[weglot_switcher]

Carlos Costa alerta: falta de união na Europa contra a Covid-19 vai “alimentar o populismo”

Se os países saírem da crise a um ritmo diference e com diferentes níveis de coesão social e de força económica, isso terá um grande impacto em termos políticos, porque irá alimentar o populismo — um grande risco para a aceitação da UE”, vincou o ainda Governador do Banco de Portugal, numa entrevista à OMFIF.
  • Cristina Bernardo
17 Julho 2020, 16h20

O ainda Governador do Banco de Portugal (BdP) e membro do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE), Carlos Costa, alerta para uma das principais consequências políticas se os Estados Membros da União Europeia (UE) não se unirem eficazmente contra o impacto económico da Covid-19: o reforço dos movimentos populistas.

Numa entrevista ao Fórum Oficial das Monetárias e Financeiras (da sigla inglesa, OMFIF), publicada esta sexta-feira, Carlos Costa mostrou-se “muito preocupado” a possível recuperação dos Estados Membros da UE a diferentes velocidades.

“Se não tivermos em atenção de que precisamos de dinheiro público para preservar a coesão social, vamos criar um problema. carlos que, na próxima segunda-feira, será sucedido por Mário Centeno na liderança do banco central nacional e no Conselho de Governadores do BCE, o órgão de Frankfurt que decide a política monetária para a zona euro.

“Se compararmos os custos, a solidariedade será mais barata do que o custo de oportunidade de quebrar as cadeias de produção, quebrar o mercado interno e quebrar a solidariedade social”, reforçou Carlos Costa.

O Governador enfrentou duas crises económica e disse que a crise financeira de 2008 e 2009, que depois se ‘transformou’ numa crise de dívidas soberanas, é distinta da crise da Covid-19.

A primeira, “teve origem no sistema financeiro”, enquanto a segunda deveu-se a um “choque externo”, na qual, Carlos Costa, enalteceu a importância das moratórias ao crédito.

A crise causada pelo novo coronavírus teve um “primeiro impacto nas condições sanitárias, depois na oferta por causas as medidas de contenção do contágio [do vírus], e depois nos fluxos de dinheiro e rendimentos e, depois, na procura. Em paralelo, observámos um impacto no setor financeiro porque deixou de ser possível de reembolsar o capital ou de pagar juros, o que levou à tomada de decisões sensatas na aceitação de moratórias nos pagamentos de juros e do principal”, disse Carlos Costa.

Neste domínio, Carlos Costa enalteceu a importância da transmissão da política monetária decidida em Frankfurt para as economias dos países da zona euro, sem a qual não haverá recuperação da economia.

“Para cumprirmos o nosso mandato, temos de assegurar que a política monetário vai elevar a taxa de inflação para a meta, que é perto de, mas abaixo dos 2%. Para isso, é preciso assegurar que a política monetária é transmitida de forma apropriada. Existem dois riscos à sua transmissão: fragmentação geral e transmissão monetária e bancária. Precisamos de atuar sobre os dois riscos para assegurar a subida da inflação. Isto requer uma economia reparada com crescimento do emprego e da economia. Não existe estabilidade sem a transmissão da política monetária. E, sem transmissão da política monetária, não haverá recuperação. E, se não houver recuperação, não haverá ressurgimento”, vincou Carlos Costa.

O Governador trabalhou com três presidentes do BCE diferentes — Jean-Claude Trichet, Mario Draghi e Christine Lagarde. Sobre todos eles, realçou que o BCE teve a felicidade de ter “o presidente certo no momento certo”.

“Com Jean-Claude Trichet, foi muito importante reforçar o BCE. Tivemos de ser pacientes e de negociar muito. As qualidades do Jean-Claude Trichet serviram muito bem este propósito. Quando chegou o Mario Draghi, precisávamos de alguém com clarividência. E percebeu muito bem as relações de força, quando era possível, ou não, andar para a frente. E percebeu quando tinha o apoio da maioria. Mario Draghi percebe o que é essencial e fê-lo muito bem. Na fase em que estamos agora, é necessário uma mistura entre as abordagens de Trichet e de Draghi. A Christine Lagarde tem as qualidades para assegurar esse simbiose: dando atenção suficiente aos passos que têm de ser dados e ao mesmo tempo assegurando que as relações permanecem fortes e próximas. Ela é a pessoa certa para o momento certo”, afirmou Carlos Costa.

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.