A Caixa Geral de Depósitos registou lucros de 889 milhões de euros na primeira metade de 2024, uma subida significativa face aos 608 milhões de euros (mais 46,3%) registados no mesmo período do ano passado, anunciou esta quarta-feira o banco liderado por Paulo Macedo. Este ano, o banco público vai entregar ao Estado um dividendo extraordinário de 825 milhões de euros. Este valor corresponde aos 525 milhões de euros que já estavam previstos, acrescidos de 300 milhões de euros gerados durante um primeiro semestre marcado por um forte crescimento da atividade e por uma redução das provisões e imparidades no crédito.
Segundo o comunicado hoje divulgado pela Caixa no site da CMVM, a margem financeira teve um crescimento homólogo de 11% para 1,4 mil milhões de euros, apesar da descida das taxas de juro que se tem verificado desde o final do ano passado, notou a CGD. Este crescimento da margem – que, grosso modo, corresponde à diferença entre aquilo que o banco cobra pelos créditos e paga pelos depósitos – assentou no crescimento da atividade doméstica na área de Tesouraria, uma vez que, nas outras áreas, o valor dos juros pagos pela CGD superou o montante que cobrou nos empréstimos. Isto resultou num contributo negativo de 31 milhões de euros na margem financeira do negócio de retalho, explicou a CGD.
Se mais casas houvesse, mais crédito seria concedido
A forte dinâmica comercial do banco público no semestre é visível pelo crescimento dos depósitos (4,1%) e do crédito (2,2%). Mas é sobretudo no crédito à habitação, área onde a produção cresceu 57% em termos homólogos, que este dinamismo se torna patente. A Caixa tem uma quota de 25,1% neste segmento em Portugal e beneficiou de uma maior procura de financiamentos para a compra de casa, apesar de escassearem os imóveis a preços acessíveis.
“A estabilidade do mercado do emprego, a perspetiva de diminuição das taxas de juro, o nível de endividamento dos privados em linha com a média europeia e o facto de o mercado de arrendamento continuar a ser marcado pela incerteza” são alguns dos factores que explicam o porquê de muitas pessoas estarem a comprar casa neste momento, notou o CEO da CGD, Paulo Macedo, na conferência de imprensa de apresentação dos resultados, quando questionado sobre o porquê desta subida na concessão de crédito à habitação.
“Mesmo assim, o crédito cresceria muito mais se existisse mais oferta de casas acessíveis”, frisou o presidente da CGD, referindo-se a obstáculos como os atrasos nos licenciamentos e na urbanização de terrenos. “Quando essas restrições forem resolvidas haverá um aumento da oferta e do crédito concedido”, disse.
Questionado sobre a lei que prevê a atribuição de uma garantia pública para facilitar a compra de casa por jovens com idade até aos 35 anos, Paulo Macedo notou que essa medida é “positiva”. “Agora, só vale a pena ter uma opinião definitiva quando for definido como se poderá fazer o financiamento até os 100% quando a banca neste momento só pode financiar até 90%. É preciso clarificar estas questões. Como é do conhecimento geral, há conversas nesse sentido entre as autoridades e a Caixa cá estará para financiar quem tiver direito a essa garantia”, salientou.
Custos em queda e eficiência em nível recorde
Por sua vez, as comissões estagnaram em termos homólogos, com um total de 289 milhões de euros no primeiro semestre, refletindo o facto de o precário do banco não ter sido atualizado e de existirem várias isenções em vigor, notou a Caixa. Já os resultados de operações financeiras tiveram uma forte queda, dos 152 milhões do período homólogo para 88 milhões na primeira metade deste ano.
A nível dos custos, o banco público manteve a trajetória dos últimos anos, com uma descida de 23 milhões de euros para 534 milhões no primeiro semestre. Também as provisões e imparidades para o crédito malparado diminuíram na primeira metade do ano, com a libertação de provisões a ter um impacto positivo de 112 milhões de euros nos resultados da CGD. O rácio de eficiência cost to income atingiu o valor recorde de 25,4%, ou 29,3% se excluírmos factores não recorrentes. Quanto mais baixo for este rácio, mais eficientes são os bancos.
Por sua vez, os rácios de capital no final do semestre ficaram nos 21% (CET1) e 21,3% (total), após a distribuição do dividendo de 525 milhões de euros. A este valor acrescem outros 325 milhões de euros em dividendos, o que terá um impacto de 65 pontos base no rácio, ficando ainda assim acima dos 20%.
Ao todo, a Caixa vai entregar ao Estado 1,2 mil milhões de euros, entre dividendos e IRC referente a 2023, valor a que acrescem 417 milhões em pagamentos por conta de IRC relativos ao exercício de 2024, chegando o total global a 1,66 mil milhões de euros, referiu a CGD. Desta forma, ficará concluído o processo de devolução do montante que o Estado injetou na recapitalização da CGD, em 2017.
“Os dividendos vão depender sempre dos valores dos resultados, do nível de capitalização, da vontade do acionista… sabemos que este nível de resultados não se poderão manter para sempre. Dependendo dos ciclos, oscilarão os dividendos. Obviamente, se os resultados caírem, os dividendos também terão de diminuir, a menos que os rácios de capital sejam tão elevados que se possa distribuir dividendos mais elevados”, referiu Paulo Macedo. “Sobre dividendos, o que temos previsto é continuar com a atual política, sendo que há todas estas variáveis que referi”, acrescentou.
A atividade internacional teve um contributo de 100 milhões de euros para os resultados consolidados do banco.
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