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Chairman da Transfor: “Construção nacional não está preparada para todos os investimentos que se anunciam”

“Se apenas 20% do que anunciam tiver de ser feito, o sector não esta preparado. Temos de começar hoje a transformar o sector e melhorar o que há a melhorar” para vir a ter essa capacidade, disse Tiago Marto.
28 Novembro 2023, 11h49

O fundador e chairman do Grupo Transfor, Tiago Marto, afirmou hoje que o sector da construção em Portugal “não está preparado” para todos os projetos de investimento em obra e renováveis que se perspetiva para o país. Aliás, mesmo que se concretizem apenas um quinto do que está anunciado, o sector da construção não terá condições de o cumprir.

“Se apenas 20% do que anunciam tiver de ser feito, o sector não esta preparado. Temos de começar hoje a transformar o sector e melhorar o que há a melhorar” para vir a ter essa capacidade, seja na área digital, em IT, ou outras, disse o responsável da construtora no decorrer da Conferência Forma Futura, que se realiza hoje em Leiria, e que tem o Jornal Económico como parceiro.

Tiago Marto foi questionado sobre uma análise da consultora Mckenzie, que considerou que os recursos naturais de Portugal e Espanha colocam os dois países na dianteira para atrair investimento nas energias renováveis, mas também nas indústrias intensivas em carbono, como o aço e alumínio. “Portugal e Espanha têm vantagens competitivas que os tornam capazes de liderar a transformação industrial pela primeira vez em muitos anos”, indicou o managing partner da McKinsey para a Península Ibérica, José Pimenta da Gama. Segundo a consultora, o valor deste investimento pode chegar aos 200 mil milhões até 2030.

“Em conclusão: não acho que exista capacidade para produzir o que se anuncia”, sentenciou Tiago Marto, salientando porém que muito do que resulta desses anúncios de investimento “são apenas indicações muito macro” que depois não se traduzem na economia real.

Sobre a situação atual da construção, o chairman da Transfor realçou que “os preços das construção estão a elevar-se dia após dia, porque a oferta é muito superior à procura”. Ou seja, salientou, é preciso “reforçar a capacidade de produção e atrair novas pessoas para o sector”.

E, nesse capítulo, revelou que os salários na construção são muito acima do que as pessoas habitualmente pensam. “Hoje em dia o sector é muito, muito bem pago. Também pagamos demais a pessoas que não o merecem, porque não há outras [para a tarefa]”, sublinhou. Mas revelou que as pessoas não têm noção, mas “há encarregados de construção que ganham acima de 5 mil euros”, algo que ainda assim não se compara com os salários que se pagam para a mesma função noutras geografias.

“Um bom projeto faz uma obra concluída a tempo e dentro do orçamento”

Já numa segunda ronda de perguntas, Tiago Marto foi questionado sobre as derrapagens nos projetos, quer em tempo, quer em custo. “Porque razão um McDonalds e um Continente são construídos sempre a tempo e dentro do orçamento e outras obras não”, perguntou Filipe Alves, diretor do Jornal Económico e moderador do painel em que falava o chairman da Transfor.

 “A meu ver existe desde logo uma lacuna: os bons projetos fazem as boas obras. Ou seja, quando existe uma boa base para os profissionais que vão agarrar na obra. E nem sempre é dado esse tempo aos projetistas” para que o empreendimento arranque em cima dessa boa base, começou por explicar Tiago Marto.

Por outro lado, salientou, “nem sempre os promotores tem experiência suficiente para liderar um projeto do princípio ao fim. Num grande empreendimento há inúmeras dificuldades em saber o que fazer, em saber o que mandar fazer. Pelo que há perdas de eficiencia enorme e os prazos derrapam”, completou.

Nos casos citados na pergunta, disse Tiago Marto, há “um trabalho correto de A a Z”, porque os projetos “estão absolutamente estabilizados, pensados e o cliente tem muito bem presente o que quer, o deadline e o budget a cumprir”, disse o chairman da Transfor, que não se furtou a assumir “culpas próprias” em alguns casos.

“Também assumimos a nossa nota de culpa. Por vezes temos muitas dificuldades, mas quando a base não é boa… Na minha opinião, isto resolve-se pagando mais, fazendo mais investimento ao nível do projeto para que a base seja boa”, concluiu.

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