Depois das recentes nomeações é difícil não continuar a associar carreirismo a políticos e aos “jotas”. Alguns dirão que é Portugal no seu melhor, outros esperam para ver e dão sempre uma oportunidade, mas a verdade é que é do senso comum que 2022 foi um ano perdido para a recuperação económica e para a definição de estratégias.

A primeira crónica do ano não pode deixar de ser política e negativa. Vamos aos exemplos. A habitação passou a ser ministério, com os organismos do setor a aplaudirem a opção. Liderado por uma senhora, Marina Gonçalves, de uma terra que tem dado “grandes” portugueses ao mundo, vai ter uma das maiores fatias do PRR para executar e, diga-se em abono da verdade, que é um setor que repete falhas e não resolve os dramas da população que vive sem habitação, e de jovens sem soluções para se lançarem na vida.

O exemplo flagrante é o do “Arrendamento Acessível”, uma iniciativa que foi votada ao fracasso desde o início e, curiosamente, uma semana antes do ministro da tutela na altura, Pedro Nuno Santos, abandonar o Governo motivado pelo assunto TAP, foi rebatizado o programa que passou de PAA, Programa de Arrendamento Acessível, para PAA, Programa de Apoio ao Arrendamento. O fracasso é evidenciado pelos próprios promotores, que esperavam um peso da ordem dos 20% deste programa relativamente a todos os contratos novos de arrendamento que se realizassem desde 2019, mas o peso não foi além de 0,4%…

Depois, temos o ministro substituto de Pedro Nuno Santos e que nas redes sociais manteve alguma conversa truculenta e terá necessidade de se resguardar até porque tem dossiês dificílimos e que estão sempre a ser “ateados”, caso da TAP ou mesmo da ferrovia. Estamos a falar de governantes da esquerda do PS. Ora, a subida de João Galamba a ministro das Infraestruturas é um claro sinal de que Pedro Nuno Santos pode ter perdido a batalha, mas não a guerra para o PSD. Galamba é do mesmo inner circle que Duarte Cordeiro ou Pedro Delgado Alves, que está em todas as televisões.

A conclusão parece ser óbvia. Após a saída do Governo do ex-ministro os chamados “pedronunistas” acautelaram os seus interesses, dentro e fora do Executivo. Pedro Nuno Santos irá para o parlamento dentro de um mês, onde deverá ser incómodo, sobretudo para o atual ministro das Finanças, Fernando Medina, o arquirrival e concorrente pela liderança do PS.

A verdade é que esta remodelação, a par do Presidente da República dizer que se tratou de ir buscar “a prata da casa”, revela que com menos de um ano de governo, este Executivo está esgotado e o primeiro-ministro perdeu a capacidade de recrutamento no partido, nas universidades e na sociedade civil. Claro que não escamoteamos a sua capacidade para se reinventar, mas o cansaço é grande. E num ano que será económica e financeiramente difícil, António Costa junta a isto a instabilidade política e um Governo que está cada vez mais fraco aos olhos da opinião pública e dos portugueses.

A questão passou a ser quanto tempo é que vai durar este Governo, se é que dura. Nas próximas eleições europeias, partidos como o Chega poderão ver a sua posição reforçada. Os maiores partidos dão-lhe essa possibilidade. E para as eleições de 2026, o PS caminha completamente esfarrapado. Até do ponto de vista dos seus sucessores a melhor notícia para estes seria uma crise política, para depois terem tempo para fazer a rodagem até às eleições.