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Casinos de Macau à mercê do imobiliário e da confiança dos chineses

Mais de 70% das pessoas que visitaram a região semiautónoma em 2024 vieram da China continental, cujo crescimento económico atingiu em 2024 a meta de 5% fixada por Pequim.
25 Janeiro 2025, 17h23

As receitas dos casinos de Macau podem crescer até 7% no Ano Lunar da Serpente, dependendo da recuperação do imobiliário e da confiança dos chineses, mas ficarão longe do pico pré-pandemia, como referiram analistas à Lusa.

“O maior fator positivo para Macau seria se a economia chinesa crescesse e os níveis de confiança dos consumidores melhorassem”, referiu Vitaly Umansky, analista da empresa de consultadoria Seaport Research Partners.

Mais de 70% das pessoas que visitaram a região semiautónoma em 2024 vieram da China continental, cujo crescimento económico atingiu em 2024 a meta de 5% fixada por Pequim.

Mas Nicholas Chen, analista da CreditSights, disse que a empresa do grupo da agência de notação financeira Fitch espera uma desaceleração para 4,7% este ano, em parte devido ao fraco consumo privado.

O índice de confiança dos consumidores na China caiu em setembro para o nível mais baixo dos últimos 34 anos, sublinhou Jeffrey Kiang, analista da consultora CLSA.

Ou seja, “se as perspetivas para os consumidores chineses não forem boas, eles poderão apertar o cinto, reduzir as viagens e o consumo”, incluindo em Macau, explicou Nicholas Chen.

O Partido Comunista Chinês lançou uma série de medidas de estímulo, incluindo a redução das taxas de juro e das reservas obrigatórias dos bancos e a antecipação de milhares de milhões do seu orçamento em 2025 para financiar projetos de construção.

Pequim também alargou um sistema de troca de bens de consumo e aumentou os salários de milhões de funcionários públicos para reanimar a procura interna.

“O Governo [chinês] já disse que vai lançar mais medidas para estimular a economia”, disse Vitaly Umansky, que espera sobretudo uma recuperação da confiança da classe média: “Acho que vai acontecer, é só uma questão de tempo”.

A CreditSights espera que a confiança dos consumidores chineses volte a subir na segunda metade de 2025, a par da estabilização dos preços no imobiliário, que estão a cair há 19 meses consecutivos.

A questão preocupa muito Pequim, devido às implicações para a estabilidade social, uma vez que a habitação é um dos principais veículos de investimento das famílias e o setor imobiliário – somando fatores indiretos – representa cerca de 30% da economia chinesa.

“Haverá certamente algum efeito colateral, porque parte das medidas que forem adotadas para impulsionar o consumo interno poderá fluir para o setor do jogo de Macau”, disse Nicholas Chen.

O analista acredita que a China irá ainda alargar a lista de cidades cujos residentes podem pedir ‘vistos individuais’ para visitar Hong Kong e Macau, um método usado por 35,2% dos turistas que passaram por Macau em 2024.

Vitaly Umansky não tem a mesma opinião e lembra que desde 01 de janeiro os residentes da vizinha cidade de Zhuhai já podem visitar Macau uma vez por semana e ficar até sete dias.

Em contrapartida, os analistas concordam que as receitas dos casinos irão ficar no próximo ano longe do máximo histórico de 303 mil milhões de patacas (36 mil milhões de euros) registado em 2018.

“Uma coisa é clara: o Governo visa um crescimento moderado das receitas no futuro”, disse Jeffrey Kiang, recordando que as autoridades preveem receitas de jogo de 240 mil milhões de patacas (28,5 mil milhões de euros) em 2025, o que seria um aumento de 5,8%.

“Quando o Governo de Macau publica uma previsão, esta é normalmente muito conservadora e baseia-se numa discussão prévia com o Gabinete de Ligação” do Governo Central chinês na cidade, disse Vitaly Umansky.

O analista não acredita que Pequim tenha na manga alguma medida para controlar a retoma dos casinos, semelhante à campanha que começou com a detenção do líder da maior empresa angariadora de apostas VIP do mundo, em novembro de 2021.

O antigo diretor executivo da Suncity, Alvin Chau Cheok Wa, foi condenado em janeiro de 2023 a 18 anos de prisão por exploração ilícita de jogo e sociedade secreta, num caso que fez cair de 85 para 18 o número de licenças para promotores de jogo, conhecidos por ‘junkets’.

“Boa parte do comportamento condenável em Macau desapareceu com os ‘junkets’. Desde que coisas desse género não voltem a acontecer, não espero qualquer tipo de campanha a curto prazo”, disse Umansky.

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