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Carros elétricos: O futuro ao virar da esquina

A eletrificação do automóvel não é uma tendência, é uma certeza. Não falta muito para que as baterias de carros utilitários tenham autonomia para 400 quilómetros. Um dos focos em que as marcas estão a apostar é na renovação do sistema de recarga, para evitar penoso tempo de espera.
19 Agosto 2017, 11h00

Elétrico ou híbrido, plug-in ou paralelo, com e sem extensor de autonomia, não esquecendo os mild-hybrid. As possibilidades são infinitas para quem pretende um veículo mais amigo do ambiente. A eletrificação do automóvel é também um caminho inexorável que os construtores têm todo o gosto em percorrer, a julgar pela constante aposta feita em novas tecnologias e modelos. As vantagens são mútuas.

Mais de cem anos depois de a locomoção elétrica ter sido inventada, a ideia de ligar um carro à tomada mantém-se viva. Em 1900, já o Lohner-Porsche Semper Vivus, a primeira criação de Ferdinand Porsche, era um elétrico puro.

Então porque desapareceram os motores elétricos? Tudo se deveu à ideia de colocar o motor elétrico ao serviço do motor a combustão, para fazê-lo “pegar”. Foi, assim, a invenção do motor de arranque a dar a machadada final nas propostas elétricas do início do século XX.

Mas o espírito do Semper Vivus tem ganho novo alento nos últimos anos. Primeiro porque o mundo percebeu que a pegada ecológica do motor térmico está a matar o planeta, segundo devido ao crescente aumento do custo dos combustíveis fósseis, impulsionado pela sua “iminente” escassez. Curiosamente, agora é o motor térmico que serve o elétrico, fazendo da tecnologia híbrida plug-in um modelo decisivo na transição para uma locomoção puramente elétrica, colmatando as limitações de autonomia.

No mercado convivem atualmente vários modelos mais ou menos eletrificados. Dos híbridos convencionais aos plug-in, sem esquecer os 100% elétricos, as vendas têm crescido de forma sustentada. Em 2016, o mercado mundial de veículos eletrificados valeu 775 mil unidades, mais 229 mil do que no ano anterior, segundo dados do Ev-Data Center, cujas projeções para 2017 são de 1,13 milhões de unidades.

Em termos de quota de mercado, os últimos cinco anos foram de crescimento acentuado. Dos 0,07% do total mundial que valia em 2011, os veículos eletrificados foram responsáveis, em 2016, por 0,84% das vendas mundiais, quota que o EV-Data Center estima vir a crescer para 1,2% no final deste ano.

Desafio ambiental

Apesar de estar longe de ser um produto de massas, o automóvel eletrificado deixou de ser uma tendência para ser uma certeza. As vendas têm sido alavancadas por uma maior consciencialização ambiental, tanto de particulares como dos Estados, que cada vez mais restringem a utilização de modelos com motor térmico. Exemplo é o compromisso assumido no final de 2016 pelos autarcas das cidades de Paris, Madrid, Atenas e Cidade do México de, até 2025, proibir a circulação de veículos Diesel nas suas cidades. Em Londres a opção foi a de obrigar, a partir de 1 de janeiro de 2018, todos os táxis a ser ou 100% elétricos ou capazes de circular em modo zero emissões.

Mas nem só as edilidades veem desvantagens nos motores térmicos. Alemanha e Índia são exemplos de países que já aprovaram o fim da venda de veículos com motores térmicos, ambos apontando o ano de 2030 como meta.

Atentos a estas alterações, os construtores também têm agido no sentido de oferecer ao mercado cada vez mais propostas elétricas e/ou eletrificadas. Veja-se o caso da Volvo, que declarou que, a partir de 2019, nenhum dos seus veículos novos montará motorizações exclusivamente térmicas e que pretende ultrapassar a fasquia de um milhão de elétricos vendidos até 2025. A mesma meta tem a Volkswagen, que, a caminho da eletrificação total, se prepara para introduzir na sua gama a tecnologia mild-hybrid.

Utilizando um motor elétrico de 48 Volt posicionado entre o motor de combustão e a caixa de velocidades, alimentado por uma uma bateria recarregada com energia cinética das rodas, a tecnologia mild-hybrid é mais barata e menos complexa que os restantes sistemas híbridos. Por isso, vários analistas acreditam que esta tecnologia terá um grande impacto no mercado. As previsões da IHS Automotive apontam para que, em 2025, os mild-hybrid correspondam a 18% do mercado europeu, por oposição aos 6% que valerão os modelos plug-in e aos 3% que deverão caber aos full hybrid.

As vantagens desta tecnologia não passam despercebidas aos construtores, que terão na tecnologia mild-hybrid a oportunidade de propor aos clientes veículos amigos do ambiente e mais baratos do que as opções atuais, nem a fornecedores, como a Continental, que fornecerá o motor para o Renault Scenic Hybrid Assist e prevê que este tipo de motorização pode vir a ser usado por cerca de quatro milhões de veículos até 2020 e por 25 milhões de carros cinco anos depois.

Ir mais longe

Com o futuro do planeta assente nos seus ombros, os modelos eletrificados têm de afirmar-se como uma alternativa viável aos térmicos, não apenas em termos de preço, mas também em termos de usabilidade.

No que respeita ao preço, a evolução da tecnologia base dos veículos elétricos está a tornar-se cada vez mais barata, aproximando os preços de compra, o que faz com que a Bloomberg vaticine que, em 2025, os modelos 100% elétricos passarão a ser mais baratos que os carros a gasolina. A previsão é justificada com a descida do preço das baterias, componente ao qual se deve, atualmente, cerca de metade do preço dos elétricos. A agência londrina prevê que os preços das baterias baixem cerca de 77% até 2030, o que levará o PVP dos elétricos a ser inferior ao dos modelos a gasolina.

No caminho para uma mobilidade 100% elétrica, além de garantir uma convergência de preços, há também que potenciar a autonomia, um dos grandes entraves à massificação das propostas 100% elétrica.

Este tem sido o foco dos departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento de construtores automóveis e fornecedores de componentes, que defendem ter conseguido mais que duplicar a capacidade das baterias nos últimos seis anos. Ao mesmo tempo, analistas do setor referem que, em 2030, a capacidade das baterias deverá ser 73% superior face aos dias de hoje, com a densidade (quantidade de energia armazenável num dado espaço físico) a duplicar no mesmo período.

Ou seja, daqui a 13 anos, modelos como o Tesla Model S poderão passar a oferecer perto de 1000 km de autonomia e mesmo veículos mais “convencionais”, como o Renault ZOE ou o Nissan Leaf, verão as suas autonomias crescer para valores de cerca de 400 km, ajudados pela diminuição do peso e tamanho das baterias necessárias para tal.

Com o aumento da capacidade das baterias, terá de ser renovado o sistema de recarga, para evitar que o já penoso tempo de espera cresça ainda mais. Esse é outro dos focos de desenvolvimento, que vai dando frutos. Por exemplo, na apresentação do Kangoo Z.E., a Renault revelou um novo carregador, mais rápido que o atual. A marca francesa pretende ir mais longe e, em conjunto com a Qualcomm Technologies e a Vedecom, está a desenvolver um sistema que permite que os veículos elétricos possam ser recarregados em andamento, eliminando por completo o problema da autonomia. Atualmente em fase de testes, o sistema é capaz de carregar 20 kW de eletricidade a velocidades que podem ir até aos 100 km/h.

Se por um lado ultrapassa alguns obstáculos com que se depara a indústria, esta evolução das baterias levanta problemas de outra ordem. Um deles – talvez o mais premente – é a disponibilidade das matérias-primas. Estima-se que as reservas de cobalto, um ingrediente-chave nas baterias de iões de lítio, estarão esgotadas até 2030 se o mercado de EV atingir os 12,5% de quota de mercado, como muitas consultoras prevêm.

Atentando nestas projeções, algumas empresas mineiras estão já a pensar em aumentar a sua produção de cobalto, o que, por seu turno, levou a que o preço deste material tenha duplicado nos últimos 12 meses, em antecipação ao aumento da procura.

Por outro lado, o aumento da venda de EV retirará protagonismo ao petróleo, com os efeitos que se esperam para as economias que dele dependem, mas, ao mesmo tempo, trará consigo um aumento da produção de energia a partir de fontes renováveis, para diminuir os custos com a carga e com a própria produção destes modelos, o que abre portas a novas apostas de mercado.

O futuro apresenta-se, assim, cheio de desafios e oportunidades para os vários players da indústria.

Neste campo, quem conseguir acompanhar o ritmo da inovação tecnológica e oferecer produtos ou serviços a preços competitivos terá o seu lugar assegurado na nova ordem das coisas.

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