[weglot_switcher]

CEO da Swappie: “65% dos portugueses têm telemóveis antigos nas gavetas”

O empreendedor finlandês Sami Marttinen recordou ao Jornal Económico, na Web Summit em Lisboa, que criou uma das startups com crescimento mais rápido da Europa “na cave de casa com as poupanças”.
8 Novembro 2022, 17h20

O CEO e cofundador da Swappie, a empresa especializada em smartphones em segunda mão, falou com o Jornal Económico na última edição da Web Summit, que terminou na sexta-feira. O empreendedor de Helsínquia Sami Marttinen contou como há pouco mais de quatro anos vendeu a startup Viking Shave Club para se dedicar de corpo, alma e cofres aos iPhones recondicionados. Sami Marttinen garante que a tecnológica vai continuar a investir em Portugal, até porque a maioria dos consumidores ainda gosta de ter telemóveis de reserva nos armários em vez de fazer negócio com eles.

O que acha da Web Summit?

O recinto parece-me muito bem, porque é fácil deslocar-nos e está tudo muito organizado. Já fui voluntário em eventos semelhantes, mas na altura era um pouco diferente. Na quinta-feira, como orador, falei de como estamos a transformar os hábitos de consumo no mercado da segunda mão, como os negócios podem fazer escolhas mais responsáveis, o nosso relatório ambiental que saiu recentemente e alguns tópicos pessoais sobre mim, a Swappie e a indústria em geral.

Calculo que ainda se lembre de quando estava no lugar de muitos destes empreendedores…

Não foi assim há tanto tempo. Há quatro anos, em janeiro de 2018, éramos apenas quatro pessoas e tínhamos acabado de conseguir a nossa primeira ronda de investimento. Isto aconteceu tudo muito rápido e o crescimento foi muito grande neste período. Foi muito interessante para mim. Na verdade, lembro-me de, há quatro anos e meio, estar muito nervoso. O nosso início se calhar até foi um bocadinho diferente, porque não estávamos propriamente há procura de investimento. Basicamente, quando fundámos a Swappie vendemos o nosso antigo com o intuito de investir o dinheiro nesse novo. Acreditávamos muito nesta missão sustentável que tínhamos, apercebemo-nos do tamanho do problema, de que o desperdício eletrónico era dos mais desperdícios do mundo e do quão grande era o gap de qualidade e confiança no mercado e pensámos: “Vamo-nos deixar tudo para trás, vender a outra empresa e focar-nos a 100% isto”. Criámos a Swappie na cave de casa com as nossas poupanças.

Criámos a Swappie na cave de casa com as nossas poupanças

Tiveram apoio da Finlândia?

Sim. Há algum apoio do Estado finlandês para programas de early-stage do Governo com tickets de inovação. Os auxílios, que incluem inovações de produto, investigação e desenvolvimento, ajudam definitivamente a crescer nos primeiros anos. Não se pode é depender totalmente destes apoios. É claro que precisas de ter um plano muito sólido e investidores que financiem porque vão procurar referências.

Em fevereiro, anunciaram uma ronda de financiamento série C de 108 milhões de euros. Qual é o plano agora?

A situação económica está um bocadinho diferente e claro que nenhuma empresa é imune, mas temos estado a seguir o plano, operando mais a nível local nos mercados europeus. Por exemplo, no que diz respeito a Portugal estamos a localizar as opções de transporte e de pagamentos, tornar a categoria mais acessível e expandir a pegada atual que temos. Em geral, a empresa está mais focada na rentabilidade e menos crescimento agressivo, porque com o clima económico atual em que estamos, de aumento da inflação e de subida das taxas de juro, precisamos de um caminho mais autossuficiente para seguir em frente.

Provavelmente, mais cedo ou mais tarde, seremos um unicórnio

Segundo a TradingPlatforms, são uma das startups com maior crescimento na Europa este ano. Como é explicam esse resultado?

É uma boa questão. Diria que tenho de agradecer muito à maravilhosa equipa que temos. Claro que tivemos sorte em relação aos timings. Quando começámos apenas 5% da população na Europa comprava telemóveis usados ou recondicionados e assim que nos apercebemos da diferença em termos de confiança e qualidade no mercado atuámos rápido até ao primeiro investimento. Acho que se tu encontrares um mercado assim tão mal servido, que não responda aos problemas aos consumidores, deves centrar-te numa categoria como nós fizemos com os iPhones. Ou seja, em vez de serem só “ok” em múltiplas categorias ser mesmo bons apenas numa.

A Swappie vai ser um unicórnio? Ou melhor: quando é a Swappie será um unicórnio?

Provavelmente, será mais cedo ou mais tarde. Tenho a dizer que o nosso sucesso se deve a colocar o cliente no centro. Por exemplo, quando entrámos em Portugal no verão de 2020 nós chamámos os nossos primeiros 100 clientes para perceber quais as barreiras de confiança que têm. Costumamos fazê-lo quando entramos num novo mercado. Por cá, é muito difícil para as pessoas perceberem a diferença de usado, reutilizado, recondicionado, onde encontram equipamentos confiáveis. Mais: 65% da população portuguesa mantém os telemóveis antigos nas gavetas. Estamos a trabalhar nisso, para que seja mais fácil as pessoas fazerem negócio com os seus próprios equipamentos eletrónicos, venderem online a um bom preço. Queremos fechar esse ciclo.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.