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CEO da Medtronic Portugal: “Médicos e doentes já aderiram ao Dr. Google”

Luís Lopes Pereira explica que foi o fenómeno de empoderamento do paciente, em que os doentes estão mais informados por causa das plataformas digitais, que levou a um reposicionamento da marca de tecnologias da saúde.
6 Fevereiro 2022, 21h00

A empresa de dispositivos médicos norte-americana Medtronic vai ter 15 estudos clínicos a decorrer em Portugal, mas o diretor da subsidiária nacional lamenta a falta de incentivos, em entrevista ao JE. Luís Lopes Pereira elogia ainda o progresso no interesse tecnológico por parte dos próprios utentes. A multinacional septuagenária, que hoje tem mais de 90 mil colaboradores em 150 países, investiu globalmente 2,5 mil milhões de dólares (cerca de 2,2 mil milhões de euros) em investigação e desenvolvimento até abril, o que representa mais de 8% das vendas.

É um facto que o sector está a inovar. Mas a que escala?
Temos 50 mil patentes, das quais 10% foram adquiridas até ao ano passado. O mercado das tecnologias da saúde difere do mercado farmacêutico pela rapidez da inovação em si. É muito interessante para investir. A nossa indústria vem de todas as indústrias: os plásticos, os metais, a eletrotécnica. Temos estado a colaborar, por exemplo, com a indústria dos moldes, que em Portugal é muito boa – a terceira melhor da Europa e a oitava mundial – mas está muito dependente da indústria automóvel e acha que ao entrar na cadeia de valor dos dispositivos médicos melhora a sua diversificação. Temos tido alguns contactos com clusters e estamos a colaborar. Desde os anos 90 que a única maneira de as empresas portuguesas terem escala mundial é trabalharem em cluster.

Porque é que a Medtronic está a fazer um reposicionamento de marca?
É um objetivo de longo prazo. Embora sejamos uma empresa com a dimensão de muitas farmacêuticas não temos muitos produtos que cheguem ao cidadão comum, porque são utilizados nos hospitais e outros prestadores de cuidados de saúde. O que acreditamos é que no futuro, com este fenómeno do pacient empowerement (“empoderamento do paciente”), ou seja, a capacidade do doente não só de escolha como também de decidir sobre a sua saúde, o conhecimento das tecnologias e das marcas será mais importante. O cidadão cada vez mais participa na prevenção da sua saúde e tem de ter conhecimento das tecnologias que existem.

Qual é o nível de literacia dos portugueses nesta área?
Está a melhorar, porque o acesso à informação é cada vez maior e a qualidade da informação disponível também. Quando fazemos campanhas de literacia sobre fenómenos que acontecem nós notamos que as pessoas vão mais depressa ao hospital, porque percebem qual é o eventual problema que têm e tratam melhor a sua saúde. À medida que isso acontece, que fazem esse reconhecimento primeiro, mais eficazes se tornam as nossas tecnologias. É importante a literacia e o empoderamento do doente. Se há dez anos os médicos não gostavam do “Dr. Google” (pesquisar), e havia muita desinformação, neste momento está mais refinada. Os próprios médicos aderiram, quando antes tinham receio de falar do assunto. A nova geração de médicos adere imenso às plataformas digitais, redes sociais, por isso a informação sai mais dirigida e eficaz, do ponto de vista de aumentar o conhecimento.

O que faz falta em Portugal?
A investigação é quando se transforma dinheiro em conhecimento. A inovação é quando se transforma conhecimento em dinheiro. Nos próximos tempos, é preciso inovação a sério, que seja global. Em Portugal não temos muito incentivos para isso e não há uma relação ótima entre as empresas e as universidades e o Estado. Há muitas barreiras à investigação. De qualquer forma, da nossa parte, temos onze estudos clínicos a decorrer em Portugal e este ano vão entrar mais quatro. Portanto, vamos ter 15. É um número razoável, mas eu queria que fosse maior, porque temos capacidades de conhecimento e pessoas capazes muito maiores.

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