréstimo, altura em que a sociedade é chamada a recomprar as ações próprias. Mas, nas empresas que beneficiaram de empréstimos com garantia mútua, o tempo de espera do reembolso através da recompra de ações superou muito os 12 meses e as empresas, geralmente PME, sempre necessitadas de liquidez, ficaram sem acesso ao dinheiro. A explicação da Norgarante na altura é que os limites legais à compra de ações próprias (10%) impediam a celeridade no processo. Já há soluções?

Sim. Na semana passada, foi aprovado um mecanismo de ajustamento de capital nas Sociedades de Garantia Mútua que permitirá a recompra de ações. Com esse modelo, teremos capacidade de recomprar as ações às empresas e resolver este alongamento para com os empresários. É nosso objetivo que este tema esteja resolvido com brevidade.

Prometeu desenvolver um banco digital, utilizando tecnologia como alicerce para promover o desenvolvimento económico e social através de soluções financeiras especializadas para as empresas. O Banco de Fomento vai ter uma app para as operações com as empresas? Que tipos de operações podem ser feitas online? Há um calendário para a digitalização do Banco de Fomento?

O Banco de Fomento é um parceiro dos bancos comerciais e a colocação dos seus instrumentos de garantia continuará a ser efetuada pelos bancos comerciais, numa parceria de sinergia, confiança, digital e serviço. O Plano Digital do Banco de Fomento enquadra 3 pilares: a fundação e inovação com a construção dos laboratórios de inovação digitais, com a implementação de metodologia ágil, com a ativação de infraestruturas tecnológicas e com a implementação de software low code; a criação de experiência de cliente com eficiência operacional, tecnologias de automação e GEN AI que nos permitam ter modelos preditivos de negócio; e a construção de um Banco Digital com serviço às empresas, com site dedicado, app e serviços remotos com capacidade de decisão just in time. Estes 3 pilares começam já e terão entregas programadas ao longo do mandato. Começamos pelas garantias, avançamos para os instrumentos de capital, seguimos para os seguros de crédito e concluiremos com os fundos de investimento imobiliário que são as oportunidades para as empresas que queremos ter em solução online e digital. O Banco de Fomento será um Banco Digital de excelência!

Disse que a maioria das empresas em Portugal quer fazer investimentos em Portugal com financiamento e não com partilha de capital. Isso não é um entrave à consolidação das empresas? Como está a correr o Programa Consolidar?

A economia portuguesa precisa de escala e de investimento para ser ainda melhor na competitividade e no mercado internacional. Para isso, o papel dos Fundos de Capital de Investimento é essencial para criar operações de sinergia e partilha que nos permitam criar empresas com maior escala, melhor eficiência e acesso ao mercado internacional. O Programa Consolidar tem uma dotação de 500 milhões de euros, dos quais estão contratados 488 milhões de euros e já estão 194 milhões de euros desembolsados nas empresas. Confiamos na capacidade de execução dos Fundos de Capital de Investimento para entregarmos a execução destes investimentos no ano de 2025.

Concorda com o Relatório Draghi quando diz que faltam dimensão às empresas europeias? Fusões e aquisições é o caminho para a competitividade? O BPF pode ajudar?

Concordo que falta escala à economia europeia e que a competitividade europeia sai sacrificada quando comparamos a performance europeia com os outros blocos mundiais. Os modelos de fusão e aquisição são uma das soluções, mas não são a única. Há capacidade de crescimento orgânico e sucesso na economia europeia em que os fundadores das empresas conseguem construir empresas globais. O Banco de Fomento tem instrumentos para capitalização de empresas que totalizam 1,7 mil milhões de euros com parcerias com o PRR, com o FEI e com o Estado que estão disponíveis para investimento reprodutivo e multiplicativo da economia.

“Seremos ainda um braço de apoio ao investimento de muito longo prazo, a 15 a 20, a 25 anos, que por definição são desenhados pelos bancos de desenvolvimento”, quer explicar melhor?

O Banco de Fomento é o banco de desenvolvimento nacional que tem a responsabilidade de ter soluções para os investimentos de longo prazo. São exemplos desses investimentos de longo prazo a habitação pública, algumas infraestruturas públicas, o desenvolvimento de raiz de algumas infraestruturas de clusters económicos ou o apoio do financiamento e atração de investimento direto estrangeiro, sempre em parceria com os líderes destes setores. O Banco de Fomento é o Banco Soberano que deve cumprir os desígnios de política económica e política pública de investimento em Portugal. O Banco de Fomento tem que ser o Banco Soberano do longo prazo!

Hoje o FEI já tem contrato com cinco grandes bancos (FEI Invest EU). Anunciou que vão permitir que nos 6.500 milhões haja 3.250 milhões para permitir aos bancos médios terem acesso pela primeira vez às garantias do FEI e disse que a ambição é ter entre 10 e 12 bancos ao serviço das empresas com garantias do FEI que terão as mesmas condições, o mesmo pricing, o mesmo modelo de monitorização que os grandes. Mas diz-se que a banca comercial nunca achou estas linhas muito atrativas pois têm acesso ao financiamento direto do BEI/FEI. Antevê sucesso neste alargamento do leque de bancos? Já estão a operacionalizar essa medida? Para quando? Qual a vantagem para as empresas? Quais os bancos médios que serão contemplados?

O Governo de Portugal decidiu inscrever 450 milhões de euros no Member State Compartment do Programa da Comissão Europeia FEI Invest EU. Com essa dotação, estamos a construir um portfólio de garantias europeias, exclusivamente dedicadas às PMEs portuguesas, de 6.500 milhões de euros de financiamento para o investimento. A procura dos bancos comerciais a operar em Portugal foi de 18 mil milhões de euros, pelo que há interesse dos bancos comerciais e força da economia portuguesa para prosseguir o investimento das empresas com estas garantias do FEI Invest EU. O país tem a possibilidade de colocação destas garantias ao investimento até 2029, pelo que teremos tempo para implementar com qualidade o programa. Com esta dotação de 450 milhões de euros, aos indicadores de hoje, Portugal fará o país #3 da Europa na dotação, mas seremos o país #1 da Europa no montante de financiamento e o país #1 da Europa no investimento das empresas.

O BPF tem atualmente um braço de capital, a Portugal Venture (capital de risco); um braço de fundos de investimento imobiliário com a Fomento Fundos, e tem hoje o braço das garantias com a Garantia Mútua que vão ser fundidas. O Ministro da Economia tinha admitido a extinção da Portugal Ventures, sociedade pública gestora de fundos de capital de risco, dizendo que “é um dos cenários que tem de se colocar”. Concorda? Ou a Portugal Venture vai continuar a ser um braço importante do Banco de Fomento?

O Banco de Fomento apresentará a sua estratégia de capital e conta com a Portugal Ventures para ser um instrumento de investimento nas empresas portuguesas, aprendendo com as lições do passado e melhorando a sua performance no presente com uma visão de futuro. Precisamos de uma Portugal Ventures como base do ecossistema de inovação, como solidez do ecossistema de start-ups e como braço de investimento do empreendedorismo. O Banco de Fomento tem que ser um cluster de inovação para a economia portuguesa e para os empreendedores.

Foi diretor de Marketing para empresas e PME do Millennium BCP. De que modo a sua experiência pode ajudar o Banco de Fomento a ser o “melhor banco das empresas”?

Nos últimos 10 anos, eu ajudei a construir o Banco Líder de Empresas em Portugal no Millennium BCP. Hoje, é o tempo de construir o Banco Soberano de Portugal que sirva as empresas, defenda os empresários, apoie o investimento e crie uma economia sustentável.

Ser presidente do Banco de Fomento pode ser o maior desafio da sua carreira?

Ser presidente do Banco de Fomento é a maior honra do meu serviço como cidadão ao meu país. É uma missão por todos, pela nossa economia, pelos nossos empresários e pelas nossas empresas.

Em que citação se revê?

Achieve as high as you believe.

Quais os seus hobbies?

Ler muito, correr longe, viajar com frequência e respirar em Portugal.

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