1. A crise da habitação foi a justificação para o antigo Presidente da República e ex-primeiro-ministro, Aníbal Cavaco Silva, mostrar como se faz política. Marcelo Rebelo de Sousa, embora promulgando determinadas medidas, foi a reboque do mote dado por Cavaco.

As críticas do antigo Presidente da República – feitas esta semana na conferência dos 30 anos do Plano Especial de Realojamento (PER) da Câmara Municipal de Lisboa, com Carlos Moedas e Luís Montenegro na assistência – às novas leis que o Governo tem vindo a preparar, algumas delas já prontas para o setor da habitação, vieram demonstrar a forma certa de se fazer oposição, i.e., como atuar quando não se concorda com as ideias do Governo

De uma penada, Cavaco Silva mostrou a Montenegro e a vários dos partidos da oposição como se deve criticar uma medida quando não se concorda com ela.

Até pelo ímpeto, percebe-se que Marcelo Rebelo de Sousa sentiu o alcance destas críticas, o acolhimento que elas tiveram na sociedade em geral e no mundo político do centro-direita. Marcelo começou a ser mais crítico, entrou também na área da saúde e suscitou críticas, em particular de Carlos César e do próprio António Costa.

Mas estas declarações de Cavaco Silva, feitas no aniversário do PER e ao lado de Carlos Moedas, são também um sério aviso ao PSD e a Luís Montenegro. Sibilino, Cavaco aceitou estar numa iniciativa de Moedas – que recebeu fortes críticas ao disponibilizar-se para uma inauguração de uma residência para estudantes com preços exorbitantes, onde também estava Montenegro, e com isso deu-lhe dimensão, deixou sinal e as suas declarações tiveram um eco até agora impossível na área do centro-direita.

Cavaco fez abanar o regime. Marcelo está mais atento que nunca e agora não poderá continuar o mesmo caminho e apoio tácito a António Costa.

O tema da habitação foi o detonador com críticas à conceção, marcadas aqui e ali por alegorias, com declarações de Marcelo Rebelo de Sousa pensadas para fazerem doer, quer quando disse na CMTV que, no arrendamento coercivo, as edilidades não têm meios e que o sistema é burocrático, ou quando disse à RTP que o arrendamento coercivo de casas devolutas tem de ser repensado.

Aliás, ninguém ouviu António Costa “gritar” que a posse administrativa para efeitos de reabilitação e arrendamento forçados já estão no Regime Geral da Urbanização e de Edificação aprovados no tempo de Cavaco Silva.

2. Sublinhar que no evento que assinalou os 30 anos do PER, Moedas já tinha recebido fortes críticas ao disponibilizar-se para uma inauguração de uma residência para estudantes com preços exorbitantes. A semana não foi a melhor para o edil de Lisboa, que terá de encontrar soluções mais exequíveis para a juventude ao nível da habitação.

3. O tema TAP está a ficar muito “quente” depois da apresentação de resultados – positivos e correspondendo a mais do dobro daquilo que os analistas antecipavam.

A ainda CEO da companhia vai ter direito a bónus e, mais do que isso, merece o reconhecimento do trabalho que fez numa companhia com prejuízos sistemáticos há vários anos.

Recorde-se que a gestora francesa foi afastada invocando “justa causa”, algo que contraria as indicações que teve do acionista para pôr a transportadora aérea a fazer dinheiro, antecipando os objetivos acordados com Bruxelas. Mais uma dificuldade para o Governo.