O Governador do Banco de Portugal encerrou o Fórum Banca, iniciativa promovida pelo Jornal Económico que decorreu esta quarta-feira, 12 de março, no Hotel da Lapa, em Lisboa.
Na sua intervenção lembrou que em 2015, “cerca de 75% dos depósitos e dos ativos estavam em bancos sem capital ou que não tinham plano de negócios, ou que estavam em resolução, ou iam entrar em resolução”. Mário Centeno disse que “não havia futuro para a banca no fim de 2015”.
O rácio de incumprimento está muito próximo do europeu, lembra o supervisor da banca, que detalha que o rácio de Non-Performing Loans ronda os 3% e em 2015 era de 17% e hoje com rácios de cobertura por imparidades acima da média europeia.
“Hoje temos um rácio de cost-to-income melhor que a média europeia, temos níveis de alavancagem na banca, medida pelo rácio de transformação de depósitos em crédito, que baixou de 150% para menos de 80%. Todos os indicadores de risco e rentabilidade hoje são positivos”, disse ainda o Governador que atribui parte disto à reestruturação da banca.
“O sistema bancário português está no Top 5 europeu”, disse Mário Centeno acrescentando que “temos o melhor banco nos testes de stress (CGD), os dois melhores bancos nas condições de resolução medidos pelo Mecanismo Único de Resolução”.
“É exigido à banca que cuide das almofadas que consiga criar, que apoie a economia, que reflita o rendimento que dá às poupanças dos portugueses aquilo que é também a remuneração dos bancos centrais, em particular no Banco de Portugal, pois não é muito compreensível que haja uma diferença significativa entre a remuneração dos depósitos no banco central e a remuneração que paga nos depósitos aos seus clientes”, diz o Governador do Banco de Portugal, numa clara crítica à baixa remuneração dos depósitos na banca.
“Eu tenho dito que a capacidade que a banca tem de atrair depósitos é atribuída pelo país, é uma responsabilidade social a banca gerir as poupanças dos portugueses. Esta gestão depende da confiança, e foi a falta de confiança que nos trouxe às duas crises anteriores financeiras”, frisou Centeno.
O Governador alerta a banca que “tem de se preparar para mudanças de ciclo económico, porque elas existem”.
“Se temos neste momento uma situação cíclica favorável que já não se vê na Europa, pois Portugal está a crescer acima do seu crescimento potencial, em média, neste período, temos de nos acautelar para variações no futuro”, disse ainda.
Na sua veia de economista especialista no mercado de trabalho, Mário Centeno realçou que em Portugal “duplicamos a massa salarial no setor privado em 10 anos (passou de 33,6 mil milhões para 64,4 mil milhões de euros) e criamos um milhão de empregos”. “É no mercado de trabalho que está a essência da economia”, defende.
Mário Centeno defendeu ainda a imigração no mercado de trabalho, pois os registos na Segurança Social entre 2014 – 2023, revelam mais de uma milhão de estrangeiros (o que compara com 4,4 milhões de registos de trabalhadores portugueses).
“O mercado de trabalho é também um sucesso na Europa, que criou 10 milhões de empregos depois do Covid”. Por contraste, diz o Governador do banco central, os Estados Unidos “levaram imenso tempo para recuperar o nível de emprego pós-Covid”. O mercado de trabalho na União Europeia é maior dos que o dos Estados Unidos, diz Mário Centeno, que atribui a pujança da economia americana à capacidade de endividamento que na Europa não é possível. O Governador considera que a Europa está a fazer um crescimento económico mais lento que os Estados Unidos mas é um crescimento mais estável.
“O estimulo orçamental norte-americano é estratosférico”, disse Centeno que lembrou que nos EUA a dívida pública nos últimos 10 anos cresceu mais 30 pontos percentuais face à área do euro. O que as regras europeias não o permitiriam fazer, em nome da estabilidade, sublinha.
Numa exaltação da economia europeia versus a economia norte-americana, elogiou as taxas de poupança europeias que são mais elevadas do que nos Estados Unidos. “É necessário a Europa focar no investimento destas poupanças na Europa”, defendeu acrescentando que “precisamos de reformas”.
Apesar do crescimento económico ter sido “bastante baixo”, Centeno diz que a Europa “tem os meios económicos e financeiros para responder aos desafios que enfrentamos”.
Mário Centeno deixou a sua opinião de que a guerra entre os dois países de leste (Ucrânia e Rússia) é uma guerra da Europa (contra a Rússia).
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