Os NFTs desportivos são os cromos da era digital. É um mercado que vale milhões de euros com as startups portuguesas na linha da frente, não só ao nível do apoio de grandes estrelas da Seleção como também no talento dos profissionais que trabalham estes produtos.
Fred Antunes, CEO da startup portuguesa RealFevr, destaca em entrevista ao JE a enorme oportunidade que este mercado representa: “aquilo que estamos a viver hoje foi o mesmo que experienciamos em 1997, 1998 e 1999 com o surgimento da Internet e da entrada deste produto em mainstream para o mundo inteiro”.
Os NFTs desportivos são os novos cromos?
Em termos práticos, aquilo que fazemos não é muito diferente de um negócio que já tem algumas décadas de história, especialmente em Portugal. Todos nós, temos ou tivemos contacto com o negócio das tradicionais saquetas de cromos que se transacionavam nos quiosques. O que fazemos não é mais do que transformar as saquetas de cromos físicas em digitais e em vez de saírem os tradicionais cromos apenas com um autocolante e uma fotografia, essas saquetas digitais quando são abertas, entregam momentos únicos de futebol aos utilizadores.
Quanto vale o NFT ‘unique’ do Bruno Fernandes?
Na nossa coleção de NFTs, colocámos um golo único do Bruno Fernandes ainda ao serviço do Sporting em Guimarães. Esse momento foi vendido logo no início por 90 mil dólares. Neste momento, o colecionador que o detém não o colocou novamente à venda mas podemos usar esse valor como referencial para outros momentos únicos mas lendários (não são 1 de 1 mas 1 de 50) para dizer que alguns NFT estão à venda por 1 milhão e 2 milhões de dólares”. Fred Antunes dá o exemplo de um NFT de CR7: “O 7 de 50 de Cristiano Ronaldo está a ser vendido por 2 milhões de dólares. Isto é muito importante porque quando temos o mercado secundário a funcionar, o valor dos itens estão relacionados com a regra da oferta e da procura. Se houver alguém que pague determinado valor por um item, essa é a avaliação do ativo. No caso do ‘unique’ do Bruno Fernandes, o referencial do ativo é de 90 mil dólares.
Como se destacam as empresas portuguesas neste mercado?
No que diz respeito à competitividade das empresas portuguesas neste mercado, diria que ainda é tudo bastante emergente, ou seja, na última década em Portugal existiram centenas de conferências, sempre a explicar para que é que a tecnologia blockchain poderia servir, quais seriam as aplicações práticas que poderia ter. Hoje, o que a RealFevr faz é criar um produto utilizando esta tecnologia, produto esse que se prova agora que tem altíssima procura e muito interesse. Percebemos que este tipo de produtos permite a internacionalização quase imediata de uma empresa portuguesa porque acabamos por conseguir vender para o mundo num espaço de poucos minutos sem ter de passar pelos processos de venda tradicionais, que muitas vezes tiram alguma agilidade a quem vende a partir de Portugal.
Como é que se avalia a recetividade deste tipo de produto?
Diria que neste momento está apenas no início. O que aconteceu connosco em termos de procura do nosso produto, irá acontecer mais vezes com outros players que irão entrar no mercado. A procura é cada vez maior porque a partir do momento em que a sociedade está cada vez mais digitalizada, e que a transformação digital não é apenas só uma ideia mas é de facto uma realidade (e considerando que as gerações mais novas são digitalmente nativas), este é um mercado que irá multiplicar-se por 30, 40 ou 50 vezes nos próximos anos. Diria que aquilo que estamos hoje a viver foi o mesmo que experienciámos em 1997, 1998 e 1999 com o surgimento da Internet e da entrada deste produto em mainstream para o mundo inteiro.
A procura por aquilo que designávamos por um “cromo raro” é fundamental para fazer crescer este mercado?
Diria que esse é um atributo crucial. Do ponto de vista da venda de um produto, temos um mercado primário e um mercado secundário. Aquilo que a criptoeconomia vem trazer de valor a este tipo de produto é exatamente o fomentar e o implementar do mercado secundário de uma forma muito mais atrativa, imediata e eficiente. Ou seja, o mercado secundário existe há várias décadas (veja-se o exemplo do Ebay, OLX), e portanto no negócio dos cromos mas também da filatelia por exemplo, os colecionadores tinham espaços para transação desses itens colecionáveis. Aquilo que a criptoeconomia e a tecnologia blockchain acaba por ser um enabler é de um mercado secundário B2B que funciona de uma forma muito mais prática uma vez que o ativo é exclusivamente digital. Em plataformas como o Ebay, por exemplo, o processo de compra de um cromo tangível, ou de outro bem colecionável, é muito mais demorado: temos que o pagar, esperamos que o operador logístico o entregue, recebemos e se quisermos vender novamente vai ser muito mais demorado. Na melhor das hipóteses, este é um processo que pode demorar 30 dias, o que significa que esse bem pode ser transacionado 12 ou 14 vezes por ano. No caso de um ativo digital como um NFT, este pode ser comprado e vendido centenas de vezes no mesmo dia. O que a tecnologia permite é ativar o mercado secundário para um ativo digital que na sua natureza pode ser comprado e vendido várias vezes por dia.
A questão do intangível não parece arrefecer este mercado, bem pelo contrário.
É uma questão perfeitamente ilusória e que o tempo irá garantir que deixará de ser tema. Isto é: se formos perceber a forma como hoje interagimos em sociedade, sobretudo no papel de consumidor, consumimos centenas de coisas que são digitais. Se olharmos para exemplos como o Spotify, o YouTube, a Netflix, toda esta dimensão digital não perde valor por ser digital. Estamos numa mudança de paradigma mas o facto destes itens serem digitais, até acaba por tornar o processo muito mais transparente. Com a tecnologia blockchain é possível saber quantas saquetas existem, quantos NFTs saíram em cada saqueta e se facto o ‘unique’ o é de facto.
Uma startup portuguesa como a RealFevr beneficia, em potencial, de poder estar mais próximo dos jogadores portugueses, sobretudo aqueles que se destacam internacionalmente?
É uma enorme vantagem. Qualquer startup que opere na área de sports tech como operamos e movimentando-se na área do futebol, Portugal, para a dimensão que tem, é, diria, um caso paradigmático de sucesso na exportação de talento no futebol onde temos alguns dos melhores jogadores do mundo. Além dos portugueses, temos futebolistas que jogaram na nossa Liga e se transformaram em grandes referências internacionais. É fantástico em termos de rating internacional o facto de Portugal ter ascendido às cinco ligas mais valiosas da Europa. Além disso, outra das vantagens que existem em Portugal é o talento profissional. Somos 52 profissionais na RealFevr e 95% são portugueses. Juntar aqui o talento tecnológico que temos em Portugal com o talento futebolístico foi uma das melhores decisões que tomámos. O ecossistema português é fantástico, as pessoas são muito unidas nesta área. Estas startups portuguesas ajudam-se muito umas às outras para fazer mais e melhor. Não temos uma Sillicon Valley aqui mas temos a paixão e a determinação com que fazemos as coisas.
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