O Oceano Atlântico foi, durante muitos séculos, o centro dinâmico do mundo, donde partiam as novas tendências económicas, políticas e sociais. Contudo, no contexto de pós guerra fria e com o surgimento de novas potências regionais noutros espaços geopolíticos, o Atlântico foi sendo secundarizado na sua importância. Hoje, o eixo de disputa, mas também de crescimento económico, deslocou-se para leste e o Pacífico apresenta-se como um espaço mais dinâmico.

Assim, as disputas territoriais no sul do Mar da China ou as rotas pensadas a partir daquela parte do mundo para a América e vice-versa são um assunto que está na ordem do dia. Por ser numa geografia distante, é pouco noticiada e a atenção dedicada a partir da Europa a estas questões tem sido limitada. Mas a verdade é que essa deslocação do eixo dinâmico do Atlântico para o Pacífico trará consequências ao continente europeu que, ao contrário do seu parceiro norte-americano, ficará cada vez mais distante das economias em crescimento.

A viragem dos EUA para a Ásia e, sobretudo, para em direção ao sudeste asiático, onde as economias têm resistido à tendência de abaixamento das taxas de crescimento, apesar de estarem também numa fase de abrandamento, é muito visível. A Europa, a braços com a instabilidade no Médio Oriente, não tem conseguido resolver os problemas atuais nem posicionar-se face a esta nova realidade. Se a situação geográfica não lhe é favorável num realinhamento regional com a Ásia, a sua concentração nos problemas do Atlântico e do Mediterrâneo também lhe tiram disponibilidade para avançar com novas estratégias ao nível global.

Assim, parece que, enquanto EUA e China traçam estratégias ao nível global, disputando influências não só na zona asiática, mas também na América Latina, a Europa está consignada ao eixo Atlântico/Mediterrâneo. A ameaça à segurança internacional nesta parte do mundo é uma realidade. Europa, África e Médio Oriente parecem cada vez mais entregues a si próprios na solução de um conflito que tem uma génese mais internacional que o desenvolvimento das atuais guerras poderia fazer supor.

Entretanto, do outro lado do mundo, as disputas territoriais são feitas com base em alianças estratégicas e já nem parece estranho ver Barack Obama assinar um acordo com o Presidente vietnamita debaixo do retrato de Ho Chi Minh, o grande líder da revolução comunista daquele país. Por seu lado, a China busca em documentos ancestrais, como os manuscritos de navegação e pesca, a prova da frequência chinesa das ilhas, agora reclamadas, e até então sem pertença definida. Isto não é por acaso. A China está numa região que sempre considerou o seu espaço de expansão. Os EUA, como grande potência mundial e dispondo agora autossuficiência petrolífera, perceberam que a conjuntura internacional favorável à sua expansão económica e política estava no sudeste asiático. Embora sempre lá estivessem estado, perceberam que estava na hora de concentrar ali esforços.

Neste jogo asiático e apesar da sua influência histórica, a Europa ficou exatamente e apenas com esse papel histórico de fazer a ponte entre o Ocidente e o Oriente. Os resultados da passagem por essa ponte serão agora de outros poderes, curiosamente todos eles com a memória da posse colonial ou do poder musculado da Europa nos séculos precedentes.

Por Cátia Miriam Costa,
Investidora no Centro de Estudos Internacionais (ISCTE-IUL)