Este final de primeiro semestre revela-se um momento particularmente oportuno para revisitar as perspetivas, análises e opiniões que levam à construção do cenário base. O cenário base é aquele que, sendo o mais provável de acontecer, está mais dependente de factos, em contraste com as especulações/possibilidades que normalmente se inserem nos cenários optimista e pessimista. A capacidade mais desejada na construção do cenário base é a de filtrar de forma assertiva o ruído, de forma a perceber o que é ou não relevante para a economia. Tendo os últimos dois meses sido recheados de ruído de mercado, o exercício de revisão do cenário base torna-se ainda mais importante.
De um modo geral, aqueles que eram apontados como dos principais riscos no início de 2018, têm vindo a materializar-se de forma mais ou menos rápida. A vocalidade do presidente dos EUA, Donald Trump, em relação às injustiças comerciais chegou realmente a vias de facto; um Governo populista tomou posse em Itália; algumas economias emergentes estão a vacilar perante um dólar mais forte e taxas de juro norte-americanas mais altas; e até a China está a sentir algumas consequências do excesso de endividamento.
Tal conjunto de desenvolvimentos levanta alguns receios, mas é precisamente nestas alturas, de maior ruído, que é crucial monitorizar de perto o comportamento dos vários agentes económicos. Estarão as empresas a retrair-se de investir e contratar? Estarão os consumidores a consumir menos? Os bancos a conceder menos crédito? São estas as questões que, no médio prazo, acabam por verdadeiramente determinar o rumo da economia, e consequentemente dos mercados financeiros. Por mais estranho que pareça, a leitura que se faz dos indicadores económicos mais recentes é positiva…
Nos EUA, a economia mantém-se em muito boa forma, com o crescimento do emprego a ter pouco impacto nos salários, e os spreads de crédito a revelarem condições benignas neste mercado. O que indica que a generalidade das empresas não está a ser condicionada pelas questões geopolíticas. Na China, o Governo está a levar a cabo uma desalavancagem do setor empresarial que poderá implicar algum abrandamento, mas que na verdade se está a dar de forma suave e é efetivamente saudável. Na Europa tivemos um relativo abrandamento económico, que se pode prolongar devido aos desenvolvimentos políticos, mas por agora tudo indica que não passa de um contratempo (é, no entanto, o caso europeu que é preciso vigiar com mais cuidado).
Resumindo, o cenário base delineado no início de 2018, de melhoria das condições económicas nos principais blocos (cada um a seu ritmo), e de seguimento do rumo de normalização das políticas monetárias, mantém-se inalterado. Por enquanto, a materialização dos vários fatores de risco não passa de ruído.