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CEO da CGD: “Não faz sentido aumentar o tempo e a dimensão das moratórias, excepto para empresas que não geram cash flow”

A CGD é “claramente favorável a uma situação de apoio, seja nacional ou internacional, às entidades de sectores que estão impedidos de gerar cash flows, como o turismo, as viagens, os eventos. Outra coisa é prorrogar todas as moratórias para empresas que estão cotadas em bolsa, ou empresas do sector da construção”, defendeu Paulo Macedo.
  • Cristina Bernardo
11 Fevereiro 2021, 23h31

Paulo Macedo, CEO da CGD, explicou na conferência de imprensa dos resultados anuais, que “não há prolongamento de moratórias sem um enquadramento legislativo europeu nesse sentido”. O CEO disse que o prolongamento das moratórias para lá de setembro não depende da “vontade do banco A ou do banco B, ou do Governo A ou do Governo B, depende das orientações da Autoridade Bancária Europeia (EBA)”.

Isto significa que é preciso que a EBA dê orientações nesse sentido para que o setor não seja penalizado.

O que os governos e bancos podem fazer é manifestar as suas preocupações junto da EBA, explicou.

“Dito isto, Portugal como é sabido tem um número maior de moratórias e mais longas que os outros países europeus. A CGD tem uma sucursal em França, e a generalidades dos clientes que estavam em moratória deixaram de estar e começaram a pagar os créditos, ou houve algum apoio a algumas empresas que estiveram em dificuldade para pagar essas moratórias. Portanto já houve o término das moratórias em vários países europeus”.

“Não me parece que faça sentido aumentar ainda mais o tempo e a dimensão das moratórias, excepto para as empresas que não gerem cash flow”, defendeu o banqueiro. Uma opinião que tem sido partilhada pelo sector bancário português em geral.

“No sistema bancário temos vários tipos de clientes com moratórias. Há os que precisam muito e vão continuar a precisar; há os que pediram moratórias por uma questão de cautela e temos clientes que preferem não ter esta despesa agora para a ter mais tarde e aproveitam para fazer outros investimentos”, realçou o CEO da CGD.

O banqueiro diz que a CGD é “claramente favorável a uma situação de apoio, seja nacional ou internacional, às entidades de sectores que estão impedidos de gerar cash flows, como o turismo, as viagens, os eventos. Outra coisa é prorrogar todas as moratórias para empresas que estão cotadas em bolsa, ou empresas do sector da construção que não pararam a actividade, ou do imobiliário ou electrónicas”. Paulo Macedo reforçou: “devem ser apoiadas as empresas que precisem no fim das moratórias, para que os clientes desses sectores não entrem em incumprimento porque não estão a  ter actividade e a gerar os cash flows para pagar a dívida. Não deve ser prolongadas as todas as empresas, precisamente para não gerarmos um monstro”, disse.

No que toca aos particulares, Paulo Macedo disse que houve um aumento do desemprego, mas que o rendimento disponível tem sido mantido de forma positiva. “Mais uma vez devia haver um esquema de proteção para os desempregados e a CGD está disponível, independentemente de haver prorrogação da moratória ou não, para reestruturar os créditos dos seus clientes que no final da moratória estejam por exemplo em situação de desemprego”, defendeu o CEO da Caixa.

“O que é preciso é criar apoios às empresas à saída das moratórias e eventualmente dar um apoio, por parte dos bancos, às pessoas que foram mais afectadas por esta crise para poderem sair”, disse ainda.

O total das moratórias em número de operações em dezembro era de 67.070, num total de 5.992 milhões de euros. Face a julho o banco regista uma queda de nº de operações de 11.114 ou seja, 990 milhões de euros que já não estão em moratória.

Relativamente ao número de novas moratórias, Paulo Macedo disse que “as novas moratórias que o banco teve neste período foram relativamente curtas. Tivemos cerca 775 novos pedidos de clientes particulares no valor de 75 milhões de euros e 75 pedidos de empresas no total de 23 milhões de euros. No conjunto cerca de 100 milhões de euros”.

Ao mesmo tempo a CGD teve “7.109 clientes particulares que já retomaram o pagamento dos créditos depois de terem pedido moratória (são 523 milhões de euros)” disse o CEO que acrescentou que “houve 1.140 empresas que retomaram os pagamentos (164 milhões de euros)”.

“A CGD tem uma percentagem do crédito em moratória totalmente em linha com o sector para as empresas”, disse Paulo Macedo. Mas onde a CGD tem menos moratórias face aos concorrentes é nos particulares. O que é explicado pela estrutura de clientes da CGD  (função pública e pensionista), que foram menos afectados pelos confinamentos.

O CEO explica que nos créditos à habitação, tendo em conta os loan-to-value dos créditos hipotecários, tem hoje mais créditos cujas prestações se referem a amortizar capital e não tanto juros.

A CGD tem quota de mercado baixa no crédito ao consumo.

Recorde-se que a adesão à moratória pública voltou a ser possível até 31 de março de 2021, por decisão da EBA. A partir de 1 de janeiro de 2021, os clientes bancários puderam novamente solicitar o acesso à moratória pública relativamente a contratos de crédito hipotecário, crédito para educação e contratos de crédito a empresas.

A CGD tem a maioria da sua carteira de crédito sem qualquer risco de incumprimento. Ao todo em Portugal o crédito bruto no Stage 1 (sem risco) soma 37.897 milhões e representa 86,9%  do total da carteira. Com 178 milhões de imparidades e uma cobertura de 0,5%. No crédito em Stage 2 (com algum risco) estão 3.643 milhões de euros, o que equivale a 8,3% do total da carteira. As imparidades para estes créditos somam 572 (cobertura de 15,7%).

Finalmente no Stage 3 (crédito em incumprimento) estão 2.093 milhões de euros que representa 4,8% da carteira, com imparidades de 1.356 milhões e uma cobertura de 64,8%. Isto em Portugal. Em termos consolidados, o grupo CGD tem crédito em Stage 1 um total de 44.342 milhões de euros, o que representa 87,3% do total, havendo 210 milhões de euros de imparidades (0,5% de cobertura). Classificado em Stage 2 está um total de crédito de 4.022 milhões (7,9% do total da carteira), com 613 milhões de euros de imparidades e uma cobertura de 15,2%. Em Stage 3 está classificado 2.425  milhões de euros, o que pesa 4,8% do total da carteira de crédito, com 1.517 milhões de euros de imparidades constituídas e uma cobertura de 62,6%.

Em termos consolidados, do crédito em moratória, cerca de 70% não tem risco de incumprimento, disse a Caixa na apresentação de resultados.

Do crédito que está em moratória, classificado como Stage 1 está 4.197 milhões de euros, o que representa 68,8% do total do crédito em moratória, com imparidades de 50 milhões (cobertura de 1,2%). Em Stage 2 estão 1.448 milhões de euros de crédito bruto em moratória, o que representa 23,7% e para os quais há 149 milhões em imparidades (cobertura de 10,3%). Em Stage 3 estão apenas classificados créditos que em termos brutos somam 455 milhões de euros, ou seja 7,5% do crédito em moratória, com imparidades registadas de 254 milhões, ou seja uma cobertura de 55,8%.

A CGD disse que das 7.704 milhões de euros de moratórias concedidas, estão ativas 6.101 milhões, tendo o restante expirado.

Do crédito em moratória na CGD há 42% com hipoteca propriedade residencial e 18% com hipoteca propriedade comercial.

A CGD tem em 31 de janeiro de 2021 um total de crédito a particulares em moratória de 46.056 operações que totalizam 2.646 milhões de euros. Menos 8.044 operações e menos 417 milhões do que o registado em julho de 2020. No crédito a empresas há 21.014 operações em moratória que totalizam 3.346 milhões de euros, o que comparando com final de julho representa uma queda de 3.070 operações e menos 573 milhões de euros em moratória de crédito.

Em termos de percentagem da carteira de crédito, em moratória há 10,7% da carteira de crédito a particulares; 21,1% da carteira de crédito a empresas e 13,7% da carteira de crédito total.

Na conferência de imprensa de apresentação de resultados em que a CGD anunciou resultados de 492 milhões de euros no ano passado, menos 36,5% que em 2019, Paulo Macedo respondeu à questão do futuro plano estratégico para 2021 a 2024, que “está a ser elaborado” e será apresentado em maio.

A CGD cumpriu o plano estratégico em 2020, mas falhou nas metas de rentabilidade e eficiência. Questionado, Paulo Macedo admitiu que o resultado de 2021 seja pior do que o de 2020, dada a extensão dos vários confinamentos e redução das margens financeiras. A projeção para este ano ao nível da rentabilidade “é prudente”. Em relação ao cost-to-income “a Caixa fará o que todos os bancos fazem que é adaptar a estrutura de custos às receitas”, disse o CEO.

“Os clientes não querem pagar muitas comissões”, lamentou-se o banqueiro que lembrou que terá de adaptar a estrutura de custos às receitas. Recorde-se que em quatro anos, e tal como disse o Chairman da CGD, o banco cumpriu a meta do redimensionamento físico e humano, “ao encerrar 134 agências e reduzindo em menos 2.285 o número dos colaboradores”.

A digitalização é uma prioridade da CGD, voltou a anunciar o presidente da Caixa.

Questionado sobre a venda do banco no Brasil e em Cabo Verde, o presidente da CGD disse que quer retomar a venda do Banco Caixa Geral Brasil. O banqueiro disse que mantém-se o processo de venda do banco em Cabo Verde que foi iniciado em 2020.

A CGD quer fazer uma emissão de dívida subordinada que substitua os 500 milhões de euros emitidos a uma taxa de 10,75%. Essa é uma prioridade da administração do banco para o próximo ano.

Segundo as contas, no decurso do primeiro semestre de 2020, a CGD foi informada pelo Conselho Único de Resolução da revisão dos seus requisitos de MREL (Minimum Requirement for Own Funds and Eligible Liabilities).

A partir do dia 1 de janeiro de 2023, a CGD tem que deter um montante de fundos próprios e de passivos elegíveis de 10.508 milhões de euros, o equivalente a 12,78% do total de passivos e capitais próprios do seu Perímetro de Resolução, à data de 31 de dezembro de 2018.

Para cumprimento dos requisitos de MREL a CGD estima emitir aproximadamente 2 mil milhões de euros de passivos elegíveis em emissões de divida sénior preferencial e dívida sénior não preferencial até ao final de 2022. A execução deste plano de financiamento teve início em novembro de 2019 com a primeira emissão de dívida sénior não preferencial no valor de 500 milhões de euros. A decisão sobre o requisito de MREL é baseada na legislação atual e está sujeita a revisão pelo supervisor ao longo do tempo. Consequentemente, é expectável que a CGD receba uma nova revisão dos seus requisitos de MREL, já ao abrigo da nova Diretiva Europeia sobre Resolução Bancária (BRRD), durante o 1º semestre de 2021, pelo que poderá haver necessidade de ajustar o seu plano de financiamento.

Em termos de balanço do plano estratégico, a CGD revelou que a redução do risco em balanço era um dos objetivos e isso implicou a redução do Texas Ratio [Non Performing Exposure EBA / (Imparidade + Tangible Equity)]; a redução dos NPL e NPE; o aumento da cobertura por imparidades; a  redução dos ativos imobiliários, propriedades de investimento e fundos de restruturação; o aumento da dispersão setorial na carteira de crédito a empresas; a redução da exposição e concentração em single names (grandes devedores); a redução do custo do risco de crédito; a redução das operações de crédito alavancadas e a redução global dos loan-to-value na carteira de crédito à habitação.

A CGD durante estes quatro anos também simplificou a estrutura do Grupo, com ganhos de eficiência e redução de custos e tem hoje menos 44 entidades na consolidação.

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