Marcelo Rebelo de Sousa justificou a visita que fez de surpresa ao bairro da Jamaica, com o argumento de que foi “verificar as condições sociais e o projeto de realojamento”. Este bairro existe desde a década de 90 e é habitado maioritariamente pelas populações pobres oriundas dos PALOP e por comunidades potencialmente geradoras de dinâmicas criminais.

Apesar das condições infra-humanas em que os moradores sempre lá viveram, não há memória de que a presidência da República se tivesse sensibilizado alguma vez para este tema. Porque o faz só agora? Para ser politicamente correta e por puro populismo que chame votos. Aliás, o elogio do BE a Marcelo Rebelo de Sousa demonstra bem o aproveitamento político que a esquerda radical fez desta situação e a cumplicidade que nunca se poderia ter gerado entre ambos.

O Presidente da República é o mais alto magistrado da Nação e como tal é o garante da independência dos tribunais. Como pode nessa qualidade e na sequência da abertura de um inquérito pelo Ministério Público aos desacatos que ocorreram, sem serem conhecidos ainda os resultados das investigações, confraternizar displicentemente com protagonistas desses mesmos desacatos?

Marcelo Rebelo de Sousa também afirmou que não pede o cadastro a ninguém quando tira selfies. Mas abraçar um dos jovens que agrediu um polícia no dia dos confrontos e ser fotografado com ele, é revelador de sentido de Estado e de escrúpulos com a defesa intransigente da ordem? Com certeza que não é. Esteve muito bem o presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia quando o criticou pela visita.

Os argumentos do Presidente da República de que as forças de segurança se diminuíram ao colocarem-se no mesmo plano da comunidade sobre a qual exercem autoridade, não colhem e, sobretudo, apontam uma deriva perigosa daquilo que é a leitura dos acontecimentos pelo chefe de Estado. Desmerecer a corporação que nos defende com sacrifício da própria vida não augura nada de bom para a defesa intransigente dos princípios do Estado de direito democrático.