A recuperação do mercado accionista global, durante os primeiros meses de 2019, tem sido quase tão brusca quanto a correcção a que se assistiu no último trimestre de 2018. A recuperação foi alimentada por um travão no ritmo de normalização da política monetária, por uma aproximação (também ela relativamente rápida) entre os EUA e a China, e por alguns sinais de estabilização económica vindos da China.

Se por um lado a recuperação do mercado accionista o trouxe para muito perto dos máximos marcados em 2018, por outro o abrandamento da normalização por parte dos bancos centrais das regiões desenvolvidas atiraram as yields do mercado obrigacionista para novos mínimos. Com o mercado accionista em torno de máximos e as yields em torno de mínimos, os investidores sentem-se com poucas opções atrativas de investimento. Tudo parece caro segundo os níveis de avaliação históricos.

Esse é um sentimento que surge com cada vez mais frequência e ao qual os investidores se devem habituar. Se nos últimos dez anos o mercado foi brindado com retornos acima de média, impulsionados por políticas monetárias ultra expansionistas, nos próximos anos irá provavelmente sofrer a ressaca desse brinde. Mesmo que os bancos centrais sejam lentos a subir as taxas de juro…

Esperam-se retornos baixos (mas positivos), com padrões de volatilidade parecidos aos que temos tido nos últimos três anos (períodos de estranha calma seguidos de picos de volatilidade).

A tentação perante uma expectativa destas é provavelmente de reduzir a exposição a activos financeiros e ter uma maior fatia da carteira em liquidez. Faz sentido ceder a essa tentação, mas só até certo ponto. Por segura que seja a liquidez, ela não é gratuita. Uma inflação entre 1% a 2% ao ano é um custo relevante ao fim de alguns anos, e investir em activos financeiros é a melhor forma de o combater, mesmo que com retornos baixos.

A melhor maneira de navegar estas “dificuldades” de investimento é mesmo aceitar que níveis de avaliação careiros vieram para ficar e ser-se ágil quando as oportunidades surgem. O caro é o novo normal e quem não aceitar isso arrisca-se a ver os retornos passar enquanto a inflação vai desgastando o valor das suas poupanças.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.