“A economia é como um avião com quatro motores em que dois vão desacelerar”. “A solidez de cada árvore não garante a sustentabilidade de uma floresta”. “Quem estaciona morre”.

Quem disse? A mesma pessoa que disse esta semana que o Novo Banco era um “cabaz de fruta que estava parcialmente apodrecida”. Ao longo da década em que esteve à frente do Banco de Portugal, Carlos Costa habituou-nos às metáforas, algo rebuscadas, que utilizava para nos explicar as bases da economia ou o contexto da estabilidade financeira.

A intervenção do antigo governador do Banco de Portugal na CPI às perdas do Novo Banco, atribuídas ao Fundo de Resolução, seguiu no mesmo estilo, de alguém que nos tinha de explicar, de forma lenta e simples, como as coisas funcionam.

Carlos Costa explicou que já despendeu mais de 70 horas em audições no Parlamento sobre o BES e o Novo Banco, como se isso fosse uma medalha de honra. Antes pelo contrário, o facto de ter de ser chamado de novo mostra que a questão requer mais perguntas.

O ex-governador provavelmente tem razão sobre o estado do ‘cabaz de fruta’ que foi vendido ao Lone Star. Era uma mistura de ativos bons, que o banco bom aproveitou e vai continuar a aproveitar, e de pedaços de fruta podres que sobraram do antigo dono, designado de banco mau.

Não nos fez grande favor, Carlos Costa, ao explicar esta situação, porque há anos que estamos fartos de saber que somos nós, os contribuintes, a pagar a conta.

A citação colorida da fruta foi a mais citada, mas a parte mais interessante da audição foi ver o antigo governador atacar João Costa Pinto, que liderou o relatório que herdou o seu nome, que critica a atuação do supervisor no acompanhamento ao Banco Espírito Santo, e que durante anos foi escondido dos portugueses.

É como atacar o mensageiro, porque mesmo se acreditarmos em Carlos Costa quando diz que não houve complacência, que reuniu com Ricardo Salgado 15 vezes, e que houve uma intervenção ativa do Banco de Portugal, é difícil acreditar que não tenham sido cometidos erros.

A supervisão do BES foi um pesadelo para o banco central, mas a defesa do ex-governador não é convincente. Dizer que defendeu o sistema e que ele não colapsou não é suficiente quando milhares de clientes foram lesados, muitos perdendo as poupanças de uma vida inteira em aumentos de capital e emissões de papel comercial que eram desenhados, desde o início, para os enganar.

Ninguém espera que um governador de banco central faça um mea culpa sobre um colapso de um banco. Mas espera-se, no mínimo, que admita que nem tudo correu bem e que não tente fingir que de repente herdou um cabaz de fruta podre e que fez o melhor possível.

Em 2016, empregando outra metáfora, Carlos Costa chegou perto de uma admissão de responsabilidade. Sobre o não ter visto a tempo o colapso das falências das empresas não-financeiras do GES, confessou que sente “a mesma frustração de um polícia que chega atrasado ao local do homicídio”.

Tem toda a razão, o polícia não teve culpa no homicídio, mas teve culpa de não ter chegado a tempo para evitá-lo. Não é um polícia a quem eu daria uma medalha.