Muito se falou das últimas eleições em Angola, que representavam a maior mudança desde que o multipartidarismo fora consagrado constitucionalmente e se realizaram eleições gerais. Pela primeira vez não seria José Eduardo dos Santos o candidato do maior partido, o MPLA, que governa o país desde a independência. Poderia ser uma oportunidade de mudança, mas parece ter-se tornado numa oportunidade se não perdida, pelo menos cerceada no seu alcance. Parece aqui adequar-se o provérbio “cavaleiro novo, cavalo velho”, portanto nada de mudanças a correr.

Pela primeira vez, o MPLA estremeceu perante as sondagens que, apesar de apontarem para a sua vitória, também confirmavam uma tendência para uma perda de hegemonia nos meios urbanos. Essa apreensão esteve bem explícita quando inúmeras personalidades representativas do partido estiveram ativas nas redes sociais, mostrando que tinham votado. Logo que a eleição não estava ganha e era preciso correr às urnas, numa forma legal de incitar ao voto.

A vitória do MPLA confirmou-se, apesar de alguns protestos da oposição. As eleições foram consideradas livres e justas. Aguardava-se com expetativa as primeiras notas discursivas do novo presidente, que sendo um dos homens fortes do MPLA, está pela primeira vez no cargo. Sobretudo, queria saber-se até que ponto se podia esperar uma transformação da política angolana e qual o papel do novo presidente nesse processo.

A primeira entrevista de João Lourenço, o recém-eleito Presidente da República, surpreendeu, porque apesar de reconhecer o seu papel numa eventual mudança, deixou-se comparar a dois líderes de partidos únicos que na extinta URSS e na República Popular da China preconizaram movimentos de mudança, o que difere muito (ou pelo menos deveria) do atual panorama político de Angola. Isto talvez se explique pelas amplas maiorias que o MPLA tem conquistado e com o facto de ter sido durante todo este tempo o único partido a governar o país.

No seu primeiro discurso enquanto Presidente da República, João Lourenço não surpreendeu, mas desiludiu. Em vez de se afirmar presidente de todos os angolanos, criticou a oposição, num discurso com um tom mais partidário que presidencial. Em suma, nas duas oportunidades discursivas que teve, João Lourenço mostrou-se um homem se não refém do passado, ainda devedor deste.

E a grande questão fica no ar: como vai o MPLA defender a sua manutenção no poder quando a maioria da população votante tiver nascido no pós-guerra civil? Será que o Presidente João Lourenço vai perder esta oportunidade de mudança e permitir que seja a herança de José Eduardo dos Santos a governar, em vez de um novo presidente? Não seria bom para ninguém se assim fosse. E muito menos para o MPLA.