[weglot_switcher]

Caso EDP: Defesa de Ricardo Salgado também recorre para a Relação e pede absolvição

A defesa do ex-banqueiro Ricardo Salgado apresentou no Tribunal da Relação de Lisboa o recurso da condenação a seis anos e três meses de prisão no Caso EDP, reclamando a absolvição do antigo presidente do Grupo Espírito Santo (GES).
Vinte e dois anos depois, Ricardo Salgado saiu da liderança do BES. Enfrenta suspeitas da prática de vários crimes como burla qualificada, falsificação de documento, falsidade informática, fraude fiscal, infidelidade, abuso de confiança, branqueamento e corrupção no sector privado. Tem vários processos no Ministério Público, Banco de Portugal e CMVM. Esteve em prisão domiciliária cerca de seis meses, mas esta medida de coação já foi levantada.
9 Agosto 2024, 20h10

Segundo o recurso enviado esta semana e a que a Lusa teve hoje acesso, os advogados de Ricardo Salgado exigem a revogação do acórdão do Juízo Central Criminal de Lisboa, que, em junho, considerou o ex-banqueiro culpado dos crimes de corrupção ativa e branqueamento. Porém, face ao diagnóstico de doença de Alzheimer que foi reconhecido por perícias médicas, a defesa invoca ainda a nulidade do julgamento e a extinção/arquivamento do processo.

Para os advogados Francisco Proença de Carvalho e Adriano Squilacce, a decisão de condenar Ricardo Salgado neste processo representa “um exercício completamente arbitrário” por parte do tribunal, ao considerar que os juízes assentaram a tese de corrupção do ex-ministro da Economia Manuel Pinho pelo ex-banqueiro “em pré-juízos totalmente especulativos sem qualquer base probatória mínima”.

“Não há nota de qualquer intervenção – direta ou indireta – nos processos decisórios relativos às matérias que o tribunal decidiu ‘eleger’ como fundamento da alegada corrupção”, pode ler-se no documento, em alusão à alegada intervenção de Salgado sobre Manuel Pinho nos processos ligados à Herdade da Comporta, ao projeto do Pinheirinho, à operação da Brisa ou à candidatura para a Ryder Cup.

Sobre o suposto pacto corruptivo estabelecido com o ex-governante aquando da saída deste para o Governo, em 2005, que o tribunal considerou provado e alicerçado no pagamento de 500 mil euros e nas transferências mensais de cerca de 15 mil euros para uma conta offshore ligada a Manuel Pinho, o recurso contesta a interpretação do tribunal sobre a prova indireta e que a existência de “dúvida razoável” sobre esta matéria deveria levar à absolvição.

“A presunção ‘imediata’ que o tribunal faz de que as transferências da esfera do GES para a esfera do arguido Manuel Pinho só podem corresponder à execução de um pacto corruptivo, não tem qualquer solidez e é, manifestamente, abusiva”, referem.

O documento deixa ainda duras críticas aos juízes do julgamento por uma “total desconsideração da situação clínica” de Ricardo Salgado.

A defesa do ex-banqueiro, de 80 anos, assegura que o silêncio por parte do arguido no tribunal “não foi uma opção livre e consciente do próprio”, mas sim uma consequência da doença de Alzheimer, e apontou uma “saga justiceira imparável” contra Salgado, com violações da Constituição e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.

“O tribunal tentou passar a ideia de que há uma espécie de ‘alzheimerzinho’”, pode ler-se no documento, que acrescenta: “Não podendo exercer a sua defesa de forma plena e sem limitações em face da sua doença, não poderia ter sido submetido a qualquer julgamento. Ao não ter entendido assim, o tribunal julgou uma pessoa que não se pode defender e violou, manifestamente, os mais elementares direitos e garantias fundamentais de defesa”.

Também esta sexta-feira foi conhecido o recurso do ex-ministro Manuel Pinho sobre este processo, no qual foi condenado a uma pena de 10 anos de prisão por corrupção passiva, fraude e branqueamento. O acórdão ditou ainda a condenação da sua mulher, Alexandra Pinho, a uma pena suspensa de quatro anos e oito meses por fraude e branqueamento.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.