A Colômbia prepara-se para referendar o processo de paz que já leva quatro anos de negociações. Cuba foi o país anfitrião, a Noruega, o país facilitador da negociação e, como observadores do processo, estiveram o Chile, a Venezuela, o Conselho de Segurança das Nações Unidas e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos. O processo que agora culmina seguiu todos os trâmites consagrados internacionalmente para a resolução de conflitos. E, por essa razão, apresenta as limitações de outros processos congéneres.
A guerra entre o Governo colombiano e as FARC data de há 50 anos. As FARC iniciaram as hostilidades em 1964, debaixo de um discurso político e social que apontava para as questões socioeconómicas. Apesar de o braço militar do Estado colombiano ter sempre defendido uma solução militar, houve tentativas de negociação política de iniciativa presidencial que não chegaram a bom porto.
Foi sempre a voz das armas que falou mais alto. O ex-presidente Uribe ainda hoje se opõe ao acordo de paz. O atual presidente, Juan Manuel Santos, depois de investir na vertente militar para infligir derrotas militares consideráveis entre as FARC, enveredou pela negociação política que culminou com a assinatura do acordo deste ano.
Apesar de, entre a população, reinar o pessimismo relativamente ao alcance deste acordo, a verdade é que a maioria dos cidadãos colombianos apoia o processo. O atual apoio internacional à paz contrasta com as medidas do passado, vocacionadas mais para a vertente militar e para o isolamento das FARC, refletidas no facto de, apenas na passada segunda-feira, terem deixado de ser consideradas um movimento terrorista ligado ao narcotráfico pela União Europeia, e continuarem a ser assim classificadas pelos EUA.
A paz na Colômbia interessa diretamente para a estabilidade internacional e não apenas para os seus vizinhos (Brasil, Equador, Peru e Venezuela). Também interessa à Europa e EUA, porque seria uma das formas mais eficazes de controlar o narcotráfico com origem naquele país. Interessa a Portugal porque a Colômbia é um dos mercados de investimento mais promissores para o nosso país. Mas é, sobretudo, determinante para percebermos se a lógica de apoio externo em conflitos internos poderá surtir efeitos tão positivos, como aqueles que produz aquando do intervencionismo pela negativa, armando as partes em conflito e exacerbando a violência dos mesmos.