ra o último dia de aulas antes da pausa letiva de Natal e passagem de ano. Com mais ou menos fé na simbologia religiosa deste período festivo, uma turma reuniu-se para me entregar duas das mais significativas oferendas que aceito receber: chocolates (gulosa me confesso e a balança também!) e, muito mais relevante, um postal com curtas mensagens manuscritas pelas três dezenas de finalistas de Comunicação e Relações Públicas, do Politécnico da Guarda.

De tão determinante que foi, dedico-lhes a crónica desta semana a partir da questão: “O que é ser Professor/a nesta contemporaneidade?” Cada mensagem é um pedacinho de mim que ficou em cada um/a daqueles/as estudantes; tal como é um pedacinho do caminho deles/as que teve a minha marca e, por sua vez, me marcou.

Nesta véspera de Natal dou comigo a refletir sobre este nosso nobre ofício (Professor/a): tão estimulante quanto extenuante, tão intenso quanto demorado, tão intelectual quanto emocional, tão perfeito quanto imperfeito.

Se me ensinaram que estudar, essencialmente no ensino superior, é procurar, é indagar, é questionar, é experimentar, é tentar, é errar, é voltar a tentar, quando cheguei a esta profissão percebi que havia um certo anacronismo nas práticas, algo assentes em convenções que entendem a sala de aula como um espaço de passagem de conhecimento, numa lógica top-down, e de pouca participação e envolvimento dos estudantes.

A pandemia veio trazer a lume, intensificando, uma certa falência deste modelo clássico: às/aos docentes passou a ser exigido mais, nomeadamente, a intervenção ativa dos estudantes, um envolvimento claro de cada um/a, a auscultação atenta e pausada de todos os presentes na sala de aula, física ou digital.

Naturalmente que esta aproximação derruba a barreira mais segura na relação Professor/a-aluno/a, o distanciamento hierárquico pré-definido entre as partes.

O que percebi esta semana com a turma que me ofereceu um postal de Natal é que, apesar dos riscos desta aproximação e maior intervenção de alunas/os em aula, é este o caminho que se nos coloca como possível solução contra a letargia e o abandono – real ou potencial – que ganhou muita expressão desde o início da pandemia e especialmente dos confinamentos.

O meu melhor presente de Natal foi este. Senti-o como prova de apoio às novas metodologias de ensino que passam pelo envolvimento ativo e permanente de todos – professores e estudantes. Chamo-lhe ensino criativo, assente na aplicação dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da ONU.

Se é isto que torna uma professora “bué fixe”, então podemos acreditar que a desconstrução do lugar estático de sala de aula e a substituição por um espaço com extensões físicas e digitais é “bué certo”, mesmo que este certo seja, não raras vezes, instável, imprevisível e nada convencional.