Considerado um dos produtos mais inovadores lançados no mercado em Portugal e a nível global nos últimos anos, o mítico e mediático papel higiénico preto da portuguesa Renova surgiu “um pouco por acaso”, como admitiu ontem, dia 15 de janeiro, o CEO da empresa de Torres Novas, Paulo Pereira da Silva, numa palestra promovida pela revista ‘PME Magazine’ na Universidade Nova SBE, em Carcavelos.
“O papel higiénico preto é rentável, mas é pequena [a rentabilidade]. O mais importante é que nos abre as portas em tido o lado. Não houve um lançamento do papel higiénico preto, mas o produto estava feito. Só existia o preto. Ainda não havia as outras cores todas”, explica Paulo Pereira da Silva, explicando as origens históricas deste produto.
O CEO da Renova advertiu que “lançar um papel higiénico novo não interessa a ninguém, não interessa à imprensa”.
“Tenho muitas histórias tristes sobre a perceção péssima deste produto. Mas, de repente, o papel higiénico preto, foi um produto muito mediático. Aconteceu um pouco por acaso”, confidenciou o gestor.
Para Paulo Pereira da Silva, “temos de saber aproveitar o que nos acontece”.
“Sendo a Renova uma empresa pequena não posso contratar uma campanha à Beyoncé, mas se sei que ela usa produtos Renova, tenho de aproveitar isso, com imagens. Por isso, neste momento, o papel higiénico preto é um produto muito importante para nós, mas que não foi muito estudado. Depois, sim”, revelou.
Questionado pela audiência, este responsável assumiu que classifica os papéis higiénicos preto e a cores da Renova como um produto de luxo.
“O rolo de papel higiénico, eu considero que é um produto de luxo. Se eu consigo passar o preço de um rolo de papel higiénico de um preço médio de 10 cêntimos para seis euros, consigo aumentar em 60 vezes o seu preço final. Se isso, não é um luxo…”, defendeu o CEO da Renova.
Sobre as razões do crescente sucesso deste produto em diversos mercados internacionais, Paulo Pereira da Silva explicou: “acho que, cada vez mais, as coisas são iguais, acho que cada vez mais as pessoas têm necessidade de ter, de viver coisas diferentes, de optar pela disrupção”.
“O [papel higiénico] preto não o consigo dissociar dessa tendência. Há pessoas que o compram muito como uma oferta, um ‘gift’, o que remete muito para a parte emotiva. Não só no preto, como nos papéis higiénicos a cores. Depende muito de país para país. No Japão, por exemplo, a grande maioria das pessoas não convida as pessoas para jantarem em casa porque as casas não têm muito espaço e, por isso, os papéis higiénicos a cores são comprados principalmente como ‘gift’. Já no México, é o contrário do Japão. No México, há uma grande classe média a crescer, que gosta de ‘show off’ para as redes sociais, que gosta muito de cores. Depende muitos dos países, das culturas e das pessoas. Se falarmos só do papel higiénico preto, o ‘gift’ já é a principal motivação para a compra, mas isso também se deve ao facto de termos retirado este produto do grande consumo”, adiantou Paulo Pereira da Silva.
Relativamente às questões da sustentabilidade, o CEO da empresa sublinhou que “a Renova tem a ver com o Almonda”.
“O rio nasce dentro da fábrica. A relação com o rio foi muito importante desde o princípio. Mesmo que, se calhar, durante muitos anos poluísse o rio. Em termos de sustentabilidade, a primeira coisa que fizemos em 1986, 1987, com a entrada em vigor da lei das águas, em que havia um contrato-programa em que as empresas tinham vários anos para se adaptarem à legislação, nós passámos por cima disso e fizemo-lo imediatamente. Foi uma mudança de cultura, quando dissemos que se houvesse problemas com o rio as máquinas teriam de parar. A segunda coisa que fizemos nesta área tem a ver com algo que me é muito caro, que é a reciclagem de papel. Foi uma luta de muitos anos com as produtoras de pasta para lhes explicar que não fazia sentido usar fibras virgens num produtos final como o papel higiénico”, assinalou o gestor da produtora de papel ‘tissue’.
Segundo Paulo Pereira dsa Silva, “neste momento, o que posso dizer em termos de sustentabilidade é que são muitos caminhos que estamos a fazer”.
“A energia é uma coisa muito muito importante. O plástico, fomos a primeira empresa a adoptar embalagens de papel. Gostava que essa transição fosse mais rápida. Mas, a energia, para mim, é um problema enorme. Estamos com grandes projetos na energia solar”, garantiu este responsável, acrescentando que, “na Renova, gostamos muito de reutilizar, por exemplo, reutilizar os edifícios”.
“Acho que é muito importante usar o mínimo de recursos. Não tem de ser tudo novo. Apostamos no minimalismo. E reutilizar, reutilizar, reutilizar”, salientou Paulo Pereira da Silva.
“Acho que é um caminho que tem de ser percorrido, que não tem fim e que é muito exigente. Se me perguntam se estou satisfeito, não estou nada satisfeito”, admitiu.
Sobre o seu percurso, o CEO da Renova disse que descobriu a gestão por acaso: “vim da física, das ciências puras”.
“Quando aterrei na Renova, percebi que a empresa era muito fechada à realidade local, a empresa era mais internacional. Todos os dias, a Renova era visitada nas suas instalações por estrangeiros”, relembra.
O gestor aconselho que “há que ter a humildade que querer conhecer a realidade do que se faz de melhor lá fora, no nosso setor, mas não só”. E revelou: “fui muitas vezes expulso por tirar fotografias em supermercados, principalmente nos Estados Unidos, porque gosto de perceber o que é que leva uma pessoa a comprar, o que os move, como é que escolhem o que compram”.
“Fui e sou um grande leitor de clássicos. Os clássicos, para mim, são o Instagram das pessoas mais novas”, assinalou ainda.
Sobre ser empresário em Portugal, Paulo Pereira da Silva entende que “reveste algo de heroicidade”.
“Quando comecei a trabalhar na Renova, toda a gente queria trabalhar numa multinacional. Ser empresário demora tempo, erra-se sempre. Acho que nunca tive um projeto que me tenha saído bem à primeira”, conmfessou o CEO da Renova, ressalvando que, em termos mais gerais, “a certa altura, em Portugal houve muitos apoios à indústria, mas principalmente para máquinas e equipamentos, sem ter muita atenção à venda”.
“A mudança esta a acontecer, mas isso exige sacrifícios, trocar o curto prazo pelo médio e longo prazos. Também é preciso ver que se se investir muito em ‘marketing’, criamos dívidas grandes e as empresas passam a ser geridas pelos bancos. É preciso passar pelo desconforto, arriscar, e arriscar pode não ser só valores. Quando se está a investir em equipamentos está-se a arriscar muito. E em Portugal, somos sempre um mercado pequeno, com ou sem crise. O facto de os nossos vizinhos serem imensos em dimensão exige algum músculo para estarmos presentes no mercado. E não posso estar presente só num supermercado, tenho que estar presente em todas as cadeias”, alertou Paulo Pereira da Silva.
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