Com 60 livros publicados que venderam até hoje 700 milhões de exemplares em todo o mundo, o escritor de livros para crianças que assinava Dr Seuss constitui o último alvo da “cancel culture” (versão anti-racista). Mas, neste caso, os herdeiros do escritor (que é o morto que mais factura atrás de Michael Jackson) anteciparam-se e decidiram retirar do mercado seis livros (por sinal os que menos vendem).
Fizeram-no com ar compungido e quase a pedirem perdão pelas malfeitorias do seu ascendente. E de que se arrependem eles? Por exemplo, logo na primeira das obras do Dr Seuss, datada de 1938 , o facto deste desenhar um oriental, simplificando duas linhas para os olhos, o colocar a comer com pauzinhos e lhe calçar umas “sandálias chinesas”, constituir o retrato “cru e errado” de um “estereótipo racial causador de profundo sofrimento” às crianças de ontem e que não deve ser visto pelas crianças de hoje .
A “cancel culture” – cultura do cancelamento em português – oscila entre o caricato e a censura. Seria caricato apresentar o “Chinese man” acompanhado de uma nota explicativa ou de contextualização. Mas não deixa de ser censura vetar os livros alegadamente “racistas”.
Depois de Babar, das aventuras africanas de Tintin, do Charlie da Fábrica de Chocolate, e agora dos antepassados do Grinch (uma das personagens do Dr Seuss por enquanto poupada) qual será o próximo cancelamento?
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.