São vários os casos públicos conhecidos recentemente, de figuras mais ou menos públicas, e certamente em círculos de amigos, com esgotamentos psicológicos, o denominado burnout. Os sintomas visíveis são o cansaço, sensação de vazio interno, dores de corpo, perda de memória ou sonolência.

Será que sempre existiu? Será que os novos hábitos exagerados de consumo digital, potenciados pela pandemia, estarão na origem deste aumento de casos? Andará o teletrabalho a isolar mais as pessoas e a deixá-las mais frágeis? Estarão as lideranças empresariais aptas a apoiar os seus colaboradores e a não sofrerem elas mesmas do problema internamente?

A realidade é que são cada vez mais os relatórios e estudos que se debruçam sobre estes problemas, destacando-se alguns estudos produzidos pela OMS e por analistas e consultoras de mercado, como a Deloitte ou a McKinsey, que confirmam que mais de 50% das pessoas já sofreram de sintomas de esgotamento.

Destaque curioso neste fenómeno é o do impacto bastante diferente entre a realidade nas várias gerações de profissionais. Em particular, as gerações mais novas (Geração Z e Millennials) têm taxas de ocorrência de esgotamento duas a três vezes superiores às das gerações mais velhas (Baby Boomers). Tal fenómeno não poderá ser desfasado de uma realidade digital inerente a este século XXI: o mundo digital coloca pressões individuais (e empresariais) cada vez maiores para respostas mais rápidas e em diferentes canais, ao qual acresce o facto de as novas gerações, nascidas num mundo quase (completamente) digital, serem ainda imaturas para pressões sociais e profissionais.

Se a isso juntarmos que a pandemia trouxe nos últimos dois a três anos, de uma forma abrupta, um aumento em mais de 50% no consumo digital, onde as médias mundiais de consumo diário de Internet já estão em sete horas (na Geração Z são oito horas), das quais três horas em streaming e 2h30 em redes sociais, reforça que estamos, provavelmente, na conjugação de dois ingredientes similares a juntar “petróleo com fogo” sem supervisão ou acompanhamento. Ou seja, juntámos o digital às já existentes pressões sociais e profissionais sem a devida preparação estruturada e alicerçada de conhecimento, por ser um fenómeno ainda recente (assumindo que o pós-2007 mudou efetivamente o mundo digital).

Tudo é novo, tudo é rapidamente adotado. Passámos das comunicações por carta e envelope até aos anos 80 e 90 do século XX, que demoravam dias, para as atuais comunicações por Messenger ou “TikToks”, que demoram milésimos de segundo. Passámos de algumas centenas de comunicações mensais por carta numa empresa, para centenas de milhares (1000x mais) comunicações por mail, Teams, Zoom, etc.. Mas cada pessoa continuou a ter apenas “uma cabeça e dois braços”… (capacidade de processamento igual).

Estes dilemas trazem uma nova realidade, e não apenas uma moda passageira! Uma realidade de conseguir mudar modelos de gestão pessoal e profissional enraizados durante séculos, onde “havia tempo”! Agora, tudo foi abruptamente alterado, carregando em si uma pressão enorme sobre pessoas e empresas. Trazendo exaustão para muitos destes atores, que não conseguiram transformar-se digitalmente e que não conseguiram ter maturidade, ou que não conseguiram saber fazer planeamento do seu tempo e de prioridades. As 24h do dia mantiveram-se, mas as solicitações multiplicaram-se ao nível pessoal e ao nível das empresas.

O mundo está em mudança radical. As pessoas são estruturalmente as mesmas. O digital é competentemente acelerado. Muitas pessoas e empresas ficarão pelo caminho, muitas delas por serem arrastadas pela pressão à sua sanidade mental. Soluções? Poucas ainda. Uma delas, sobretudo, é saber assumir o problema individual. Outra será saber comunicar e socializar com… pessoas. Mas sem ecrãs no meio! Muitas outras existirão, muitas mais ainda não foram descobertas. Uma nova realidade ainda a dar os primeiros passos!