Queridas/os alunas/os,

Antes de mais, sejam bem-vindas/os à Universidade. A viagem para mais um ano letivo começa, para uma parte de vós, esta semana. Nela, cabem as experiências mais marcantes das vossas vidas, onde o novo passa a ser a vossa companhia diária e as adaptações constantes as vossas mais presentes amigas. Estão a começar o vosso percurso no ensino superior, estão à procura de concretizar sonhos, de alcançar objetivos – vossos e da vossa família –, estão, quem sabe pela primeira vez, na cidade que se encosta à Serra da Estrela e na universidade que está na Beira Baixa e no interior centro do país. Antes de continuarmos, queremos que se sintam muito bem-vindas/os e dizer-vos que é indescritível a alegria de vos receber.

Esta é uma carta para vós: que estais a chegar, a conhecer um novo local, uma nova cidade, uma nova universidade, uma nova turma e novas/os Professoras/es. Sabemos que todas estas novidades causam, por si, um turbilhão de emoções – que tão bem conhecemos porque o testemunhamos de ano para ano. Contudo, este ano, por haver este desconhecido parasita e esperto entre nós, o cenário é, naturalmente, de maior apreensão, de algum receio e de cuidados e atenção permanentes. Este vírus novo que se reveste de corona tem tomado conta das nossas vidas – dentro e fora da universidade.

Não, não vamos dizer que se instalou o “novo normal”, porque não há, na verdade, nada de normal na forma como hoje desenvolvemos as nossas atividades. Vamos dizer que, apesar do receio, apesar de alguma insegurança, apesar da procura permanente de soluções que tardam muitas vezes, as aulas em presença dão um sentido mais intenso do que outrora à partilha do conhecimento e à busca de novas aprendizagens. Não desvalorizando a importância que as aulas à distância tiveram, têm e possam vir a ter, a emoção de vos poder encontrar na sala de aula, nos laboratórios, nos estúdios, na biblioteca, na esplanada do bar ou no jardim é tão profunda que se assemelha a um reencontro da liberdade após período de reclusão.

E então porque é que vos escrevemos se nos vamos encontrar um dia destes? Porque queremos partilhar convosco que somos solidárias com a vossa inquietude, com as vossas dúvidas e com as vossas incertezas sobre o ano atípico e insólito que agora começa. Sim, partilhamos o vosso receio, mas também o vosso desejo de que tudo corra bem e que possamos viver a universidade em comunidade. Porque a ideia de universidade, desde a sua origem, é precisamente a de um espaço onde se reúnem todos os saberes, um encontro intelectual, mas também cívico e social, entre docentes, investigadores e alunos.

Não podemos deixar que a pandemia infete uma das coisas mais importantes na profissão de docente – a construção de relações. A relação professor-estudante constrói-se em presença, com empatia e respeito mútuo, mesmo quando se esgrimem argumentos. Como qualquer relação, implica envolvimento, compromisso, confiança e investimento nessa mesma relação, por ambas as partes. Os relacionamentos alimentam-se de sentimentos, mas também de tempo, energia, esforço pessoal e diálogo.

Por isso mesmo, não acreditamos que a absoluta mediação tecnológica possa ser o único paradigma vigente na nossa vida académica. O ecrã dificulta o pathos, remove a ligação emocional entre professor-estudante e entre os próprios estudantes. Para o docente é difícil dar um feedback cuidado sem ter a sensação de que está a falar para o vazio. Para o estudante é fácil desconcentrar-se quando tantos outros estímulos o rodeiam, sejam as redes sociais ou o próprio ambiente doméstico. Claro que vamos todos tentar, mas sabemos que será difícil criar relacionamentos, ou mantê-los por muito tempo, através de um ecrã de computador ou de telemóvel, apesar do fantástico fundo virtual que escolhemos mostrar por detrás das nossas costas.

Queremos, portanto, dizer-vos que esta é – tanto para nós como para vós – uma nova forma de vida, um admirável mundo novo, onde os afetos se limitam mas se reinventam; onde os ajuntamentos são potencialmente perigosos, contudo, necessários com cumprimento das regras de segurança; onde o sorriso fica atrás da máscara, mas renascido no olhar de todos e de cada um/a.  Esta é, também, uma nova forma de aprendizagem, na qual todas/os temos de contar com todas/os. Hoje, mais do que nunca, faz sentido pensar a comunidade académica como o pedagogo Paulo Freire: “Escola é sobretudo, gente. Gente que trabalha, que estuda. Que alegra, se conhece, se estima”.

Querida/o estudante, bem-vinda/o ao primeiro dia do resto da tua vida.