O próximo ato eleitoral na Catalunha será o primeiro round de um combate que está para durar. Um pleito que exige leituras em vários patamares.

Assim, no nível superior, a questão deverá ser colocada na dicotomia formações independentistas versus constitucionalistas. Dito de uma forma simples: será que os partidos que desejam a independência continuarão a ser maioritários no Parlamento Catalão?

Se a resposta for positiva, a análise descerá a um segundo degrau. Aquele que se prende com a formação do Governo. Uma situação problemática porque a Esquerda Republica da Catalunha (ERC) decidiu apresentar listas próprias e não se revê na ideia de Carles Puidgemont, o líder do Junts per Catalunya, que vê as eleições como a segunda volta do referendo e, em caso de vitória separatista, exige a recondução do executivo que liderava. Uma utopia e não apenas pelo facto de as sondagens favorecerem a ERC em relação ao partido cujo líder se autoexilou em Bruxelas.

Quanto à outra força separatista, a Candidatura de Unidade Popular, de extrema-esquerda e antissistema, também terá de ser tida em conta, uma vez que as sondagens lhe atribuem 9 mandatos. Como se constata, mesmo em caso de vitória separatista, a situação está longe de clarificada a nível catalão. Uma clarificação que, a acontecer, voltará a colocar Madrid e Barcelona em rota de colisão. Porém, se os três partidos constitucionalistas – Ciutadans, PSC e PP – lograrem mais mandatos do que as forças secessionistas, a manutenção da ligação a Espanha também poderá não ficar assegurada.

A circunstância de os partidos regionais irmãos das forças políticas dominantes da vida política espanhola – PP e PSOE – terem pouco peso eleitoral na região autonómica leva a que as sondagens apresentem o Ciutadans como a principal formação constitucionalista. Aquela que, a nível individual, pode lutar pela vitória. Só que, mesmo em caso de vitória constitucionalista, a mesma poderá não ser suficiente para garantir a maioria parlamentar. Uma realidade possível, pois o Parlamento tem 135 deputados e as sondagens atribuem 31 ou 32 ao Ciutadans, 21 ao PSC e 7 ao PP.

Assim, é provável que a coligação Catalunya en Comú-Podem, o grupo resultante da aliança do partido da Presidente da Câmara de Barcelona, Ada Colau, e do Podemos, venha a ganhar protagonismo, graças aos seus previstos 9 mandatos. A verificar-se essa situação, a análise passará para um terceiro nível. Aquele que, até agora, tem sido pouco valorizado. O ideológico.

Na verdade, o Podemos funciona em Espanha como o Bloco de Esquerda em Portugal. É um partido populista autoritário de esquerda. A sua matriz é trotskista e as leituras neo-gramscianas e laclausianas Por isso, a sua ideologia nada tem a ver com o Ciutadans e com o PP e afasta-se significativamente do PSOE.

Em Portugal, malgrado a vitória da PàF, o BE viabilizou a formação da geringonça socialista. Na Catalunha, o receio da secessão poderá não ser suficiente para levar o Podemos a ter igual procedimento.

Na semana do El Gordo, é altamente improvável que o prémio da estabilidade calhe à Catalunha.