1. Faria de Oliveira, o presidente da APB – Associação Portuguesa de Bancos em fim de mandato, falou recentemente sobre as moratórias públicas e privadas na RTP 3, no programa “Tudo é Economia”. O que de muito relevante se retira é que foi tudo menos afirmativo, nomeadamente nas moratórias, uma hecatombe anunciada sobre o país.

Os números são impressionantes. O Banco de Portugal revela que há 46 mil milhões de euros de crédito ao abrigo daquele mecanismo criado há um ano, o que significa que a amortização e pagamento de juros têm estado suspensos para os mutuários. Aquele valor representa 22% do total do crédito bancário. E o drama está no fim das moratórias que se aproxima, designadamente das moratórias privadas da APB para o crédito hipotecário que termina dentro de 15 dias, e do crédito pessoal que finaliza dentro de mês e meio, enquanto as moratórias públicas acabam em setembro.

Voltando à relevância das respostas de Faria de Oliveira, a conclusão é que as soluções “podem ser assim, como assado”, ou que a banca tem preparado um plano mas, “convinha que esse plano não fosse imposto de cima para baixo”. E ainda que o problema é dos mutuários, da banca, da economia e do país. Ora, o tema não é assim tão simples, pois este é um caso em que o setor não pode dizer que é assim e que é desta forma que os créditos têm de ser cumpridos, porque isto é um tema que deve ser discutido publicamente.

O presidente da APB tem de ir ao Parlamento explicar o plano da banca para recuperar os créditos num cenário de elevado desemprego, sem que as famílias e as empresas tenham capacidade para gerar recursos, e num potencial cenário de médio prazo de subida de juros. A questão é ainda mais premente porque é necessário discutir o assunto no Parlamento antes de a banca conciliar e acertar um plano. Aquilo que o setor financeiro irá fazer é dar uma resposta cartelizada, assumindo determinado procedimento em sede de APB e isso, a acontecer, passará a ser um problema da indústria que ficará exposta a uma alegada acusação de cartel, e a ser um problema do país.

Não nos iludamos com as moratórias de crédito geradas como solução para mitigar o fecho da economia devido à Covid-19: é um problema dos bancos e dos mutuários num primeiro nível, depois é da economia e do país, e em última instância será um problema do país como um todo.

Faria de Oliveira lançou, não soluções, mas achas para uma fogueira que está a começar com pseudo-soluções que diz terem de ser trabalhadas. Fala de Estado e de garantias, de ajudas e subsídios a fundo perdido para as empresas, e no caso das famílias manda-as dialogar com os bancos, como se elas tivessem sustentação económica para dialogar ou sugerir soluções. A mortandade de empresas e a disfunção de famílias é o princípio de uma disrupção social catastrófica. Estamos no limiar de um declínio social.

2. O socialismo como conceção ideológica nunca foi estatizar mas sim fazer intervenção pública, criando condições de emprego e de apoio a iniciativas para a criação de empresas. Ora, aquilo que vemos em casos como a TAP e a Groundforce é estatização. Ao mesmo tempo, não se vislumbra alinhamento de pensamento estratégico para a economia e António Costa já nem deve saber onde se encontra o livro de António Costa Silva, além de que se não se reanimar o turismo no imediato, o desemprego nesta indústria passará a ser estrutural.