Existem sinais de cansaço no governo da República liderado por António Costa e suportado pelos antigos amigos da esquerda. Do Ministério da Administração Interna à Agricultura, da Educação e do Ensino Superior à Economia, todos aparentam ares de grande cansaço ou inércia.

Os membros do Governo esquecem-se sistematicamente do que disseram semanas ou dias antes – não falando do princípio do mandato –, contradizem-se ou mostram grande surdez aos apelos públicos. Os casos sucedem-se: propinas, hospitais, professores, greves, investimentos, eleições.

Só isso pode justificar a resposta intempestiva e inesperada do primeiro-ministro no último debate quinzenal invocando uma condição de pele. Será seguramente por andar com os nervos à flor da pele.

O único que tem uma frescura implacável é o ministro das Finanças: nunca se cansa, irrepreensível no seu afã entre Lisboa e Bruxelas, nunca se esquece de apanhar o avião, nem se esquece de nos cobrar mais uns impostos. Logo por azar este ministro não é esquecido.

Estes sinais estendem-se a uma dimensão tal que ministros sem ideias e sem garra parecem pedir para ser rapidamente substituídos ou que se mande algum para Bruxelas. O mandato é seguramente desgastante. Entre a aplicação de um programa de governo que se limitou a repor ou a desfazer o que o anterior governo tinha feito, há muito que se esgotou a fórmula governativa.

Desgastante ainda ter de lidar com parceiros ditos apoiantes do Governo que, em muitos momentos, lideraram a oposição pelos desafios e anátemas lançados. Verdade, sempre aprovaram o orçamento, ano após ano. Reclamando, mas no final contaram-se os votos e os deputados lá se levantaram devidamente alinhados

Não há muitas dúvidas que grande parte da instabilidade social foi inspirada por entidades próximas dos parceiros do Governo, o que deixou mais evidente a fragilidade das opções do PS em 2015. Mas isto não justifica governar à vista e a responsabilidade deve ser equitativamente distribuída, entre PS e a restante esquerda. Ou seja, num Governo sem ideias nem opções viáveis durante o mandato, manietado e amarrado pelos parceiros, o primeiro-ministro cansou-se e esgotou a sua capacidade.

O reflexo mais evidente verte-se no desnorte do primeiro-ministro e um sentimento de perda de rumo de ministros que pedem descanso, sossego e substituição, perante a incapacidade que tem demonstrado de antecipar e evitar os problemas ou agir e resolvê-los. Lentamente, o chefe do governo vai-lhes fazendo a vontade. E se não fizer de um todo, têm esta oportunidade os portugueses. Basta votar em conformidade nas eleições legislativas de outubro.

O PS e o seu líder não estavam preparados para governar o país em 2015. Optaram sempre pelo caminho mais fácil de criar ilusões e apresentar chavões. Do desemprego a descer à conta dos ordenados, do investimento a desaparecer, dos serviços públicos a degradar-se em qualidade, das dívidas a aumentar, quer na saúde, quer, pior ainda, na dívida pública. Salva-se o défice e o turismo.

Um dos objetivos básicos da governação é deixar o país em situação melhor no final de um mandato do que quando se assumem funções. Passados quase quatro anos o país não está melhor e os portugueses começam a estar conscientes disso.