É o presidente da Arrow Global em Portugal que gere ativos de mais de 13 mil milhões de euros e que hoje é dona de cerca de duas dezenas de hotéis, de campos de golfe e de um centro equestre, para além de outros imóveis e empresas.
A propósito da rubrica semanal “Decisor da semana”, o CEO da Arrow Global Portugal, João Bugalho, concedeu uma entrevista-perfil ao Jornal Económico que publicamos na íntegra.
João Bugalho nasceu no Alentejo, em 1963. Frequentou o Colégio Militar e licenciou-se em Gestão de Empresas pela Universidade Católica de Lisboa. Depois de um longo percurso profissional, que incluiu passagens por Londres e São Paulo, em setembro de 2016 junta-se à Arrow Global na qualidade de Chief Executive Officer Portugal, altura em que o grupo tinha em Portugal apenas a Whitestar.
Em 2018, já sob a sua liderança, a Arrow Portugal compra o Grupo Norfin, alargando a sua atividade ao negócio imobiliário. Em 2020, a Arrow Global inicia-se na atividade de gestão de fundos de investimento alternativos, levantando o ACO1 (Arrow Credit Opportunities 1), e em 2021 este fundo realiza um co-investimento no Vilamoura World. Através desta parceria, a Norfin Serviços assume funções de promotor delegado na Lusotur (Vilamoura World).
Em 2021, a Arrow Global internacional muda de acionista, ao ser adquirida pela TDR Capital, e João Bugalho manteve-se como CEO da Arrow Global Portugal.
Em 2022, sob a sua batuta, a Arrow em Portugal cria a Restart Capital, com o propósito de apoiar empresas com viabilidade económica que apresentem dificuldades de tesouraria, através da aquisição dessas mesmas dívidas, tendo em vista a sua posterior reestruturação e/ou refinanciamento.
Nesse mesmo ano, dá-se a aquisição da Details Hotels & Resorts, que tinha a seu cargo a gestão de 5 hotéis na zona de Carvoeiro e Albufeira, naquilo que representou a primeira incursão da Arrow no negócio da hotelaria. Em 2023, os fundos geridos pela Arrow Global concluem a aquisição dos principais ativos do Grupo Dom Pedro, nomeadamente os três hotéis de Vilamoura – Dom Pedro Portobelo, Dom Pedro Marina e Dom Pedro Vilamoura, juntamente com 5 campos de golfe – Old Course, Pinhal, Laguna, Millenium e Victoria. O negócio engloba ainda o Dom Pedro Lagos e 2 hotéis na Madeira: o Dom Pedro Machico e o Dom Pedro Garajau. O processo de aquisição foi integralmente gerido pela Norfin Serviços e a Details passa a assegurar a gestão de toda a operação hoteleira e de golfe. Também em 2023, fundos geridos pela Arrow adquirem a dívida sobre as empresas detentoras dos 2 campos de golfe e cerca de 30 mil metros quadrados de capacidade construtiva na Herdade da Aroeira.
Em finais de 2023, fundos geridos pela Arrow apoiaram a aquisição do Palmares Ocean Living & Golf à King Street Capital Management e à Kronos Homes e, no ano passado, terão iniciado negociações, que o grupo não confirma, com a SC Investments, que resultou da reestruturação do portfólio da Sonae Capital, para a compra dos investimentos imobiliários e turísticos em Troia, estando em causa a concessão da Marina de Troia (com espaço para 180 embarcações); o Troia Golf; a concessão dos ferries de Setúbal; e ainda a gestão dos hotéis Aqualuz Troia Mar e The Editory By The Sea, bem como terrenos que estão divididos em UNOP – Unidades Operativas de Planeamento e Gestão, definidas no Plano de Pormenor de Troia.
No ano passado, a empresa liderada por João Bugalho notificou a Autoridade da Concorrência, em dezembro, da aquisição do controlo exclusivo sobre a Minor Vilamoura, que detém e opera um hotel de 5 estrelas na região do Algarve, em Vilamoura, que é explorado sob a marca Anantara Hotels & Resorts. A aquisição foi feita através da Vilamoura World Holdings. Ainda não foi feito o closing desta aquisição.
Ainda no ano passado, a Arrow lançou uma intermediária de crédito – a CredImediato – e criou a Nexor, em parceria com o Grupo Imobiliário GFH, dedicada à prestação de serviços de gestão e promoção de ativos imobiliários, centrada em soluções de habitação acessível.
Têm ainda a Hefesto, uma sociedade de titularização de créditos, para já não falar da primeira empresa do grupo em Portugal, a Whitestar, servicer que gere créditos em incumprimento (NPLs) adquiridos por diversos investidores e que hoje representa ativos sob gestão de valor nominal superior aos 10 mil milhões de euros.
No total, o Grupo Arrow Global gere em Portugal ativos com um valor superior aos 13 mil milhões de euros, apoiados numa equipa que excede as 2 mil pessoas. Concorda que a Arrow Global Portugal é já um conglomerado com dimensão significativa e que ombreia com grandes grupos empresariais em Portugal? Este crescimento é obra de João Bugalho? Qual é o objetivo que o Chief Country Officer tem para o grupo em Portugal?
Não é obra do João Bugalho. Gosto de pensar, vaidoso, que tenho dado um contributo positivo para todo este processo, mas a verdade é que sou apenas um de muitos que diariamente contribuem para o sucesso das nossas operações. E não é falsa modéstia. Temos uma equipa excepcional, com muita experiência e profundas raízes no mercado português. Note que o Management Board, órgão de cúpula da gestão do grupo em Portugal, liderado por mim, é 100% português, o que mostra bem a confiança que a Arrow deposita no know-how local. O meu papel é essencialmente liderar esta equipa, garantindo os necessários equilíbrios entre as diferentes verticais de negócio, todas lideradas por CEOs imensamente competentes e que sabem muito mais dos seus negócios do que eu, e fazer a gestão da relação com o acionista e com os principais stakeholders envolvidos na nossa atividade. Na prática, as plataformas, terminologia que usamos para as nossas empresas, são apenas viabilizadores de negócio e todos trabalhamos sob o chapéu Arrow Global.
Vão entrar em mais áreas de negócio? Qual é o critério de escolha dos investimentos? Escolhem negócios que se complementam ou são outros critérios?
Quase inevitavelmente, vamos entrar em novas áreas de negócio. Portugal é uma economia pequena e onde é difícil encontrar setores com profundidade e que possam gerar escalas relevantes de investimento. Os fundos geridos pela Arrow trazem consigo a necessidade constante de encontrar ativos que possam estar alinhados com a estratégia do grupo e, para fazer isso em Portugal, vemo-nos obrigados a fazer muitas coisas diferentes. Gostamos de ativos que tenham afinidade com o que já estamos a fazer e que tenham perspetivas de criação de valor diferenciadas e significativas. Não vamos comprar hotéis consolidados no centro de Lisboa ou do Porto, onde há pouco a fazer em termos de verdadeira criação de valor. Para nós, quanto mais difícil e complexa for a circunstância de um ativo, melhor. A vasta maioria dos investidores internacionais, e se são volumes de investimento relevantes, são quase sempre internacionais, não tem a capacidade que nós temos para gerir um processo legal de crédito de grande complexidade, mesmo que o ativo subjacente como colateral possa ter todo o interesse. A nossa integração permite-nos, por exemplo, usar a Whitestar para desbloquear um tema jurídico particularmente complexo, sendo que depois a máquina de imobiliário (Norfin), hotelaria (Details), reestruturação (Restart) ou habitação acessível (Nexor), consoante o que fizer mais sentido, é capaz de, depois, extrair do ativo o valor que perspetivamos. Não sei se há mais operadores no mercado português capazes de fazer isto. E se há, não têm a nossa escala.
O turismo, o golfe, são as áreas core da Arrow Global Portugal? Ou é o imobiliário?
A gestão de créditos (Whitestar), a gestão de investimentos imobiliários (Grupo Norfin), a gestão de hotéis, desportos e lazer (Details) e o desenvolvimento de projetos de habitação acessível (Nexor) são, hoje, os principais setores onde centramos a nossa atividade. Mas fundos da Arrow são stakeholders relevantes na Viriato, empresa do norte especializada em FF&E (Fixtures, Furniture and Equipment) para hotéis, e é do domínio público o negócio feito com a Cerâmicas Aleluia, em Aveiro. E estamos a trabalhar em vários outros projetos. Em traços largos, o nosso papel em Portugal é encontrar oportunidades de investimento interessantes para os investidores com quem trabalhamos (Arrow ou outros), ajudar esses investidores a compreender a oportunidade e os riscos, ajudar na execução da aquisição e depois na gestão. Se isso passa por encontrar ativos em student housing, senior living, lending, o que seja, olhamos sempre com atenção para as oportunidades com que nos deparamos, e hoje não há muita coisa que não passe no nosso radar, e avaliamos se faz sentido para os investidores com quem trabalhamos.
Vão estender os investimentos a outras zonas do país para além do Algarve e Madeira? Comporta, por exemplo, interessa-vos?
Tudo nos interessa, se fizer sentido. Estamos a olhar constantemente para vários ativos, mas é difícil encontrar operações com dimensão no interior, e já olhamos para muitas oportunidades. Comporta pode ser interessante, com o preço e ângulo certos.
Os ativos de hotelaria são os que dão maior rendimento?
Depende do ativo, do estado em que se encontra e da sua capacidade de articulação com outros ativos. Gostamos de resorts, porque achamos que não há muita gente em Portugal a conseguir trabalhar bem ativos diferentes de forma integrada. Vilamoura é o maior exemplo disso mesmo. Ao longo dos anos, as diferentes componentes de Vilamoura foram sendo vendidas a diferentes entidades, acabando por se tornar numa manta de retalhos. Nos últimos 3 anos, os fundos geridos pela Arrow têm vindo a adquirir os ativos mais materiais (os 5 campos de golfe, hotéis Dom Pedro e Hilton, perímetro imobiliário com praticamente 500 mil m² de capacidade construtiva, concessões das praias e marina). Entretanto, já ganhamos a concessão de uma nova marina para embarcações maiores, já em atividade, estamos a refazer o centro equestre, fizemos um investimento relevante no Old Course e investimento vários nos outros campos, estamos a refazer o antigo Victoria em parceria com Ernie Els, uma lenda do golfe e um homem fascinante, estamos a investir fortemente nos hotéis, um novo centro desportivo vai arrancar em breve, etc. O valor não está no golfe, nem nos hotéis, nem na marina, especificamente, mas sim na oferta integrada de todos estes ativos, que vão providenciar ao utente de Vilamoura experiências diversificadas e muito mais ricas, o que vai puxar Vilamoura para um patamar superior, mais do que merecido.
Qual o investimento que mais gostou de fazer?
Gostamos de todos os filhos, mas Vilamoura, pela dimensão, complexidade e visibilidade, tem um lugar muito especial no mundo Arrow. É o maior ativo gerido pelo grupo em todos os países, só para dar uma ideia.
Como estão a correr as negociações com a SC Investments para a compra de ativos em Troia?
Sem comentários.
No futuro, todos estes ativos que têm sido comprados são para ser vendidos? Sendo o investimento através de fundos… quanto tempo costumam ficar com os ativos em carteira?
Os fundos são, regra geral, finitos no tempo (há fundos que não têm limite temporal, mas não é o caso dos nossos). Já estamos a sair de vários ativos. Em cada apartamento ou lote que vendemos, está a ocorrer um pequeno desinvestimento. É uma coisa dinâmica. Há diversas formas de sair dos investimentos, seja por peça, seja por atacado, e nós estamos constantemente a avaliar as melhores estratégias.
Entraram na habitação acessível. Como é que se resolve o problema da habitação em Portugal? Com casas de madeira? Quanto tempo demorará a aumentar a oferta de habitação?
Não há uma solução imediata. Os últimos 15 anos foram um profundo deserto de investimento e não se recupera deste facto em 2 ou 3 anos. É bom que nos capacitemos de que vai demorar. Vai exigir tempo e investimentos avultados, só viáveis se forem apelativos aos investidores, seja de que forma for. Mas a mensagem do Governo parece clara e há, hoje, um forte empenho em fazer alguma coisa real e efetiva. Urge que o Estado identifique o seu património e o rentabilize, sendo esta, provavelmente, uma das respostas mais rápidas que se podem dar para aumentar a oferta de casas no mercado. Na Nexor já temos dois ativos adquiridos e já estamos a trabalhar no respetivo desenvolvimento. Olhamos para este segmento como uma forma de também apoiarmos a comunidade em que nos inserimos, tendo diversas pessoas nas nossas empresas que têm necessidades pessoais que podem ser atendidas por esta via. E sim, a industrialização da construção, que torne os processos mais rápidos e eventualmente mais baratos, madeira ou não, pode ser um fator-chave de sucesso.
Na atividade de gestão de ativos stressados, quais os objetivos para Portugal?
Vamos continuar a procurar ativamente oportunidades. Não queremos perder a liderança de mercado. 2025 será provavelmente um ano com volumes inferiores a 2024, mas achamos que temos uma posição única no mercado que nos vai ajudar a encontrar os caminhos certos.
Como é gerir um grupo com tantas empresas e investimentos? Sei que tem sete filhos, como é que concilia ser pai de uma família numerosa e gerir tantas empresas?
É entusiasmante e desafiante, ao mesmo tempo, e considero-me um homem com muita sorte. Trabalho com uma equipa fantástica, capaz de coisas extraordinárias e com uma ambição contagiante. Temos um acionista que adora Portugal e confia na equipa local. Por outro lado, o nosso processo de crescimento tem vindo a facilitar a atração de talento, o que só melhora as coisas. Estamos num ciclo virtuoso e temos de saber criar as condições adequadas para termos capacidade de resposta para dias menos bons, que os ciclos sempre determinam. Apesar do ritmo de crescimento alucinante e dos desafios inerentes, hoje somos um grupo muito mais consolidado e maduro do que éramos há uns anos e sinto um enorme orgulho por ter vindo a participar desta caminhada. Quanto aos filhos, já só tenho o mais novo em casa. Os outros estão todos encaminhados nas suas vidas e muito bem, felizmente, muito devido à minha mulher. Acho que olham para mim com orgulho, o que me deixa feliz, mas é melhor perguntar a eles.
É escritor. Apesar de ter uma experiência de mais de 30 anos no sector financeiro, tem quatro livros publicados (romances) sob o pseudónimo Miguel Ávila. Quando é que arranja tempo para escrever? Está a escrever algum novo livro nesta altura?
Não arranjo. Hoje em dia, é impossível. Mas faz parte dos meus projetos de reforma.
Quais os hobbies?
Gosto muito de viajar, leio bastante, sou um sportinguista indefetível e jogo golfe todos os fins de semana. Sou um nabo, mas adoro o jogo e tenho um grupo de amigos alargado com quem gosto de jogar. E passar 4 horas no campo com os meus filhos é das coisas mais gratificantes que posso ter.
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