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Carta de Einstein que nega existência de Deus pode valer 1,3 milhões de euros

“A palavra de Deus não é para mim nada além da expressão e produto da fraqueza humana”, afirma o físico em carta de uma página e meia que será leiloada pela Christie’s em Nova Iorque a 4 de dezembro.
5 Outubro 2018, 12h00

Uma carta de uma página e meia escrita em 1954 por Albert Einstein, um ano antes da morte do físico, vai ser leiloada pela Christie’s em Nova York a 4 de dezembro. Um documento avaliado em entre 1 milhão e 1,5 milhão de dólares (870 mil euros e 1,3 milhões de euros), no qual o cientista define Deus como o “produto da fraqueza humana”.

A avaliação da carta de Einstein é avança pela agência internacional AFP que recorda que o físico alemão, que desenvolveu a teoria da relatividade geral, disse certa vez que “Deus não joga dados”, e, apesar de alguns acharem que ele era religioso, uma de suas cartas, na qual o cientista define Deus como o “produto da fraqueza humana”, que pode agora ser leiloada por 1,3 milhões de euros.

Datada de  1954, um ano antes da morte do físico aos 76 anos, a carta está em alemão e foi escrita por Albert Einstein em Princeton, Nova Jersey, para o filósofo judeu alemão Eric Gutkind, em resposta a seu livro “Escolha a vida: o apelo bíblico pela revolta”.

“A palavra de Deus não é para mim nada além da expressão e produto da fraqueza humana, a Bíblia uma coleção de lendas veneráveis mas ainda bastante primitivas”, escreve o físico que foi laureado com o Prémio Nobel de Física de 1921 “por suas contribuições à física teórica.

“Nenhuma interpretação, não importa quão subtil, pode mudar nada disso”, acrescenta o  físico conhecido pela sua fórmula de equivalência massa-energia  (E=mc²) na sua carta que será leiloada pela Christie’s em Nova Iorque no final do ano.

Segundo a leiloeira Christie’s, a carta de Deus já tinha sido oferecida em leilão em 2008, e comprada por um colecionador privado por 404 mil dólares (305 mil euros).

“É uma das declarações definitivas no debate de ciência versus religião”, disse Peter Klarnet, especialista em livros e manuscritos na casa de leilões.

Filho de judeus asquenazes (provenientes da Europa Central e Europa Orient), Einstein fugiu da Alemanha para os Estados Unidos aos 54 anos, quando Adolf Hitler chegou ao poder.

Na sua carta, afirma que o judaísmo não é superior a outras religiões e que os judeus não são o povo escolhido.

“Para mim a religião judaica não adulterada é, como todas as outras religiões, uma encarnação da superstição primitiva”, escreve Einstein a Gutkind.

“E o povo judeu, ao qual com muito prazer pertenço, e em cuja mentalidade me sinto profundamente ancorado, ainda para mim não tem nenhum tipo de dignidade diferente dos outros povos”, diz o físico, que além de ser alemão, obteve as nacionalidades suíça, austríaca e americana.

Einstein refere ainda na carta que face à sua experiência, os judeus” não são de facto melhores que outros grupos humanos, inclusive se estão protegidos dos piores excessos por uma falta de poder”.

Em outubro do ano passado, uma nota que Einstein deu a um mensageiro em Tóquio que descrevia brevemente sua teoria sobre uma vida feliz foi vendida num leilão em Jerusalém por 1,56 milhão de dólares (1,4 milhões de euros).

“Embora cartas e manuscritos de Einstein apareçam com certa frequência em leilões, aquelas de importância e significado são raras”, disse Klarnet da Christie’s. “Num sentido amplo, é similar à carta de 1939 ao (então presidente americano) Franklin Delano Roosevelt advertindo dos esforços da Alemanha para construir a bomba, que vendemos por dois milhões em 2002, e que pode ser vista como o arauto da era nuclear”, acrescentou.

A carta sobre Deus já foi exibida em Xangai e o público poderá vê-la em Nova Iorque de 30 de novembro a 3 de dezembro.

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