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CEO da Renova admite: “o papel higiénico preto surgiu um pouco por acaso”

Paulo Pereira da Silva considera que os papéis higiénicos preto e a cores introduzidos nos mercados globais pela produtora de papel ‘tissue’ de Torres Novas devem ser considerados como produtos de luxo.
16 Janeiro 2020, 07h35

Considerado um dos produtos mais inovadores lançados no mercado em Portugal e a nível global nos últimos anos, o mítico e mediático papel higiénico preto da portuguesa Renova surgiu “um pouco por acaso”, como admitiu ontem, dia 15 de janeiro, o CEO da empresa de Torres Novas, Paulo Pereira da Silva, numa palestra promovida pela revista ‘PME Magazine’ na Universidade Nova SBE, em Carcavelos.

“O papel higiénico preto é rentável, mas é pequena [a rentabilidade]. O mais importante é que nos abre as portas em tido o lado. Não houve um lançamento do papel higiénico preto, mas o produto estava feito. Só existia o preto. Ainda não havia as outras cores todas”, explica Paulo Pereira da Silva, explicando as origens históricas deste produto.

O CEO da Renova advertiu que “lançar um papel higiénico novo não interessa a ninguém, não interessa à imprensa”.

“Tenho muitas histórias tristes sobre a perceção péssima deste produto. Mas, de repente, o papel higiénico preto, foi um produto muito mediático. Aconteceu um pouco por acaso”, confidenciou o gestor.

Para Paulo Pereira da Silva, “temos de saber aproveitar o que nos acontece”.

“Sendo a Renova uma empresa pequena não posso contratar uma campanha à Beyoncé, mas se sei que ela usa produtos Renova, tenho de aproveitar isso, com imagens. Por isso, neste momento, o papel higiénico preto é um produto muito importante para nós, mas que não foi muito estudado. Depois, sim”, revelou.

Questionado pela audiência, este responsável assumiu que classifica os papéis higiénicos preto e a cores da Renova como um produto de luxo.

“O rolo de papel higiénico, eu considero que é um produto de luxo. Se eu consigo passar o preço de um rolo de papel higiénico de um preço médio de 10 cêntimos para seis euros, consigo aumentar em 60 vezes o seu preço final. Se isso, não é um luxo…”, defendeu o CEO da Renova.

Sobre as razões do crescente sucesso deste produto em diversos mercados internacionais, Paulo Pereira da Silva explicou: “acho que, cada vez mais, as coisas são iguais, acho que cada vez mais as pessoas têm necessidade de ter, de viver coisas diferentes, de optar pela disrupção”.

“O [papel higiénico] preto não o consigo dissociar dessa tendência. Há pessoas que o compram muito como uma oferta, um ‘gift’,  o que remete muito para a parte emotiva. Não só no preto, como nos papéis higiénicos a cores. Depende muito de país para país. No Japão, por exemplo, a grande maioria das pessoas não convida as pessoas para jantarem em casa porque as casas não têm muito espaço e, por isso, os papéis higiénicos a cores são comprados principalmente como ‘gift’. Já no México, é o contrário do Japão. No México, há uma grande classe média a crescer, que gosta de ‘show off’ para as redes sociais, que gosta muito de cores. Depende muitos dos países, das culturas e das pessoas. Se falarmos só do papel higiénico preto, o ‘gift’ já é a principal motivação para a compra, mas isso também se deve ao facto de termos retirado este produto do grande consumo”, adiantou Paulo Pereira da Silva.

Relativamente às questões da sustentabilidade, o CEO da empresa sublinhou que “a Renova tem a ver com o Almonda”.

“O rio nasce dentro da fábrica. A relação com o rio foi muito importante desde o princípio. Mesmo que, se calhar, durante muitos anos poluísse o rio. Em termos de sustentabilidade, a primeira coisa que fizemos em 1986, 1987, com a entrada em vigor da lei das águas, em que havia um contrato-programa em que as empresas tinham vários anos para se adaptarem à legislação, nós passámos por cima disso e fizemo-lo imediatamente. Foi uma mudança de cultura, quando dissemos que se houvesse problemas com o rio as máquinas teriam de parar. A segunda coisa que fizemos nesta área tem a ver com algo que me é muito caro, que é a reciclagem de papel. Foi uma luta de muitos anos com as produtoras de pasta para lhes explicar que não fazia sentido usar fibras virgens num produtos final como o papel higiénico”, assinalou o gestor da produtora de papel ‘tissue’.

Segundo Paulo Pereira dsa Silva, “neste momento, o que posso dizer em termos de sustentabilidade é que são muitos caminhos que estamos a fazer”.

“A energia é uma coisa muito muito importante. O plástico, fomos a primeira empresa a adoptar embalagens de papel. Gostava que essa transição fosse mais rápida. Mas, a energia, para mim, é um problema enorme. Estamos com grandes projetos na energia solar”, garantiu este responsável, acrescentando que, “na Renova, gostamos muito de reutilizar, por exemplo, reutilizar os edifícios”.

“Acho que é muito importante usar o mínimo de recursos. Não tem de ser tudo novo. Apostamos no minimalismo. E reutilizar, reutilizar, reutilizar”, salientou Paulo Pereira da Silva.

“Acho que é um caminho que tem de ser percorrido, que não tem fim e que é muito exigente. Se me perguntam se estou satisfeito, não estou nada satisfeito”, admitiu.

Sobre o seu percurso, o CEO da Renova disse que descobriu a gestão por acaso: “vim da física, das ciências puras”.

“Quando aterrei na Renova, percebi que a empresa era muito fechada à realidade local, a empresa era mais internacional. Todos os dias, a Renova era visitada nas suas instalações por estrangeiros”, relembra.

O gestor aconselho que “há que ter a humildade que querer conhecer a realidade do que se faz de melhor lá fora, no nosso setor, mas não só”. E revelou: “fui muitas vezes expulso por tirar fotografias em supermercados, principalmente nos Estados Unidos, porque gosto de perceber o que é que leva uma pessoa a comprar, o que os move, como é que escolhem o que compram”.

“Fui e sou um grande leitor de clássicos. Os clássicos, para mim, são o Instagram das pessoas mais novas”, assinalou ainda.

Sobre ser empresário em Portugal, Paulo Pereira da Silva entende que “reveste algo de heroicidade”.

“Quando comecei a trabalhar na Renova, toda a gente queria trabalhar numa multinacional. Ser empresário demora tempo, erra-se sempre. Acho que nunca tive um projeto que me tenha saído bem à primeira”, conmfessou o CEO da Renova, ressalvando que, em termos mais gerais, “a certa altura, em Portugal houve muitos apoios à indústria, mas principalmente para máquinas e equipamentos, sem ter muita atenção à venda”.

“A mudança esta a acontecer, mas isso exige sacrifícios, trocar o curto prazo pelo médio e longo prazos. Também é preciso ver que se se investir muito em ‘marketing’, criamos dívidas grandes e as empresas passam a ser geridas pelos bancos. É preciso passar pelo desconforto, arriscar, e arriscar pode não ser só valores. Quando se está a investir em equipamentos está-se a arriscar muito. E em Portugal, somos sempre um mercado pequeno, com ou sem crise. O facto de os nossos vizinhos serem imensos em dimensão exige algum músculo para estarmos presentes no mercado. E não posso estar presente só num supermercado, tenho que estar presente em todas as cadeias”, alertou Paulo Pereira da Silva.

 

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