Quando, há dois anos, Assunção Cristas substituiu Paulo Portas na presidência do CDS-PP, não eram muitos aqueles que lhe auguraram longa vida no cargo. Tal como seriam poucos aqueles que acreditavam que, em 2017, o CDS-PP viria a ultrapassar o PSD na luta autárquica em Lisboa. Um feito protagonizado por Assunção Cristas, embora contando com uma estratégia próxima de suicida do PSD.

A percentagem lograda em Lisboa – 21% –  e a indefinição que teima em grassar no PSD de Rui Rio contribuíram para o ambiente que se viveu em Lamego no Congresso centrista. Afinal, como foi recordado, o voto não tem dono e, por isso, há que levantar a Crista(s) e cavalgar a onda que vem de feição.

Daí a afirmação da líder ao considerar-se preparada para liderar não só a oposição, mas também o futuro governo. Uma líder e um partido que não ostracizaram o anterior aliado, mas fizeram questão de explicitar que o CDS-PP iria sozinho a votos. Mesmo sabendo que essa opção dificulta a chegada ao Poder. O método D’ Hondt privilegia as coligações pré-eleitorais. Algo que ninguém questionou.

No meio da euforia centrista talvez convenha ter presente que o CDS nunca logrou um resultado eleitoral que lhe permitisse chefiar o governo. Aliás, o seu melhor resultado – 42 deputados e 876 007 votos, ou seja, 15,98% –foi alcançado no já distante ano de 1976. Numa conjuntura em que o CDS era conotado com o Estado Novo por parte da esquerda e da extrema-esquerda. Por isso, aquando das eleições para a Assembleia Constituinte em 1975, foi necessária a intervenção do Conselho da Revolução para que o CDS fosse autorizado a participar no ato.

Desde então não mais o CDS, quando se apresentou sozinho às urnas, obteve um número de votos que permita alicerçar a ambição que não calou em Lamego. Uma estratégia em que é possível adivinhar algum grau de utopia. Uma situação a que não será alheio o rejuvenescimento que o CDS-PP começa a evidenciar. De facto, entregar a elaboração do programa do partido a uma equipa em que ninguém tem mais de 45 anos representa uma clara aposta na renovação geracional do partido, apesar da homenagem ao seu único Senador, Adriano Moreira.

Uma personalidade que teve a modéstia de, em nome próprio, assumir os erros de uma geração. Alguém que fez questão de esquecer o enorme ativo de que dispõe. Um ativo que vem desde a conjuntura em que ousou contrariar a verdade oficial de um regime que não soube – ou não quis – ler a realidade resultante da Segunda Guerra Mundial.

É provável que muitos dos atuais centristas desconheçam que foi Adriano Moreira que levou para o partido a esperança concreta. Aquela que acredita no homem e na sua capacidade desde que servida pela vontade e assente em princípios e valores. Uma realidade inquestionável num partido de quadros que necessita de criar uma base social de apoio a nível local e regional.

Como advertiu Maquiavel, construir os alicerces a posteriori vai requerer engenho. Algo mais do que erguer a Crista(s).