O princípio de ano nos mercados de capitais foi positivo, particularmente nos EUA, movido por duas expectativas: pela vacinação, que permitirá controlar a propagação do Covid-19 e o retomar da atividade económica; e pelas medidas anunciadas por Biden de suporte às empresas e às famílias, destacando-se os cheques de 2000 dólares que ajudaram à vitória dos democratas em janeiro na segunda volta das eleições para o Senado.

S&P500, Dow Jones e Nasdaq bateram recordes na primeira semana do ano, subindo 1,83%, 1,61% e 2,43%, e Elon Musk é agora o homem mais rico do mundo depois da Tesla subir 25% numa semana. Isto apesar de na mesma altura o Capitólio ser invadido depois dos tweets incendiários de Trump – canto de cisne da resistência do quase ex-Presidente a uma realidade que teimava em não aceitar, o que faz antever uma transição de administrações mais fácil do que se perspetivava.

O Emprego revelou-se em dezembro pior do que estimado – perda de 140 mil postos de trabalho não-agrícolas, em vez de ganho de 50 mil, a primeira queda desde os 20 milhões perdidos em abril. Mas já foram recuperados mais de 12 milhões e a taxa de desemprego ficou-se pelos 6,7% em 2020, o que favoreceu o otimismo e, citando Michael Arone, managing director na State Street Global Advisors, nos dias de hoje más notícias são boas notícias pois aumentam a probabilidade de medidas adicionais de apoio económico.

Também a Fed mantém perto de zero a taxa de juro a que empresta fundos, e injeta mensalmente 120 mil milhões de dólares em compras de títulos, o que ajuda à festa. A taxa de juro das obrigações americanas a 10 anos subiu 20 pontos base, sinal da expectativa de aumento da inflação fruto de uma política monetária mais expansionista.

No resto do mundo as bolsas também entraram bem, nota de esperança na recuperação económica: o Nikkei está ao mais alto de 30 anos, o DAX ultrapassou 14 mil pela primeira vez e o CAC40 ganhou quase 3% só na primeira semana de 2021; o Kospi (sul-coreano) subiu 9,7%. A preocupação continua na velocidade de recuperação da economia, dopada por políticas fiscal e monetária não sustentáveis a longo prazo.

No momento atual de reacender da pandemia, desenha-se a continuação dos empréstimos garantidos pelo Estado às empresas, que em França, por exemplo, passaram de 40 a 130 mil milhões de euros entre abril e dezembro, concedidos a 630 mil empresas; a Confédération des PME quer ver o programa continuado e as dívidas durante a pandemia agrupadas num único empréstimo garantido. Mas a dívida das empresas francesas já atinge 140% do PIB. A Alemanha estava em franco regresso à normalidade: a produção industrial aguentou-se (-0,1%) e iam sete meses de aumento de encomendas e exportações. A pior altura para o regresso da pandemia, que está a deteriorar a confiança dos alemães, diz a Ifo. Luta-se contra o tempo, e o tempo é o recurso escasso.