Comecemos por si, caro leitor.O que é mais fácil para equilibrar o seu orçamento: controlar as despesas ou aceitar um aumento de rendimentos? Se tivesse um conjunto de pessoas a quem podia exigir, sem hipótese de recusa, um aumento de rendimentos, essa opção não seria a mais… cativante?
Assim é também quando se gere um país: é muito mais fácil ser popular quando se distribui dinheiro. A austeridade (ou “rigor”, como lhe chama Hollande) não traz amigos. O fim da austeridade (ou “compra de votos”, como lhe chamam alguns cientistas políticos) é muito mais popular.
E como financiar o fim da austeridade? Segundo quem a pratica, esta não precisa de financiamento: o dinheiro estatal vai para a economia e tem um efeito multiplicador. Quem recebe o dinheiro gasta-o e provoca movimento económico que aumenta consumo, produção, investimento, PIB e até impostos. Portanto, é uma política que se paga a si mesma.
Na realidade, constata-se que não é assim: o aumento de despesa está a ser acompanhado por um aumento de impostos. Para se diminuir as sobretaxas sobre os maiores rendimentos, teve de se aumentar o IVA de todos – o que, em si, é um movimento contra os mais pobres do governo mais esquerda do século XXI (!). Para se aumentar os funcionários públicos, teve de se aumentar impostos sobre o património. Diversos aumentos de impostos já foram anunciados e mais estão na calha. Estranho, se o fim da austeridade se pagava a si próprio.
Para compreender esta realidade, chamo a atenção para outra análise. É claro que injectar dinheiro na economia gera alguns aumentos de consumo, produção, investimento e impostos; resta saber qual é o maior efeito. Mas alguém acredita que taxar criadores de riqueza, fazer o dinheiro percorrer a burocracia estatal e dar a grupos de interesse com poder político, mas menos capacidade de criação de valor, poderia alguma vez ter um efeito positivo na economia?
O que é o caminho fácil? Em primeiro lugar, taxar os que não votam em nós nem nos que nos financiam a campanha, de preferência um grupo de eleitores pequeno, ou até usar um imposto menos óbvio, como o IVA – para depois usar esse dinheiro para recompensar grupos de eleitores fiéis ou calar líderes de opinião habitualmente muito ruidosos, mas agora silenciosos. E, claro, no entretanto aumentar o poder discricionário do Estado: numa economia em que todo o índice bolsista tem fortes ligações com o Estado e numa imprensa em que o Estado é directa ou indirectamente o maior financiador (e anunciante), quem é que vai criticar o Estado de forma consistente e com poder real na praça pública?
O que é o caminho difícil? Um estadista é aquele que pensa na próxima geração e não nas próximas eleições. Esse é o caminho difícil, que exige temperança, fortaleza, justiça, prudência, diligência, paciência, bondade, humildade e caridade (no sentido de dar sem esperar receber). Alguém que saiba dizer não a banqueiros poderosos e que coloque a dívida estatal num caminho descendente – quem tem uma dívida eterna está condenado a pagar um juro eterno. Alguém com visão mais de um palmo à frente do seu nariz.
O Joãozinho não vota em quem lhe promete o caminho fácil. O Joãozinho pensa nos seus filhos. O Joãozinho prefere o rigor. O Joãozinho é esperto. Seja como o Joãozinho.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.