“Apenas os medíocres estão sempre no seu máximo”, William Somerset Maugham
(Não creio que os próximos tempos sejam fáceis e não me parece que a conhecida hipocrisia com que todos gostamos de nos enganar sirva desta vez para atenuar o que aí vem. De todo o modo, os meus votos e desejos centram-se menos em mim do que num país que, efectivamente e como bem diz o Jorge Palma, tem um pé no fundo do mar. Maior solidariedade. Laivos de humanidade. Menos egoísmo. Tudo factores que podem fazer a diferença perante uma crise social e económica que se instalou e que não será fundamentalmente alterada com anúncios de injecção de milhões cujos destinatários estão, como sempre, já escolhidos.
Faço, também aqui, a minha declaração de interesses. Não tenho partido político e não me revejo completamente em qualquer das ofertas que nos são apresentadas. Apesar da época de saldos ter sido adiada, o que sinto é que nenhum nos serve um produto que sirva, pedindo-nos o voto como quem anuncia descontos em artigos de que não precisamos. Neste ano, a minha única decisão é manter-me fiel ao que acredito e não me deixar embarcar em cânticos doces que só visam a salvaguarda de uns, sempre à custa dos mesmos. Posso não saber qual é a solução mas a História tem ensinado que caminhos não devemos voltar a trilhar.)
2022 entrou com a promessa de grandes momentos de humor, já que, às vezes, pouco mais nos resta. Adepta de que o humor é o que nos salva nos momentos mais difíceis, encaro os debates como um dos momentos ideais para soltar uns sorrisos, já que para esclarecimento há décadas que não revelam grande utilidade.
Até agora, as minhas expectativas não saíram completamente frustradas, entre juras de amor para um futuro namoro e um pretenso diálogo onde cada um dos visados se centrou única e exclusivamente no seu próprio discurso. Nenhum convenceu plenamente e a sensação que fica é que, clientelas de tachos à parte, o povo português vota mais por cansaço e exclusão de partes do que por convicção.
De todo o modo, a novidade dos últimos tempos é a aparição de vendilhões de promessas, cujo canto se vai insinuando à medida que conquistam pedaços de poder. É assim com o propagador de discursos xenófobos, assente numa técnica de, colocando uns contra os outros, dividir para (ele) reinar. É também assim com personagens agora emergentes, montados numa tarefa que lhes correu francamente bem mas que não os qualifica para assegurar os destinos de uma nação. Entre um e outro, surgem-nos as personagens do costume, por vezes travestidas de grandes defensores da classe cujos votos mais precisam.
Quando muitos debatem os debates e discutem entre si sobre o vencedor, o que me vem à cabeça é a citação de Somerset Maugham que dá início a estas linhas. De noite todos os gatos são pardos e em época eleitoral todas as conversas em torno de pretensos debates visam capturar o nosso voto.
O triste fado deste país começa a ser menos do que incumprem do que aquilo que nos prometem mas, também aqui e como em qualquer engate, são precisos dois para dançar, mas apenas um para rir. Que saibamos, no humor, manter a capacidade de distinguir o bem do mal e que não alinhemos no que parece mais fácil.
No final, o que ficará serão menos as vitórias pessoais do que o que conseguimos fazer pelo outro e não há valor maior do que o respeito pela dignidade humana, tenha ela que cor ou credo. Sempre. Para sempre.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.