Aconteceu mais um episódio de racismo num jogo de futebol este fim-de-semana. Desta vez foi o caso Marega. Mais um, a juntar a muitos outros que se têm multiplicado ao longo dos anos, tanto no futebol nacional como internacional.
“Difamar ou injuriar pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou nacional” é crime. Não há dúvidas. O jogo podia ter sido interrompido, o árbitro podia – e devia – ter pedido para os adeptos pararem com os comportamentos racistas e, caso se mantivessem, o jogo poderia e deveria ter terminado. Isso não aconteceu. O jogador visado pediu a substituição e abandonou o campo. E bem.
Este não é um problema de um jogador e do futebol, nem do desporto em particular. É um problema de uma sociedade que está a falhar. Não se pode continuar a negar e a ignorar o racismo, que deve ser combatido e prevenido nas suas múltiplas formas e expressões, todos os dias. Não pode haver qualquer banalização ou normalização de uma situação destas.
Repetem-se comportamentos construídos sobre generalizações e preconceitos, baseados numa inferioridade que só existe na cabeça de quem defende os direitos humanos apenas para alguns, de quem se considera “tu cá, tu lá” com a democracia e a igualdade, mas considera que estes princípios se aplicam mais a uns do que a outros.
No papel há muito chegámos à igualdade. Na prática ainda não, e esta é uma urgência diária. É o mínimo que a sociedade pode garantir pela dignidade humana.
De que adianta aprovar propostas para fortalecer os instrumentos de combate à violência no desporto, nomeadamente o racismo, se, na prática, ainda nada mudou? Que terão os governantes e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional a dizer sobre isto e que medidas serão adoptadas?
A luta contra o racismo tem de ser uma prioridade do Governo, dos partidos políticos e de várias instituições e tem de chegar a todos os sectores da sociedade. É preciso dar o exemplo. O caso Marega deve ser condenado por todos e devem também ser accionados os mecanismos e instrumentos legais para apurar responsabilidades e aplicar sanções.
É hora de lançar campanhas anti-racistas e pela igualdade de forma permanente, nos meios de comunicação social, nos recintos desportivos, nas escolas, nos serviços públicos. É preciso apostar na formação dos profissionais das mais variadas áreas. A desinformação e o preconceito são terrenos férteis para a discriminação.
O crescimento do racismo, da xenofobia, da intolerância e da expansão da extrema-direita é uma situação muito preocupante, que não pode deixar nenhum democrata indiferente. Ao populismo, que se espalha como um vírus, é preciso responder com medidas firmes e eficazes.
É hora de todos nos mostrarmos solidários, não só com este jogador mas com todos aqueles que são alvo de actos de racismo, e com todos os cidadãos que os vivenciam no dia-a-dia, mesmo que não sejam casos tão mediáticos. Dentro e fora de campo, o racismo não pode ter lugar na nossa sociedade. Não precisamos de ser vítimas de racismo para lutar contra este crime. Basta sermos humanos. É preciso mostrar um cartão vermelho ao racismo.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.