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Carlos Costa: “Sem transparência e contas auditadas é dificil confiar no tecido empresarial”

Governador do Banco de Portugal referiu, na conferência “Via Bolsa”, organizada pela Euronext, que “há escassez de empresas que tem os requisitos de transparência e de dimensão, que são necessários mesmo para gerar confiança do lado dos investidores”.
  • Cristina Bernardo
19 Fevereiro 2019, 15h01

O governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa disse esta terça-feira que o mercado de capitais em Portugal enfrenta uma escassez de empresas que preencham os condições suficientes de transparência e escala para dar confiança aos investidores, incluido os que querem ter uma maior exposição ao risco.

Na conferência anual da Euronext “Via Bolsa – Financiamento através do mercado de capitais”, no Museu do Dinheiro, em Lisboa, Carlos Costa alertou que: “sem transparência, sem contas auditadas é muito difícil confiar e criar confiança no tecido empresarial.

Sublinhou que do lado do mercado de capitais, “há escassez de empresas que tem os requisitos de transarência e de dimensão, que são necessários mesmo para gerar confiança do lado dos investidores, mesmo da parte daqueles que têm maior apetite para o risco”.

O Governador do Banco de Portugal alertou ainda que  Portugal não dispõe de estruturas vocacionadas para o financiamento de novos empreendedores, sobretudo quando iniciam projetos de maior risco. “Os operadores especializados estão ainda pouco desenvolvidos e têm possibilidades limitadas de se associar a operadores estrangeiros de maior dimensão”.

Carlos Costa explicou que na captação de poupanças, o mercado de capitais está muito dependente da forma como concorre com o sistema bancário “no binómio risco/remuneração”, adiantando que isso significa que tem de ter capacidade para mitigar o risco através da transparência e de produtos de investimento que absorvam em parte riscos de projetos específicos, como é o caso dos fundos de investimento.

“O tecido empresarial português é dominado por empresas de pequena e média dimensão (PME), com insuficiência de capitais próprios e incapacidade de absorção de perdas”, vincou. “Por conseguinte, é necessário diversificar a oferta de produtos financeiros e promover o acesso de mais empresas ao mercado de capitais. Do ponto de vista das empresas, as vantagens potenciais decorrem de maiores volumes de capitais próprios, menores rácios de alavancagem e maior resiliência ao ciclo económico”.

Atualmente, temos um sistema bancário que tende a mitigar o risco através da obtenção de colateral e que, por isso, favorece as empresas já estabelecidas relativamente aos novos investidores, referiu.

O Governador do banco central salientou que numa economia que tem insuficiência crónica de poupança e que para ter um surto de investimento precisa de poupança externa, é necessário “por um lado, que as empresas portuguesas tenham capacidade para emitir ativos atraentes para os investidores internacionais e, por outro, que os bancos tenham capacidade de titularizar os seus créditos e colocar esses títulos junto de investidores institucionais internacionais”.

SIGI podem promover captação de investidores de longo prazo

Carlos Costa falou ainda na recente entrada em vigor da regulamentação que permite a constituição em Portugal – à semelhança daquilo que já existe noutros países – das Sociedades de Gestão e Investimento Imobiliário (SIGI). A atividade principal das SIGI consiste na aquisição de direitos reais sobre imóveis, para arrendamento ou outras formas de exploração., explicou.

“Para além de promoverem a aproximação do setor imobiliário ao mercado de capitais, as SIGI podem potenciar a captação de investidores (nacionais e estrangeiros) com perfil de mais longo prazo que procuram uma diversificação da sua carteira”, frisou.  “O surgimento deste tipo de sociedade é também potenciador de uma maior liquidez do mercado imobiliário e da dinamização do mercado de arrendamento”.

Adiantou que estas condições são particularmente importantes no caso da economia portuguesa – em que o mercado de habitação é dominado pela habitação própria – porque podem contribuir para uma maior mobilidade do fator trabalho. Efetivamente, estudos mostram que a mobilidade laboral é maior em países com mercado de arrendamento dinâmico.

(Atualizada às 15h18)

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