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Caça ao voto dos reformados num dia em que PS e AD quase chocaram em Évora

O ainda primeiro-ministro em funções ouviu queixas de reformados em Setúbal mas garantiu-lhes, ao casal que o abordou e a todos os que ainda têm o período da troika bem presente, “uma palavra segura” de confiança. “Não conhece a realidade dos pensionistas”, acusou o secretário-geral do PS uns quilómetros abaixo, onde deu um pezinho de dança durante uma visita à Associação de Reformados e Pensionistas de Faro. Os dois líderes escolheram Évora para passar a tarde. Ao quarto dia de campanha, Rui Tavares elevou a fasquia e assumiu o objetivo de disputar o quarto lugar com os liberais.
8 Maio 2025, 07h00

Ao quarto dia de campanha eleitoral, e com os comboios paralisados devido à greve da CP, a caravana política continuou a todo o gás pelo país, e todos os caminhos foram dar a Évora, cidade onde as campanhas da Aliança Democrática (AD) e do PS dedicaram o final da tarde. De manhã, no mercado do Livramento em Setúbal, Luís Montenegro ouviu queixas de um casal de reformados. “O Passos Coelho tirou da minha reforma 208 euros e nunca me deu”, reclamou o pensionista. Efeito da aparição no dia anterior do ex-primeiro-ministro ou mera coincidência, é a questão que fica no ar.

Certo é que o líder da AD continua a apostar na reconciliação com os eleitores mais velhos e, se há um ano não tinha promessas a fazer, agora puxa dos galões sobre o que fez durante 11 meses de governação. Lembra que subiu o Complemento Solidário para Idosos, que atribuiu o suplemento extraordinário das pensões até 1527 euros e que aumentou a comparticipação dos medicamentos prescritos de 50% para 100%.

Luís Montenegro reconhece que as pessoas que, há uns anos, por razão da situação financeira do país, viveram “tempos de alguma inquietação” e, por isso, “precisam de uma palavra segura”. “Hoje, modéstia à parte, posso dizer às pessoas com toda a confiança para acreditarem porque já não estamos apenas a assumir compromissos (…). Somos efetivamente de confiança”, assegurou o ainda primeiro-ministro, repetindo ainda outra ideia que tem deixado sempre que fala dos méritos do seu governo: “Um outro dado que muitas vezes não é realçado é que todas as descidas de IRS também se aplicam às pensões.”

Do mercado do Livramento, a campanha da AD seguiu para o Montijo, onde Luís Montenegro almoçou numa instituição de solidariedade social.

“Montenegro não conhece a realidade dos pensionistas”

Uns quilómetros abaixo, no distrito de Faro, Pedro Nuno Santos acusou o líder da AD de ignorar a realidade dos pensionistas, porque a baixa do IRS propagandeada “diz zero” à maioria que não paga este imposto.

“Quando ouvimos Luís Montenegro falar dos pensionistas, só conseguimos constatar que ele não sabe qual é a realidade dos pensionistas em Portugal. Ainda ontem se congratulava com o facto de ter baixado o IRS e isso beneficiar os pensionistas”, disse Pedro Nuno Santos num almoço comício em Olhão. Segundo o secretário-geral do PS, o primeiro-ministro “não faz ideia de que uma larga maioria dos pensionistas em Portugal não paga IRS e não paga IRS porque as pensões são baixas”.

De Olhão, Pedro Nuno seguiu para uma visita à Associação de Reformados e Pensionistas de Faro, onde distribuiu sorrisos e até deu um pezinho de dança “à vez” com várias utentes, mostrando estar na praia socialista. Diria depois, numa direta com destinatário óbvio, que “as relações de confiança com os mais velhos não se constroem nem num mês, nem num ano, são de anos e nós temos essa relação de confiança com os mais velhos”.

De lá, seguiu para Évora, onde só não se cruzou com Montenegro porque a AD reajustou os planos da tarde. Se se tivessem cruzado, o líder do PSD desejaria ao secretário-geral do PS “boa campanha”.

O quarto dia de campanha oficial ficou também marcado por um confronto entre o Chega e um grupo de pessoas de etnia cigana que acusaram André Ventura de ser racista e lhe pediram para não alimentar o ódio contra a comunidade. “Têm de trabalhar e cumprir regras”, atirou o líder do Chega. Sobre a greve da CP, que vai durar até à próxima quarta-feira, Ventura criticou o Governo e acabou por defender que a privatização ou uma parceria público-privadas (PPP) “pode ser uma solução” para a empresa no futuro.

Entre Matosinhos e a cidade do Porto, a campanha da CDU foi deixando críticas ao Governo, o “único responsável” pela greve na CP, e ao ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, acusando-o de “incentivar os problemas” e de “perder tempo a fazer campanha eleitoral”. O líder comunista queixou-se do elevado custo de vida dos portugueses, que contrasta com os lucros dos grandes grupos económicos.

E disparou também na direção do PS, quando questionado sobre o IVA zero nos bens essenciais. “Sobre isso e sobre outras matérias, digo o seguinte – estamos em campanha eleitoral e se há coisa que me tira um bocadinho do sério é, nesta altura, promessas atrás de promessas.” Dando um exemplo: “Pedro Nuno Santos propõe também que se baixe o preço da botija de gás, podia ter feito isso há dois meses quando propusemos isso na Assembleia da República, bastava ter votado ao nosso lado”.

No Porto, Paulo Raimundo sustentou que o apelo ao reformismo deixado por Passos Coelho na terça-feira corresponde a “recuperar a receita que o povo rejeitou em 2015”.

Tavares eleva fasquia

Também no distrito do Porto, pelo qual o Livre elegeu um deputado em 2024, Rui Tavares, co-porta-voz do partido, elevou a fasquia ao assumir o objetivo de “disputar o quarto lugar como partido à IL”, num diálogo com uma feirante em Vila Nova de Gaia.

Antes, visitou a Unidade Local de Saúde de Vila Nova de Gaia/Espinho e considerou que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem evidentes problemas de gestão, de recursos e de autonomia, mas para os quais há “tratamento e cura”.

Em Vila Verde, no distrito de Braga, por onde foi eleito e onde é cabeça de lista, o presidente da IL advogou, pelo contrário, que “é impossível” o SNS “tratar 10 milhões de portugueses” e que o Estado deve entrar em negociações com os setores privado e social para usar a sua “capacidade instalada”.

Embora tenha recusado antecipar casamento com a AD, mais tarde, em Braga, Rui Rocha defendeu que o seu partido tem “quadros qualificadíssimos” para formar Governo, com “pessoas e ideias para todos os ministérios”.

Em Almeirim, no distrito de Santarém, a coordenadora do Bloco de Esquerda juntou-se a uma concentração de trabalhadores da Sumol/Compal em greve e disse querer “falar a quem trabalha”, com salários baixos e por turnos, opondo-se à política feita para “uma minoria” que mais lucra no país.

Mariana Mortágua argumentou que o salário médio pode ser aumentado através de instrumentos como a negociação coletiva e destacou a proposta do BE de tornar o subsídio de refeição obrigatório no setor privado.

Em Lisboa, o maior círculo eleitoral do país, com 48 deputados, por onde foi eleita desde 2019 e volta a ser candidata, a deputada única e porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, acusou o Governo de recuar no apoio às pessoas sem-abrigo e no combate à vulnerabilidade habitacional e apelou a uma “política humanizada” do Estado na resposta a quem vive na rua.

Com Lusa

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