A Reserva Federal (Fed) desceu a taxa de juro 50 pontos base, o que, não sendo uma completa surpresa, não era o mais esperado. Isto criou uma dificuldade adicional para Powell na conferência de imprensa do final do FOMC: explicar porque o corte foi tão pronunciado para dissipar receios de ter sido feito por medo de um hard landing da economia americana e assim provocar um pânico.

A discussão já durava há umas semanas, com os argumentos a favor de cortes de 25 pontos base e de 50 a serem alinhados; os a favor de um corte de 50 podem ser lidos no excelente texto de Greg Ip no “Wall Street Journal” de dia 16, “The case for a half-point Fed rate cut”, que logo no início diz, de forma profética, que a discussão não devia ser sobre a dimensão da descida, mas sobre o nível a que a taxa devia estar. Confesso que lhe devia ter dado mais atenção; mea culpa, mea maxima culpa.

É precisamente este o ponto que Powell enfatizou na sua explicação. Note-se que se admitia que a taxa desceria um ponto até final do ano, mas o cenário mais provável por altura da reunião do FOMC era termos, nas três últimas reuniões do ano, 25-50-25. Agora, depois deste corte, a coisa é mais complicada: a FedWatch Tool da CME dá uma probabilidade de 60% a uma nova descida de 50 pontos base na reunião de novembro, o que faria admitir que podemos vir a ter uma redução de 125 pontos base este ano.

Voltando a Powell, ele usou uma dezena de vezes a palavra “recalibrar”, precisamente para fixar a ideia de que a Fed quis colocar a taxa no seu nível certo, a dimensão da descida é acessória. Evidentemente que isto torna difícil outro corte de 50 pontos base – não há que recalibrar duas vezes a menos que algo extraordinário aconteça. Ora, só vamos ter duas novas peças principais de informação até o FOMC reunir de novo, difícil para avaliar uma mudança drástica.

Já agora, o mais surpreendente com esta descida é Trump não ter ainda colocado um post na sua rede social a dizer “I HATE POWELL”, pois esta descida mais pronunciada é mais favorável a Kamala Harris que a ele. Não só baixa os custos de quem tem dívidas, empresas e particulares, como sinaliza aos consumidores que a batalha com a inflação está ganha e vêm aí melhores dias. Adicionalmente, reduz os custos com a dívida pública, bom para os dois candidatos. É que Margaret Thatcher disse um dia que “o problema com o socialismo é que um dia esgota-se o dinheiro dos outros”; com o atual défice orçamental americano o problema não fica limitado ao socialismo.