Como a vida quotidiana se encarrega de mostrar, não está fácil ao Brasil cumprir as duas palavras que constam na sua bandeira, pois a ordem e o progresso são caraterísticas em vias de extinção no país do Carnaval e do futebol.

Na verdade, como falar de progresso num país que, malgrado a riqueza de recursos, apenas ocupa o 79.º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)? Uma posição a meio da tabela mundial, mas bastante modesta, pois até no continente sul-americano é superada por quatro países: Chile, Argentina, Uruguai e a Venezuela de Chávez.

Além disso, o IDH – 0,759 – desce para um valor apenas minimamente positivo – 0,578 – se for feito o ajustamento decorrente das desigualdades existentes na sociedade brasileira, tanto no que concerne ao rendimento como à educação e à saúde. A constatação de que o programa petista das bolsas apenas funcionou como paliativo.

Quanto à ordem, mesmo ressalvando que se trata de uma palavra mais ao gosto dos regimes não-democráticos, é uma raridade no Brasil. Dados não faltam para comprovar a desordem instalada. Por isso, não admira que na lista das 50 cidades mais violentas do mundo, mais de um terço – 17 – sejam brasileiras. Violência que está a crescer em cidades outrora pacatas e que não dá sinais de abrandar nas grandes metrópoles. Só no estado do Rio de Janeiro, em 2017, foram assassinadas mais de 18 pessoas por dia.

Violência que chegou à campanha presidencial e não apenas na tradicional forma verbal. O candidato do Partido Social Liberal (PSL), Jair Bolsonaro, foi vítima de um atentado que lhe entreabriu as portas da morte.

Sendo sobejamente conhecidas as suas posições autoritárias no que concerne aos problemas que afligem a sociedade brasileira, não será difícil prever uma radicalização do discurso quando retomar a campanha. Mais uma acha para a fogueira socialmente divisionista que lavra no Brasil. Um país de sistema presidencialista onde o poder executivo convive mal com o judicial. Uma situação que aumenta o fosso fraturante a nível da opinião pública. Daí as reações tão extremadas ao impeachment de Dilma e à condenação de Lula.

Brasil onde a corrupção campeia. Por isso, mais de metade dos membros do Senado está a contas com a justiça. Um retrato pouco edificante e que ajuda a perceber a persistência de enormes assimetrias regionais e disparidades sociais. Uma situação socialmente explosiva.

Assim, os candidatos que parecem melhor colocados para passar à segunda volta das presidenciais, Bolsonaro e Haddad, o herdeiro fabricado por Lula, são também aqueles que suscitam maior rejeição. Quase 80 milhões de brasileiros não aceitam nenhum deles. Uns não esquecem a corrupção decorrente da ética camarada dos governos do PT. Outros não desejam a descaraterização da Constituição através de uma revisão que restrinja as liberdades.

Como decorre de uma história que o Brasil bem conhece, a imagem de uma sociedade antagonizada em dois blocos abre caminho ao populismo ou à intervenção militar na vida política. Qualquer um deles prometendo a ordem e o progresso. Por esta ordem.