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BPI perde oito milhões com exposição aos fundos de recuperação da ECS

O BPI registou imparidades de 11 milhões de euros com a sua participação em Fundos de Reestruturação, por imposição dos auditores. Este custo refletiu-se nos resultados de operações financeiras. O BPI teve uma queda do produto bancário apesar da subida da margem financeira de 3,4%. O pior continua a ser o rácio de eficiência do banco.
Cristina Bernardo
4 Novembro 2019, 15h53

O BPI registou imparidades de 11 milhões de euros com a sua participação em Fundos de Restruturação, cuja maturidade, segundo explicou o CEO do BPI, Pablo Forero, em conferência de imprensa de apresentação dos resultados, têm em média uma maturidade até 2025.

Os resultados em operações  financeiras ascenderam a um milhão de euros incluem nas contas do terceiro trimestre, perdas em fundos de recuperação de 11 milhões de euros.

Destes 11 milhões de euros, segundo explicou fonte do banco à margem da conferência de imprensa, a maioria são perdas com os fundos geridos pela ECS, de António de Sousa, mais precisamente oito milhões de euros.

Pablo Forero explicou que as imparidades com as unidades de participação nestes fundos são determinadas pelos auditores, mas que a expoisção do BPI a estes fundos é baixa, ronda os 100 milhões de euros. Cerca de metade, 50 milhões são investimentos em fundos de recuperação da ECS, disse ao Jornal Económico fonte do banco.

Mas o BPI tem ainda participações no fundo gerido pela Oxy Capital.

O CFO do BPI explicou à margem da conferência de imprensa que o banco teve de registar uma imparidade pela participação na Exponor, por exigência dos auditores, de 3 milhões de euros, pelo que o valor da participação passou de 7 milhões para 4 milhões no balanço do banco.

O Banco BPI detém unidades de participação em fundos  especializados de recuperação de créditos (Fundo de Recuperação, FCR e Fundo de Reestruturação  Empresarial FCR) subscritas por contrapartida da  cedência de créditos a Clientes àqueles fundos.

Segundo o relatório e contas do BPI de junho, portanto há um trimestre atrás, o capital subscrito pelo BPI nos Fundo de Recuperação (gerido pela ECS) e Fundo de Reestruturação Empresarial  (gerido pela Oxy Capital) ascendia a 96 milhões de euros. O capital realizado pelo BPI ascendia a 87,3 milhões de euros (84,3 milhões no Fundo de Recuperação – FCR e 3 milhões no Fundo de Reestruturação Empresarial – FCR). A exposição líquida a estes fundos, após reavaliação, era de 44,1  milhões de euros.

O Fundo de Recuperação é gerido pela ECS e realiza investimentos em empresas em dificuldades financeiras, cujos créditos junto do Estado Português ou de instituições financeiras já tenham sido objecto de imparidade ou se antecipe que o venham a ser no curto prazo, podendo investir um máximo de 10% do capital numa única empresa. Este fundo (com maturidade em 2024) é dono, entre outros ativos, da Tagus Gás.

Atualmente os investimentos em unidades de participação dos fundos ponderam a 150% no rácio de capital dos bancos pelo que os bancos têm interesse em que os fundos vendam os ativos o mais depressa possível.

Tal como no caso do malparado a supervisão bancária também quer que o bancos reduzam, o mais depressa possível, a exposição a estes fundos de reestruturação, que no passado foram muito úteis para retirar do balanço créditos incobráveis que estavam colaterizados por ativos.

A CGD, BCP, BPI, Novo Banco, Santander, Montepio, Parvalorem (BPN) e Banif (hoje Oitante) são as instituições financeiras que transferiram ativos problemáticos para Fundos de Reestruturação em troca de unidades de participação desses fundos. Na altura era visto pela supervisão bancária como “uma boa ideia”, porque permitia aos bancos retirar dos seus balanços uns ativos (imobiliário, turismo, e outras empresas), que tinham entrado no balanço dos bancos por incumprimento de crédito. Em troca, os bancos recebiam unidades de participação desses fundos, que passavam a ser contabilizados como ativos financeiros. No entanto a independência da gestão que foi uma exigência do regulador deixa os bancos à mercê da vontade das sociedades gestoras para decidir o prazo da venda de ativos.

BPI com resultado em queda por causa dos lucros extraordinários de 2018

O BPI teve um lucro consolidado de 253,6 milhões de euros em setembro de 2019, o que traduz uma queda anual de 52%, mas esta queda inclui um impacto de 160 milhões de euros, por operações não recorrentes, em 2018, na atividade em Portugal. Nomeadamente a apropriação dos resultados do BFA que deixou de fazer um vez que o banco passou apenas a contabilizar os dividendos que recebe do banco angolano onde detém 48%. Mas também a reversão de impostos diferidos passivos de 51 milhões de euros. Isto porque o banco tinha constituído uma provisão para a eventualidade de ter de pagar impostos em Angola, como afinal não tem de pagar impostos, reverteu a provisão. Mas os resultados extraordinários de setembro de 2018 incluem ainda 163,3 milhões de encaixe com a venda de subsidiárias ao CaixaBank e ainda da venda da participação na Viacer.

Em Portugal o lucro foi de 152,8 milhões de euros.

A grande notícia do BPI da temporada é a subida da margem financeira de 3,4% num ano, para uma receita de 326, milhões de euros, particularmente relevante numa conjuntura de taxas de juro negativas.

O BPI conseguiu esta proeza com o aumento de crédito a empresas (mais volume da margem), mantendo os spreads e através de uma nova composição do portfólio de crédito concedido. “Estamos a aumentar o crédito pessoal e reduzir o antigo crédito à habitação com spreads muito baixos e a aumentar o crédito à habitação com novos spreads”, explicou o CEO do banco.

As comissões, outra rubrica do produto bancário, caíram 4,5% para 192,5 milhões, mas aqui há que ter em conta que o BPI tinha em setembro de 2018 comissões com negócios de cartões, acquiring e de banca de investimento que foram depois vendidos ao Caixabank e portanto o banco espanhol é que passou a receber essa receita. Sem este efeito teria subido 9%, disse o CEO.

Os resultados de operações financeiras caíram 52,6% aqui estão incluídas as perdas com os fundos de restruturação. Com tudo isto, o produto bancário caiu 11,8% para 530,3 milhões, sem os itens extraordinários a recita do banco tinha caído menos, 2,1%.

No balanço o BPI disse que nos dois últimos trimestres o mercado de crédito à habitação melhorou em Portugal. O banco viu o crédito a particulares subir este ano 1,4%, mas graças sobretudo ao crédito pessoal que subiu 12% nos primeiros nove meses. O crédito a empresas subiu 2,8%. Destaque para o crédito ao setor público que avançou 10,9%.

O banco vangloriza-se de ser o líder no setor agrícola em Portugal, que considera estratégico. Outro setor estratégico é o turismo e o BPI quer conquistar mais quota de mercado aqui. A carteira de crédito em Portugal aumentou 602 milhões nos primeiros 9 meses do ano (+2,6%).

O custo do risco do crédito continua a comparar bem com o sistema e em setembro ficou em -0,10% da carteira de crédito bruto e garantias. Isto é, o custo é negativo por causa das reversões de imparidade de crédito de 7,6 milhões e recuperações de crédito anteriormente abatido ao ativo de 11 milhões de euros.

O rácio de NPE (malparado) é de 3,2% em setembro de 2019. Já o rácio de cobertura por imparidades acumuladas no balanço para crédito e garantias (sem colaterais) é de 53%, e a cobertura por imparidades e colaterais é de 124%.

O rácio de crédito duvidoso, nome que o BPI dá aos NPL, é de 3,8% do total da carteira. O BPI anunciou ainda a subida de 7% num ano dos utilizadores regulares de banca digital (para 666).

O maior problema do BPI continua a ser o rácio de eficiência que em Portugal é um dos piores do sistema. Em setembro fixou-se em 60%. Para reduzir este rácio, Pablo Forero diz que tem de ser do lado dos custos.

O BPI fez uma recomposição do seu rácio de capital, para passar a acomodar instrumentos de Tier 1. Agor ao rácio tem core capital, tier 1 e tier 2, o que é mais barato para o banco. Assim distribuiu 150 milhões de reservas livres (core capital) e emitiu 275 milhões de títulos Additional tier-1 (AT1). Por isso agora o rácio de capital total é de 15,9%; o rácio de Tier 1 é de 14,2% e o rácio de Common Equity Tier 1 é de 12,7%.

O banco faz questão de afirmar-se como banco com uma política social. No total dos cinco prémios BPI “La Caixa”, o valor investido para apoiar projetos de instituições privadas sem fins lucrativos soma 3,75 milhões de euros.

(atualizada – corrige referência ao Fundo Discovery da Explorer)

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