A administradora-delegada (CEO) da Capgemini Portugal, Cristina Castanheira Rodrigues, revela ao Jornal Económico que a consultora tecnológica vai contratar mais 200 colaboradores para “áreas-chave” até ao final deste ano, nomeadamente consultoria, Inteligência Artificial (IA) generativa, analítica de dados e negócio ou automação. O reforço surge num momento em que a empresa prevê aumentar a faturação nacional em 6%.
Com o ano prestes a terminar, que desígnios estratégicos foram cumpridos e quais passaram a ser uma meta para 2025 ou 2026?
Que ano intenso e complexo. Contingências económicas, geopolíticas e sociais geradoras de incerteza, dúvida e medo de que os investimentos futuros possam ser catalisadores da redução de velocidade, não gerando impacto substantivo para muitas empresas e para o país. Mas somos resilientes e a Capgemini Portugal teve uma boa performance em 2024 em termos de crescimento. Já estamos a preparar os próximos anos, com cautela, pragmatismo e com a certeza de que o crescimento é uma prioridade, que temos de estar preparados e atentos à evolução dos próximos desafios geopolíticos que trarão impactos nas nossas atividades.
Para 2025, antecipo um aumento nos investimentos direcionados à integração de tecnologias com impacto social direto, como soluções de saúde digital, plataformas de educação acessível e infraestruturas de cidades inteligentes. Soluções de desenvolvimento na cloud sustentável e tecnologias de monitorização energética serão predominantes, ajudando os clientes a alcançarem metas de redução de emissões e a contribuírem para a construção de um futuro mais sustentável.
A 30 de outubro, o grupo apresentou as receitas até setembro, de 16.515 milhões de euros (-2,3%), e uma melhoria no ‘outlook’ de vendas. Que comentários faz a estes resultados globais?
De acordo com Aiman Ezzat, CEO do grupo Capgemini, as receitas alcançaram 16,5 mil milhões de euros, com uma retração de 2,3%. No entanto, registou-se uma melhoria do crescimento no último trimestre e projeta-se que a redução em 2024 seja de 2% a 2,4% na receita, estreitando a meta de margem operacional entre 13,3% e 13,4%. O fluxo de caixa orgânico de cerca de 1,9 mil milhões de euros, demonstra a resiliência e a estabilidade financeira do grupo, mesmo num contexto de mercado mais desafiador. Verificou-se igualmente um crescimento em áreas como a transformação digital e a inovação tecnológica, com particular destaque na inteligência artificial, na cloud e na segurança cibernética.
Em Portugal, a Capgemini espera fechar o ano com um volume de negócios de mais de 212 milhões de euros (+6% versus 2023) e um resultado líquido superior a 13 milhões de euros (crescimento de dois dígitos face a 2023). Em 2017, a Capgemini era uma empresa com um volume de negócios de 29,2 milhões de euros com 381 colaboradores…
Os contratos relacionados com a IA generativa ascenderam a cerca de 600 milhões de euros nesses nove meses, o que representa cerca de 3,5% do total do grupo. Portugal também cresceu neste segmento? Se sim, anteveem que este género de projetos continue a aumentar e estão preparados para dar lhe resposta?
Os contratos com a IA generativa (Gen AI) são uma realidade, não são uma opção! Na Capgemini os contratos aumentam diariamente, direta ou indiretamente, sendo uma tendência emergente nesta área e um testemunho do seu potencial transformador. Todas as empresas têm de ter para serem mais eficientes, inovadoras e para reinvestirem em novos produtos, distribuírem mais rapidamente os ganhos e encurtarem o lançamento de novos produtos.
O investimento em I&D na Capgemini Portugal materializa o nosso compromisso com a investigação e desenvolvimento, envolvendo perto de duas centenas de colaboradores nos últimos anos e investindo mais de oito milhões de euros por ano (4% do volume de negócios) ainda que em cenários de contenção económica e de cenários geopolíticos adversos.
A IA generativa está a redefinir transversalmente as indústrias de forma global, impactando transversalmente todos os setores de atividade, mas temos de ter noção de que a aceleração da tem de ser criteriosa e cuidada, evitando os riscos colaterais que toda a inovação pode trazer. Para que estas inovações beneficiem verdadeiramente a sociedade, é fundamental promover boas práticas: investir em educação e formação.
O investimento em I&D na Capgemini Portugal materializa o nosso compromisso com a investigação e desenvolvimento, envolvendo perto de duas centenas de colaboradores nos últimos anos e investindo mais de oito milhões de euros por ano
E a nível de recrutamento? Os tempos áureos da necessidade de contratação tecnológica, no pós-pandemia, já passaram. A fase de mais ‘lay-offs’ também. Em termos de recursos humanos, a Capgemini está apetrechada neste momento?
Em Portugal, a Capgemini conta com cerca de quatro mil especialistas de mais de 50 nacionalidades distintas no desempenho das suas atividades junto dos clientes. A nossa equipa tem uma média etária jovem (35 anos), é composta por 35% de mulheres. Os nossos colaboradores têm maioritariamente formação nas áreas de ciências Informáticas, engenharias ou gestão. A atração de novo talento continua a ser uma das nossas apostas mais diferenciadoras, com o recrutamento de 500 novos colaboradores nos primeiros meses deste ano e com a previsão de mais 200 novas contratações em áreas chave até ao final do ano, como consultoria, Gen AI, business & data analytics ou automação, bem como em muitas outras como sustentabilidade e indústria inteligente.
A nossa gestão de talento sempre se pautou por uma antecipação das necessidades em termos de recursos humanos, e bem como por uma análise dos riscos e impactos a médio e longo prazo, tendo sido por isso possível evitar lay-offs e programas de saída generalizados, bem como manter um nível de recrutamento de novos colaboradores acima da média de mercado.
Qual a política da Capgemini em relação ao teletrabalho atualmente? Manter-se-á a partir de 1 de janeiro de 2025, quando várias multinacionais irão fazer alterações?
Visando encontrar um equilíbrio entre formas de trabalho virtuais e físicas, a Capgemini irá continuar a adotar práticas de trabalho mais flexíveis em 2025, mantendo uma política que privilegia um modelo híbrido mais flexível. Iremos também manter o programa Flex Abroad, que oferece aos nossos colaboradores a possibilidade de trabalharem fora do país por um período definido.
A Capgemini Portugal trabalha para o mercado interno e externo, sendo que no mercado externo a fatia do mercado intracomunitário representa mais de 70% das nossas vendas com França, Alemanha e Luxemburgo como principais destinos. Já no que diz respeito ao mercado extracomunitário, mais de 60% do nosso volume de negócios provém dos EUA, da Irlanda e do Reino Unido.
A proposta de lei do OE2025, que foi aprovada na generalidade, prevê a descida de 1% do IRC. Enquanto CEO, de que forma viu esta mexida num imposto diretamente relacionado com as empresas?
É uma medida positiva, que pode trazer benefícios para o ambiente empresarial português. Prevalece, muitas vezes, a ideia de que a diminuição do imposto beneficia apenas as grandes empresas, mas, na minha opinião, apesar de se tratar apenas de um sinal, acredito que o impacto positivo será sentido de forma transversal por toda a economia.
As grandes empresas têm uma maior capacidade de investimento e inovação, são também as que mais contribuem para a competitividade do país, promovem a internacionalização e colocam Portugal em posição de destaque nos mercados globais, além de terem uma maior capacidade financeira para terem melhores condições de trabalho e de fidelização dos seus colaboradores.
Ao reduzir o IRC, estamos a permitir que todas as empresas, independentemente da sua dimensão, possam reinvestir mais nos seus negócios, o que a médio e longo prazo, contribuirá para o crescimento sustentável e para a criação de mais e melhor emprego qualificado, que deverá incluir cada vez mais as novas gerações. Compete-nos a todos nós, enquanto líderes, a par de outras medidas, assegurarmos condições para que os nossos jovens possam contribuir para o futuro de Portugal.
Por outro lado, num contexto de crescente instabilidade geopolítica global, nomeadamente na Europa, é fundamental adotar medidas que incentivem a atração de investimento direto estrangeiro, como as alterações fiscais propostas. Essas mudanças são essenciais para criar um ambiente de confiança e estabilidade para os investidores. Em relação à progressividade do IRC, é importante lembrar que uma empresa com lucros mais elevados não apresenta necessariamente uma maior rentabilidade sobre o capital investido. Por isso, é crucial ter cautela ao tributar as empresas mais lucrativas, na medida em que a tributação excessiva pode desencadear um resultado perverso de desincentivar o investimento. O foco deve estar, sim, em políticas que promovam o investimento em áreas estratégicas e sociais, como as pessoas e a inovação, conforme defendido no relatório sobre o futuro da competitividade europeia, elaborado por Mario Draghi.
Em relação à progressividade do IRC, é importante lembrar que uma empresa com lucros mais elevados não apresenta necessariamente uma maior rentabilidade sobre o capital investido. Por isso, é crucial ter cautela
Diz que “gosta de desafiar as coisas que estão super bem para fazer diferente”. Neste momento, o que é que na Capgemini Portugal está “super bem” e se prepara para “desafiar” para “fazer diferente”?
A Capgemini tem uma trajetória crescente de penetração do mercado, posicionando-se como empresa estratégica, apoiando os seus clientes com a sua experiência de sucesso nas áreas de consultoria, tecnologia e indústria inteligente. A conjugação destas valências, que são únicas, permite que atuemos desde o início até ao final da cadeia de valor, oferecendo uma integração total e distinguem-nos da concorrência. O nosso crescimento evidencia este sucesso.
A comunicação transparente, fluída e atempada é um fator vital e um catalisador de uma cultura assente em valores, segundo os quais vivemos e que queremos partilhar e, por isso, a permanente interação é fundamental: desde as townhall com todos os colaboradores, passando pelas iniciativas do pequeno-almoço com o CEO e de passar um dia com o CEO. Muitos são os projetos “out of the box” que vão ver a luz do dia nos próximos meses, mas ainda não podem ser divulgados.
Muitos são os projetos “out of the box” que vão ver a luz do dia nos próximos meses, mas ainda não podem ser divulgados.
Fã assumida de networking, como está a ser a participação da empresa na Web Summit, além da intervenção do global head of Research & Innovation?
Sim, verdade. Sou uma fã de networking que nos ajuda diariamente a chegar ao além-fronteiras em apenas 30 segundos proporcionando aos nossos networkers um conhecimento de tudo o que fazemos da nossa cultura, dos nossos valores, da nossa inovação, dos nossos prémios. A Capgemini participará, além da nossa intervenção como orador, como espectador ativo, ávido de saber mais, na maior conferência de tecnologia do mundo com mais de 70 mil participantes. Iremos ter oportunidade de escutar e de interagir com os maiores profissionais, visionários e start-ups do setor, com a missão presente de criar o futuro e de ver mais além. É um evento mundial onde marco presença. Teremos a oportunidade de interagir e alavancar conhecimento e negócio com parcerias sustentáveis e de criação de valor.
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