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Carlos Costa: Endividamento das famílias é uma “vulnerabilidade da economia”

Governador do Banco de Portugal salientou, numa audição na Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa (COFMA), as taxas de poupança das famílias se fixam abaixo da média da zona euro e recuou no primeiro semestre de 2018.
Cristina Bernardo
19 Dezembro 2018, 11h16

O governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, defendeu esta quarta-feira que Portugal regista “uma insuficiência crónica” de poupança face às necessidades de capital da economia portuguesa, nomeadamente quando comparado com os países da zona euro.

Numa audição sobre a evolução do endividamento das famílias, na Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa (COFMA), no Parlamento, o regulador referiu que esta tendência se aplica quer nas taxas de poupança dos particulares quer das sociedades não financeiras e salientou a necessidade de aumentar os níveis de poupança.

Carlos Costa explicou que o endividamento dos particulares não é indiferente para a trajetória de crescimento do produto potencial da economia, uma vez que o crescimento económico, estabilidade financeira e endividamento sustentável são indissociáveis.

“Embora o rácio de endividamento das famílias portuguesas, em percentagem do rendimento disponível, tenha vindo a diminuir desde 2010, ele permanece ainda acima da média da área do euro, constituindo um elemento de vulnerabilidade da economia, em especial num quadro de expectativas de abrandamento da atividade económica global”, assinalou.

O governador salientou que as baixas taxas de poupança aumenta “essa vulnerabilidade”, fixando-se abaixo da média da zona euro e tendo voltado a reduzir-se no primeiro semestre de 2018. Em causa está o facto de uma maior percentagem de famílias portuguesas ser detentora de imóveis e de financiar a aquisição através do recurso ao crédito.

“Em comparação com os restantes países da área do euro, as famílias portuguesas têm maiores rácios do serviço da dívida e do montante da dívida no rendimento, mas, na maioria das classes de rendimento, um menor rácio da dívida face aos ativos”

Carlos Costa sublinhou que Portugal é, assim, dos países europeus onde os os ativos não produtivos – que incluem os imóveis excluindo os utilizados para habitação habitação própria, para arrendamento ou para atividades empresariais pelos proprietários, e outros bens de valor – representam 20% da riqueza total do país, enquanto a 10% na zona euro.

“Importa pois ter presente que o endividamento não é um problema de per si”, defendeu, acrescentando que as decisões de poupança e de endividamento “visam fazer face à volatilidade do rendimento de forma a alcançar um consumo próximo do desejado ao longo da vida”.

No final do primeiro semestre, o endividamento das famílias em Portugal foi de 71% do Produto Interno Bruto, o que corresponde a 104% do rendimento disponível, segundo dados do BdP. No Relatório de Estabilidade Financeira de dezembro, o regulador assinala que a dívida dos particulares reduziu 24 pontos percentuais desde os máximos históricos de 2009. No entanto, face ao final de 2017, apenas registou uma queda de um ponto percentual, refletindo uma desaceleração da redução do rácio da dívida.

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