Todos conhecemos gente que fala muito, mas pouco faz. É proverbial: falar é fácil, fazer nem por isso. Muito barulho por nada, escreveu o Bardo. Cantas bem, mas não me convences, diz o povo. Por isso, quando aparece alguém que realmente faz alguma coisa temos tendência a achar isso extraordinário, mesmo que a decisão em causa seja má, ou que no final do dia não se produzam grandes resultados. E temos também aqueles que exageram os seus feitos, conseguindo manchetes gloriosas em jornais de referência, mas que não resistem à verdade que acaba por vir sempre ao de cima.

Devido à situação periclitante em que se encontra e ao caminho estreito que tem pela frente, o atual Governo tem anunciado decisões atrás de decisões, procurando avidamente mostrar serviço. Tivemos, entre outras decisões, o IRS Jovem e a descida deste imposto (que está bloqueada no Parlamento), o novo aeroporto, a terceira travessia sobre o Tejo e a alta velocidade até Madrid, a promessa de um acordo com as forças de segurança, a reposição do tempo de serviço dos professores e o novo pacote de apoios à habitação dos jovens.

Este frenesim governativo, que o André Macedo comparou, nestas páginas, ao que se viveu no PREC, deve fazer-nos refletir. Se Luís XIV tinha como mote “o Estado sou eu” (juntamente com “o último argumento dos reis”, que mandava inscrever nos seus canhões), o Executivo de Luís Montenegro parece ter como lema “abrir os cordões à bolsa… rapidamente e em força”. Junte-se a isto o impacto de medidas aprovadas pela Oposição no Parlamento, como o regresso das SCUT, para perceber que estamos a falar de muitos milhões em despesa adicional, para resolver problemas que se arrastavam há anos. Perante isto, a questão que se coloca é saber por que razão o anterior governo não agiu desta forma. E só encontro três respostas possíveis para esta questão.

A primeira, muito improvável, é que Montenegro descobriu que há petróleo no Beato.

A segunda é que se trata de uma questão de prioridades e de opções políticas. Além disso – e esta parte será mais difícil de acreditar, mas não será descabida – os governos conseguem ser mais eficientes quando são minoritários e vivem com uma espada de Dâmocles sobre a cabeça. E viva a Itália, portanto.

A terceira explicação será, no entanto, a mais provável. Entre a espada e a parede, o Governo está disposto a correr riscos mais ou menos calculados, aumentando a despesa por um lado, enquanto corta nos impostos por outro. Faz isso porque acredita que cortar nos impostos fará a economia crescer, permitindo gerar mais receita fiscal no futuro e compensar o aumento da despesa em algumas áreas. É uma jogada de alto risco, pois o choque fiscal pode não gerar resultados em tempo útil. E pode até ter efeitos contraproducentes, como se viu no que levou à demissão de Liz Truss, no Reino Unido.

No final, se as coisas correrem mal, dificilmente o Governo conseguirá culpar a Oposição. E mesmo que corram bem no plano orçamental, resta saber se a boa cantoria de Montenegro será acompanhada de resultados palpáveis que lhe permitam uma dia convencer o eleitorado a dar-lhe uma maioria.