Constança Urbano de Sousa era uma mulher esforçada mas frágil. A tragédia de Pedrógão Grande deu a decisão a António Costa de a substituir e colocar como ministro da Administração Interna um homem da sua inteira confiança e que era seu ministro adjunto desde 2015.

Era uma solução musculada para uma pasta complexa e difícil. Foi Eduardo Cabrita um bom ministro? Até foi em diferentes áreas, mas desastrado comunicacionalmente tornou-se tóxico desde junho, aquando do desastre que vitimou um trabalhador numa estrada.

Já tinha sido um caos no caso do cidadão ucraniano e teria sido ali o momento certo para, pelo próprio pé, se ter demitido. Pode ter tido sempre a confiança do líder do Governo, pode ter seguido em funções a pedido do seu amigo, contudo, aos olhos dos portugueses, foi tornando-se repugnante e politicamente estava morto desde o Verão, continuando apenas ali num purgatório sem futuro.

No entanto, deram-lhe novo oxigénio, protegendo-o e tirando-o da arena mediática, fazendo crescer a sua credível secretária de Estado, Patrícia Gaspar, que se multiplicou em entrevistas e aparições televisivas (como dei nota na altura no meu podcast com o Jornal Económico, Maquiavel para Principiantes), preparando-a para qualquer eventualidade. E também a época dos fogos, felizmente, correu bem e aí contou com a preciosa colaboração da Protecção Civil comandada pelo brigadeiro-general Duarte Costa, que desempenhou bem a sua missão ao serviço da comunidade sem precisar de usar farda.

António Costa teimou em não remodelar antes das autárquicas, acreditando que a sua marca pessoal e o anúncio dos milhões do Plano de Recuperação e Resiliência chegariam para ultrapassar este teste eleitoral. Não chegou.

Agora, em 30 de janeiro, tem mais um exame difícil e não pode ir a votos com pesos que o afundem nem com danos reputacionais em movimento nem com um elemento tóxico e impopular a minar-lhe a acção política.

O desastradíssimo “eu sou o passageiro” foi o hara-kiri de um ministro que na maior parte das vezes exalou sobranceria e pouca humanidade. A palavra empatia nunca constou do seu dicionário.
Se toda esta situação desse um filme, como disse na CNN, só poderia chamar-se “O Passageiro da Vergonha”. Eduardo Cabrita pode entender, no seu auto-elogio que leu no momento da demissão, que fez tudo bem. O problema é que a comunidade não entendeu assim e a primeira preocupação dos políticos é servir as pessoas. O ministro estava desajustado com a realidade e já não conseguia chegar aos portugueses. Foi ele o próprio autor do seu epitáfio politico, desastrado como quase sempre.