Caro Primeiro-Ministro, Cara Primeira-Ministra,
Escrevo-lhe ainda longe de saber quem será, mas com a clareza da coragem que precisará de ter para enfrentar os desafios atuais.
Saberá, certamente, que as alterações climáticas e a perda de biodiversidade são dois dos maiores desafios do nosso tempo. Como chefe de Governo, cabe-lhe a si orientar o seu executivo para enfrentar estes desafios com urgência, coragem e determinação.
A mensagem que os portugueses lhe enviaram é clara – é tempo de dar prioridade à Natureza. Segundo dados da GlobeScan, quatro em cada cinco portugueses querem reduzir o seu impacto no ambiente, e quase metade reconhece que não bastam os esforços individuais para o conseguir – a mudança passa pela ação do Governo e das empresas.
A sustentabilidade planetária não é necessária apenas para o bem dos animais, dos rios, das florestas, do oceano. É, antes, uma obrigatoriedade para a nossa sobrevivência enquanto espécie. Um estudo da WWF, da Global Trade Analysis Project e do Natural Capital Project indica que, num cenário global de “business-as-usual”, a redução do fornecimento dos serviços do ecossistema (os benefícios que a natureza nos fornece gratuitamente) por si só levaria a uma queda de 0,67% no PIB global anual até 2050, o equivalente a uma perda anual de 479 mil milhões de dólares.
Outro estudo recente indica que “a adoção de uma trajetória compatível com o Acordo de Paris – um aquecimento global não superior a 1,5º – poderá poupar à União Europeia (UE) pelo menos um bilião de euros até 2030, o equivalente a cerca de quatro vezes o PIB português”.
O relatório quantifica os benefícios em termos de saúde, emprego, custo de vida, bem-estar, segurança energética e recursos proporcionados por uma ação climática alinhada com a trajetória de 1,5°C, ou seja, uma redução das emissões na UE de, pelo menos, 65% até 2030. A conclusão inequívoca é de que os benefícios superam largamente os custos – tornar as emissões compatíveis com o 1,5°C poupa ao país mais de 16 mil milhões de euros. Este argumento económico deveria convencer até os decisores políticos mais céticos.
Sr. Primeiro-Ministro, Sra. Primeira-Ministra: o mundo natural é o que nos sustenta. O ritmo destrutivo que imprimimos ao Planeta está a tornar-se insustentável. Cada vez mais se acentuam disparidades, os limites de pobreza estão continuamente a ser testados por conflitos e, agora, pelos efeitos das alterações climáticas e da perda de biodiversidade.
No nosso país, estamos a viver numa realidade de seca prolongada no Sul, com necessidade permanente de medidas extraordinárias que custam já milhares de euros ao erário público, para não falar nos mega incêndios que nos assolam ano após ano. Para encontrar um equilíbrio entre a natureza e um mundo justo para as pessoas é essencial encetar uma ação urgente e responsável, sem hesitações, colocando a Natureza no centro de todas as decisões.
O caminho a seguir trará desafios. A mudança não vem facilmente. Mas, ao liderar este Governo, deve-o a todas as pessoas que depositaram em si a sua confiança. Natureza próspera e prosperidade económica e social caminham lado a lado e só uma liderança responsável será capaz de oferecer a todos nós e às gerações futuras um Planeta Vivo.
Contamos consigo para apoiar a Natureza, defender a vida e construir um Portugal mais positivo para todos os portugueses, um país onde a Natureza importa.