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Irmã de Robles já era dona de uma casa na Herdade da Aroeira, quando compraram prédio em Alfama

Na sequência da notícia do Jornal Económico sobre o imóvel adquirido, em 2014, por Ricardo Robles e sua irmã, por 347 mil e euros e mais tarde avaliado em 5,7 milhões de euros, o ex-vereador de Lisboa disse que o imóvel de Alfama seria para habitação de Lígia Robles, que, afinal, já era dona de uma casa na Aroeira.
Cristina Bernardo
8 Agosto 2018, 10h17

A irmã do ex-vereador da Câmara Muncipal de Lisboa Ricardo Robles já era proprietária de um imóvel na Herdade da Aroeira, em Almada, quando comprou, em 2014, em conjunto com o irmão, o prédio em Alfama, Libsoa, noticia o “Correio da Manhã”, esta quarta-feira.

O facto desmente a justificação que Ricardo Robles deu a 27 de julho, numa conferência de imprensa na sede nacional do Bloco de Esquerda (BE), para a compra do imóvel: “Em 2014, a minha irmã tinha a intenção de regresar a Portugal com o seu filho. O imóvel foi adquirido para ser a habitação da minha irmã. A gestão do arrendamento das restantes frações ficaria a seu cargo”.

Radicada na Bélgica, desde 2011, Lígia Robles tem como morada fiscal , em Portugal, uma casa na rua dos Pinheiros, na Aroeira, segundo a caderneta predial do imóvel bem como no processo de licenciamento da obra.

Ao “Correio da Manhã”, Ricardo Robles confirmou o facto, salientando que o imóvel da Aroeira foi adquirido pela irmã em 2003 e que ainda o detinha em 2014.

O ‘caso’ Robles

O antigo vereador do BE na Câmara Municipal de Lisboa (CML), Ricardo Robles, é conhecido por ter sido um dos mais ferozes críticos da especulação imobiliária, mas é também um investidor de sucesso. O vereador vai ganhar milhões com a venda de um prédio, que em 2014 comprou por 347 mil euros. Hoje o edifício totalmente reabilitado vale 5,7 milhões de euros.

Uma investigação feita pelo Jornal Económico revela que Ricardo Robles, juntamente com a irmã, adquiriu em 2014 um velho edifício de três pisos à Segurança Social. Os dois irmãos pagaram pelo imóvel, situado na Rua do Terreiro do Trigo, uma zona privilegiada de Alfama, 347 mil euros. Depois disso, investiram 650 mil euros em obras e chegaram a concordo com a maioria dos inquilinos para rescindir os contratos de arrendamento.

No final de 2017, com o edifício reabilitado e com mais um andar, foi avaliado em 5,7 milhões de euros, o que corresponde a 29 mil euros por metro quadrado. Os dois irmãos terão uma mais-valia potencial de 4,7 milhões de euros.

Questionado pelo Jornal Económico, Ricardo Robles negou ter despejado os inquilinos aquando da compra do imóvel e garantiu que “não existe contradição” com a sua ação política. “Imediatamente após a aquisição do prédio, fui notificado pela CML para realizar obras considerando o mau estado do imóvel e a falta de segurança de pessoas e bens. De imediato transmiti aos inquilinos a minha intenção de manter os seus arrendamentos, se assim quisessem, e regularizei o arrendamento do casal que ocupava a única fração de habitação do prédio”, explicou o ex-vereador da Câmara de Lisboa dos pelouros da Educação e Áreas Sociais.

“A necessidade de realizar obras profundas de reabilitação do prédio, inclusivamente no interior das frações, implicou a libertação temporária dos espaços, que foi acordada com os inquilinos”, contou. “O único inquilino que não esteve de acordo com a libertação do espaço durante o período das obras foi o da loja nº14. Isto apesar da minha proposta de continuidade do arrendamento após as obras, com uma atualização de renda de 270 para 400 euros. Este valor está abaixo do que a lei Cristas permitiria fazer e dos preços de mercado para um estabelecimento de restauração em Lisboa e em particular naquela zona”.

“A minha conduta como co-proprietário deste imóvel em nada diminui a legitimidade das minhas propostas para parar os despejos, construir mais habitação pública e garantir o direito à cidade”, sublinhou.

Após a notícia exclusiva do Jornal Económico, Ricardo Robles acabou por renúnciar ao mandato na CML e a cordenadora do BE, Catarina Martins, chegou mesmo a recuar nas sua afirmações acusatórias de que a imprensa estaria a noticiar algo falso e reconheceu: “De facto, a contradição era grande, porque de facto não foi possível explicar e porque criava um entrave no dia a dia do trabalho de Ricardo Robles na autarquia”.

Para o lugar de Robles, foi escolhido o professor Manuel Grilo, número três na lista do BE nas últiams eleições autárquicas.

No mais recente avanço da investigação do Jornal Económico ao ‘caso’ Robles, foi confirmado que o ex-vereador do Bloco de Esquerda aderiu ao Re9, um programa que dá acesso a condições preferenciais de financiamento no Montepio e isenções fiscais para a aquisição do famigerado imóvel em Alfama, em 2014.

O Re9 é um programa de financiamento para reabilitação urbana com condições mais favoráveis, da Câmara Municipal de Lisboa (CML) e do Montepio, que contou com a adesão do ex-vereador bloquista da autarquia lisboeta. Foi com base neste programa, aberto a todos os munícipes, que Ricardo Robles contraiu um empréstimo de 325 mil euros, a 20 anos, para a aquisição de um velho edifício de três pisos em Alfama, onde conjuntamente com a sua irmã investiu mais de 400 mil euros em obras de requalificação. E só mais tarde pediu um outro financiamento à CGD, a 25 anos, por necessitar de maior financiamento e  de um prazo mais dilatado.

As explicações sobre os empréstimos foram avançadas ao Jornal Económico por Ricardo Robles, que, conjuntamente com a irmã, Lígia Robles, adquiriu, em 2014, um prédio de três pisos à Segurança Social por 347 mil euros, que reabilitou e chegou a colocar à venda em 2017, avaliado em 5,7 milhões de euros, com uma mais-valia potencial de cerca de 4,9 milhões de euros.

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