Exmo. Senhor. Dr. Jorge Sampaio

A 10 de Dezembro de 2004 comunicou ao País a decisão de dissolver o Parlamento. Justificou que o executivo de Santana Lopes sofria de uma “grave crise de credibilidade” provocada por “sucessivos incidentes e declarações, contradições e descoordenações”. Afirmou que esses “episódios” – que detalhou agora na sua biografia – haviam contribuído “para o desprestígio do Governo, dos seus membros e das instituições, em geral”. Curiosamente, estas palavras parecem reportar-se aos dias de hoje. Senão vejamos:

  1. Uma maioria parlamentar que se desmancha na presença de adversidades, como ficou logo demonstrado na votação do orçamento rectificativo de 2015;
  2. Um Governo que convive mal com entidades independentes e que sujeita entidades reguladoras a cativações, apesar da sua autonomia financeira estar prevista na Lei;
  3. Um primeiro-ministro que foi de férias abandonando o seu Governo num momento dificílimo e que no regresso pressionou a empresa que pretende adquirir a TVI;
  4. Um ministro dos Negócios Estrangeiros que comparou a concertação social a uma “feira de gado”;
  5. Um ministro das Finanças que se envolveu num folhetim sobre entregas de declarações ao Tribunal Constitucional;
  6. Um ministro da Defesa Nacional fragilizado após o roubo em Tancos e desmentido pelo primeiro-ministro;
  7. Dois tenentes-generais que se demitiram por divergências com o Chefe de Estado Maior do Exército e oficiais que quiseram depor espadas;
  8. Uma ministra da Administração Interna fragilizada que permitiu que entidades por si tuteladas andassem num passa-culpas no caso da tragédia de Pedrógão;
  9. Um ministro da Educação a braços com uma fuga num exame nacional do 12.º ano;
  10. Secretários de Estado que se demitiram por causa do “Galpgate”;
  11. Uma secretária de Estado que afirmou não saber porque foi exonerada, embora no Diário da República conste que foi a própria a pedir para sair;
  12. Serviços públicos em grandes dificuldades.

Perante tais trapalhadas, o que faria caso ainda fosse Presidente da República? Mas mais importante: o que aconselharia ao Professor Marcelo?

 

Com os melhores cumprimentos,

Ricardo Ferraz

 

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.