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Brasil prioriza clima, reforço de moedas locais e reforma de instituições nos BRICS

Depois de chefiar o grupo do G20 em 2024, o Brasil assume no primeiro dia de 2025 a presidência dos BRICS, termo criado por um analista da Goldman Sachs sobre economias emergentes, e fundado em 2006 pelo Brasil, Rússia, Índia e China, juntando-se a África do Sul em 2011 e este ano o Egito, o Irão, os Emirados Árabes Unidos e a Etiópia.
31 Dezembro 2024, 09h45

O combate às alterações climáticas, a utilização de moedas locais, a inteligência artificial e o reforço na integração dos novos membros são prioridades da presidência brasileira dos BRICS, disse à Lusa fonte oficial.

Em entrevista à Lusa em Brasília, o embaixador Eduardo Saboia, negociador-chefe dos BRICS em 2025, disse que a utilização de moedas locais tem como objetivo “reduzir custos de transação, para incentivar ou promover o comércio e o fluxo de investimentos”.

Em relação à possibilidade de utilização destas moedas, para fazer face à dependência do dólar, uma ideia já levantada este ano pelo Presidente brasileiro, Lula da Silva, o futuro Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que os chamados países BRICS serão punidos com uma tarifa de 100% se tomarem medidas para minar o domínio do dólar no sistema financeiro mundial.

Sem mencionar a ameaça de Trump, Eduardo Saboia frisou que “os países do BRICS são grandes detentores de reservas em dólar”.

“Então, seria uma estupidez tentar trabalhar no sentido de confrontar isso”, sublinhou, considerando, contudo, que “a diversificação de reservas é uma coisa que acontece no mundo e essa discussão é legítima”.

“O uso de moedas locais, você reduzir os custos de transação, isso é uma coisa da eficiência económica, da lógica, até diria do capitalismo. Você ter concorrência, você ter eficiência”, reforçou o diplomata brasileiro.

Depois de chefiar o grupo do G20 em 2024, o Brasil assume no primeiro dia de 2025 a presidência dos BRICS, termo criado por um analista da Goldman Sachs sobre economias emergentes, e fundado em 2006 pelo Brasil, Rússia, Índia e China, juntando-se a África do Sul em 2011 e este ano o Egito, o Irão, os Emirados Árabes Unidos e a Etiópia.

Em 2025 está prevista, mas não confirmada, a entrada de países como Turquia, Indonésia, Nigéria, Argélia, Bielorrússia, Cuba, Bolívia, Cazaquistão, Vietname, Tailândia, Malásia, Uzbequistão e Uganda, como estados membros associados, consolidando o bloco como voz relevante do Sul Global.

Agora, depois deste alargamento e da previsão da entrada de novos parceiros, o objetivo da presidência brasileira passa por ‘arrumar a casa’.

“Ajudar a integrar os novos membros, com outros países parceiros e estabelecer alguns parâmetros, áreas que precisam de mais reuniões ou de mais atenção”, disse.

Tal como aconteceu na presidência do G20, o Brasil vai procurar, agora no âmbito dos BRICS, impulsionar a reforma da governança global para aumentar a representatividade do Sul Global em instituições internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Organização Mundial de Saúde (OMS), num objetivo que passa por corrigir assimetrias geopolíticas, através da distribuição mais representativa dos poderes garantindo que países emergentes tenham mais voz nas instituições internacionais.

No caso do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador brasileiro reforçou que “é o pilar do sistema internacional”, pela “faculdade de autorizar o uso da força, de aplicar sanções”, mas onde existe “uma assimetria que é flagrante”.

“À medida que você tem um mundo em que você tem países emergentes, com populações expressivas, com visões próprias e independentes, o Conselho de Segurança fica mais obsoleto”

Mas não só: há que “defender que as instituições do Banco Mundial, FMI, não sejam dirigidas sempre por um europeu, um americano” e que sejam concedidos “empréstimos mais honestos”.

As alterações climáticas também serão uma das mais relevantes prioridades brasileiras, até porque em novembro a cidade amazónica de Belém acolhe a Cimeira do Clima de 2025, dez anos após o Acordo de Paris, numa altura em que os impactos da crise climática são cada vez mais visíveis.

“Acho que, na última COP, no Azerbaijão, ficou pendente uma tarefa de lidar com a questão financeira. O volume de recursos anunciado é muito inferior àquilo que é necessário”, considerou Eduardo Saboia, frisando que “essa discussão precisa estar no BRICS”, levando em conta que “são países com circunstâncias diferentes”.

“Há países com estruturas de petróleo, países com matrizes energéticas limpas, como é o caso do Brasil”, afirmou.

A cimeira de líderes deverá ocorrer em julho e os trabalhos serão centrados no primeiro semestre do ano porque, a partir daí a diplomacia brasileira deverá centrar os seus esforços na COP30.

Sobre a guerra entre a Ucrânia e a Rússia (um dos países que pertence aos BRICS), a presidência brasileira vai optar por não priorizar esta matéria na sua agenda oficial, disse Saboia.

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